Após quase um ano do terremoto, governo prevê início da reconstrução do Haiti para março de 2011
Com mais de 1,5 milhão de pessoas morando em barracas há quase um ano, o governo ainda não começou a construção das mais de 58 mil casas completamente destruídas pelo terremoto que devastou o Haiti, em 12 de janeiro. As informações são do ministro do Trabalho Público, Transportes e Comunicações, Jacques Gabriel. A previsão é de que elas só comecem a sair do papel em março de 2011.
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A reconstrução do Haiti está prevista em US$ 9,9 bilhões. Desse total, estima-se que pouco menos de US$ 1 bilhão já devem ter sido liberados. A lentidão na liberação dos recursos é vista como natural pelo ministro Jacques Gabriel. “Não acho que há demora. O que existe é um processo burocrático necessário para um volume tão grande de recursos”, afirmou Gabriel em entrevista ao UOL Notícias em Porto Príncipe. “Não estamos falando de alguns milhares de dólares. Estamos falando de bilhões de dólares”, disse.
O clima de improviso que tomou o governo haitiano é visível. O gabinete de Jacques Gabriel, que ocupa a pasta equivalente aos Ministérios dos Transportes e Telecomunicações no Brasil, não passa de um escritório com pouco mais de cinco metros quadrados repleto de caixas de papelão, pastas, arquivos desarrumados e quadros repletos de poeira. “O prédio em que o nosso ministério funcionava ficou completamente destruído. Estamos trabalhando em um prédio provisório há quase um ano. Não estávamos preparados para um desastre dessas proporções e levamos muito tempo para avaliar a situação dos prédios atingidos”, explicou o ministro.
Gabriel explica que o primeiro projeto que prevê a construção de casas populares às vítimas do terremoto deve começar em março de 2011 e vai custar em torno de R$ 20 milhões. O ministro não disse, porém, quantas casas serão erguidas. “Ainda estamos fazendo os estudos”, disse.
Segundo ele, a demora na reconstrução de casas no Haiti se deve às dimensões dos danos que o terremoto causou em toda a estrutura governamental. O último levantamento feito pelo governo haitiano em cooperação com o Escritório das Nações Unidas para Projetos e Serviços (Unops) indica que 389.175 construções foram afetadas pelo terreno. Desse total, 277.497 são construções residenciais e aproximadamente 46% delas estão completamente ou parcialmente destruídas.
Enquanto o governo não começa a reconstruir o país, organizações não-governamentais, de forma isolada, executam projetos paliativos. Um deles é a construção de casas feitas com tábuas de compensado e telhado de zinco em áreas onde antes havia barracas. No campo conhecido como Terrain Toto, mais de 50 famílias já estão vivendo em construções como essas, executadas com ajuda da Catholic Relief Services (CRS), entidade ligada à Igreja Católica. As casas têm caráter provisório, explica Adam Claudy, estudante que perdeu sua casa e agora comanda o centro comunitário do campo. “Isto aqui é só até o governo construir as casas. O problema é que está demorando muito”, reclamou Claudy.
Quem também acha que o governo está demorando demais para iniciar a reconstrução do país é a dona-de-casa Jacqueline Estime, 56, que, antes do terremoto, vivia em uma casa pequena na cidade de Delmas, na região metropolitana de Porto Príncipe. Morava em uma barraca de lona até que, há dois meses, foi remanejada para uma dessas casas de compensado. “Isso não pode ser para sempre. A casa é melhor que minha barraca de lona, mas quando chove, a água entra pelo chão e a madeira fica toda empenada. Precisamos é de casas novas”, queixou-se.
Hospital aos pedaços
A demora na reconstrução do país não se restringe apenas às casas populares. Setores importantes como a saúde pública também estão há quase um ano convivendo com os prejuízos causados pelo terremoto. Com mais de 60% de sua estrutura afetada, o Centro Médico de Porto Príncipe, o maior hospital do país, só deve começar a ser reconstruído em janeiro do ano que vem.
Caminhando pelas alamedas do Centro, a impressão que se tem é de que o Haiti está em guerra. Tendas cinzas estão montadas em praticamente todos os espaços vagos. São leitos móveis que, quase um ano depois, continuam funcionando em caráter “provisório”. As paredes do prédio construído na década de 20 seguem rachadas. Alguns pavilhões estão isolados sob risco eminente de desabarem.
A epidemia de cólera que já matou 2,5 mil pessoas nos últimos três meses piorou ainda mais a situação do Centro. Na entrada do setor de emergência, pacientes com sintomas da doença esperam deitados em macas colocadas no chão. O soro fisiológico, fundamental à recuperação nesses casos, é mantido no alto por parentes que seguram o frasco.
O diretor do hospital, Alix Lassègue, disse que a reconstrução vai custar US$ 55 milhões financiados pelos governos da França, dos EUA e do Haiti. “Estamos só aguardando a liberação dos recursos. O nosso projeto já está pronto. Se Deus quiser, em janeiro as obras começa”, disse Lassègue.
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