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Para especialista, queda do AF 447 se deve mais a falta de treinamento do que a erro humano

Fabiana Nanô

UOL Notícias, em São Paulo

29/07/2011 18h07Atualizada em 05/07/2012 09h02

“Erro acontece quando você é treinado para se comportar de uma maneira, e se comporta de outra. Os pilotos não haviam recebido treinamento, e isso é grave em aviação. O relatório admite essa falta de instrução, e não que os pilotos erraram.” A opinião é de Jorge Barros, consultor aeronáutico, em relação à divulgação do terceiro relatório parcial sobre o acidente com o jato Airbus 330 que fazia o voo 447 da Air France e caiu no oceano Atlântico em junho de 2009.

Segundo o especialista, que é ex-piloto de linha aérea e da Força Aérea Brasileira (FAB), o documento aponta que “os pilotos não tiveram os avisos corretos para concluir o que estava acontecendo com o avião, pois os instrumentos deram pane”.

Há ênfase em dois aspectos, de acordo com Barros. “Melhoria e treinamento. O relatório está focado no mau funcionamento do avião e na falta de treinamento dos pilotos para lidar com este tipo de situação. A falha é da companhia aérea e da fabricante de aeronaves.”

Nesse sentido, Barros discorda da suspeita de erro dos pilotos. “A técnica de culpar o piloto é vil, mas tradicional, pois ninguém precisa se movimentar. O problema, no entanto, permanece latente”, conclui.

O relatório

Ao divulgar o documento nesta sexta, Jean-Paul Troadec, chefe do Escritório de Investigações e Análise (BEA, na sigla em francês), órgão oficial francês encarregado das investigações do acidente, afirmou que a situação era “salvável” se os pilotos tivessem tomado as atitudes certas.

O relatório [leia a íntegra aqui] revela que os pilotos não adotaram o procedimento adequado após os primeiros problemas detectados durante o voo: perda de indicadores de velocidade e perda de sustentação da aeronave.

"Os pilotos não identificaram a situação de perda de sustentação", apesar do alarme sonoro que se ativou durante 54 segundos, diz o relatório. O documento afirma ainda que eles não aplicaram o procedimento necessário após o congelamento das sondas (sensores de velocidade) pitot, o que provocou a perda dos indicadores de velocidade.

O BEA informou que os comandantes da aeronave "não receberam treinamento sobre os procedimentos adequados a serem tomados em grandes altitudes".

Entre outras constatações, o texto revela também que o comandante da aeronave foi descansar às 2h da madrugada sem deixar "claras recomendações" aos dois copilotos que ficaram no controle do Airbus e que a tripulação não avisou os passageiros dos problemas que a cabine enfrentava.

A Air France assegura que "nada permite colocar no banco dos réus as competências técnicas da tripulação" do voo, que saiu do Rio de Janeiro em direção a Paris.

As associações de parentes das 228 vítimas do acidente, por sua vez, repudiaram o relatório do BEA.