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Em Londres, Uribe critica Lula e pede mudança na política externa de Dilma com a Venezuela

Fernanda Calgaro

Especial para o UOL Notícias, em Londres

23/05/2011 19h41

O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, que ficou no poder de 2002 a 2010, fez críticas nesta segunda-feira (23) à política externa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à Venezuela e disse esperar uma mudança de caminho por parte do governo Dilma.

"Com todo o respeito e a minha admiração ao Lula, discordo de alguns pontos da sua política internacional. Por exemplo, em relação ao esconderijo de terroristas colombianos na Venezuela e no Equador. Estou confiante de que a presidente Dilma [Rousseff] vai repensar [sobre esse posicionamento]", disse.

Durante a gestão de Uribe, a relação da Colômbia com estes dois países ficou bastante estremecida. A Colômbia fez reiteradas acusações contra a Venezuela por supostamente abrigar acampamentos de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em seu território. O presidente venezuelano, Hugo Chávez, sempre negou as acusações, e as relações diplomáticas entre os dois países chegaram a ser cortadas. Para Chávez, as acusações eram uma desculpa para uma intervenção militar da Colômbia, que, a seu ver, é aliada dos Estados Unidos.

Uribe participou nesta segunda-feira de uma palestra na capital inglesa, promovida pela London School of Economics, da Universidade de Londres. Logo no início, causou surpresa no público e no organizador do debate ao deixar de lado o discurso que havia preparado sobre "os três pilares de sucesso do seu governo" (segurança, investimento e coesão social) e abriu espaço para responder a perguntas da plateia.

Enquanto isso, do lado de fora da faculdade, dezenas de manifestantes munidos de cartazes e alto-falantes gritavam palavras de ordem contra Uribe, acusando-o de assassino e infrator dos direitos humanos, em referência à ação de grupos paramilitares em seu país, acusados de promover matanças indiscriminadas.

Na palestra, Uribe chegou a ser indagado sobre esse assunto. "Os paramilitares não fazem parte do governo. Meu país tem que lutar com todas as forças contra eles. Não podemos dizer que o Exercito está em conluio com eles. Não podemos culpar a instituição por esses crimes, mas os indivíduos. (...) Durante o meu governo, fiz o meu melhor para combater os paramilitares e o narcotráfico." Duas estudantes colombianas que tentaram fazer um protesto dentro do auditório com cartazes tiveram de deixar o local.

O ex-presidente colombiano também fez comentários sobre a polêmica operação militar que comandou contra guerrilheiros das Farc em território equatoriano, em 2008. A ação foi duramente criticada pela comunidade internacional. "Bombardeamos o Equador porque foi necessário. Membros das Farc estavam ali no Equador, cruzaram a fronteira e mataram soldados colombianos."

  • Fernanda Calgaro/UOL

    Manifestantes protestam contra o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, em Londres

Uribe também voltou a fazer críticas à declaração do atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que foi ministro da Defesa no seu governo, sobre a existência de um "conflito armado interno" na Colômbia, numa referência ao narcotráfico. Uribe se refere aos grupos armados como "terroristas" e "organizações criminais" e disse que a medida poderia dar legitimidade às Farc.

Indagado sobre o que pensava a respeito do governo de Dilma Rousseff, Uribe começou sua resposta com um elogio ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Tenho grande admiração pelo ex-presidente Cardoso. A política social que foi implementada com sucesso no Brasil há anos e que teve continuidade com Lula, foi concebida por Cardoso. Foi possível graças a ele e à política econômica da época. A presidente Dilma quer continuar com a política. Com o presidente Lula nós conseguimos avançar muito na integração das economias sul-americanas. E a presidente Dilma tem a mesma vontade", disse.

Lula chegou a declarar que a crise diplomática entre Bogotá e Caracas, no meio do ano passado, seria um mero "conflito verbal". Em um comunicado, o governo colombiano criticou a atitude de Lula, que estaria ignorando a ameaça que as Farc representariam ao continente.

O ex-presidente brasileiro também nunca chegou a fazer uma condenação direta às Farc. Somente após a posse do atual presidente colombiano, Juan Manuel Santos, Lula criticou ações terroristas como instrumento de luta política, mas não fez menção às Farc ou ao ELN (Exército da Libertação Nacional), outro grupo guerrilheiro em atividade na Colômbia.