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Mãe de jornalista morta na Síria diz que ela deixaria o país nos próximos dias; autoridades condenam violência

Do UOL, em São Paulo

22/02/2012 19h26Atualizada em 22/02/2012 20h27

A mãe da jornalista Marie Colvin, 55, morta em uma explosão na cidade de Homs, na Síria, nesta quarta-feira, estava prestes a deixar o país, segundo contou sua própria mãe em entrevista à Associated Press.

Rosemarie Colvin recebeu jornalistas em sua casa em Nova York para falar do trabalho da filha, renomada correspondente de guerra que atualmente trabalhava no The Sunday Times.

"Eu tenho certeza que ela morreu fazendo o que queria. Ela era totalmente comprometida com o que fazia", disse Rosemarie. "Ela cresceu em um tempo em que muitas coisas estavam acontecendo com relação aos direitos civis e às mulheres. Nos todos éramos ativistas, na família", completou ela.

"Tudo é diferente agora. Geralmente eu sabia o que acontecia apenas depois que ela voltava, mas agora eu acompanhava tudo, sabia o perigo que ela corria", declarou a mãe da jornalista.

Ainda segundo Rosemarie, o editor de Marie, John Witherow, falou com a jornalista um dia antes de sua morte e disse que era hora de voltar pois a situação "estava mais perigosa do que nunca". "Ela disse a ele que estava trabalhando em uma história muito importante e que precisaria de mais um dia. E isso é tão triste porque... foi por um dia", disse ela emocionada.

"Colvin era muito mais que uma repórter. Ela era uma mulher com muita alegria de viver, cheia de humor e rodeada de amigos", disse John à CNN. Também à rede americana, o empresário Rupert Murdoch, dono do jornal The Sunday Times, para o qual Colvin trabalhava, disse que a repórter "colocou sua vida em risco em diversas ocasiões porque era guiada pela determinação de que o abuso dos tiranos e o sofrimento das vítimas não podiam deixar de ser noticiados".

Após a notícia da morte da jornalista o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido convocou para consultas o embaixador da Síria em Londres, Sami Khiyami, mesma atitude do Ministério das Relações Exteriores da França, que convocou a representante diplomática síria em Paris pela morte do fotógrafo francês Rémi Ochlik. Ele e Marie foram vítimas de um bombardeio ao prédio onde funcionava o centro de imprensa, no bairro de Baba Amr, em Homs. Outros quatro repórteres ficaram feridos.

Por ordem do chanceler britânico, William Hague, o embaixador sírio se reuniu com Geoffrey Adams, responsável de Política do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, que em comunicado condenou "a contínua e inaceitável violência em Homs".

O governo dos Estados Unidos também se manifestou e condenou a "brutalidade" do regime sírio por meio do porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. 

A União Europeia também condenou a violência na cidade síria por meio da  alta representante de Política Externa e Segurança Comum da União Europeia, Catherine Ashton. "Não encontro as palavras adequadas para condenar (o ocorrido)", disse ela, ao ressaltar que Assad "não se importa de matar seu próprio povo", por isso, "deve renunciar".

Últimos depoimentos

Nascida nos Estados Unidos, Colvin se estabeleceu em Londres e cobriu durante sua carreira de 30 anos alguns dos conflitos mais sangrentos do mundo, entre eles a Primavera Árabe a partir de Tunísia, Egito e Líbia.

Em seus últimos relatos direto de Homs, registrados poucas horas antes de sua morte, ela descreveu a morte de um menino de dois anos após ferimentos de estilhaços. "Assisti um pequeno bebê morrer hoje. Absolutamente terrível", disse à BBC por telefone.

Colvin também falou à ITV britânica e ao Channel 4, além da CNN americana na terça-feira para descrever as cenas de horror em Homs, que tem sido atacada pelas forças do regime de Bashar al-Assad. A determinação de Colvin para contar as histórias de pessoas envolvidas no conflito a levavam há muito tempo ao coração do perigo.

O tapa-olho que ela utilizava era resultado de um ferimento por estilhaços que ela sofreu enquanto cobria a guerra civil no Sri Lanka em 2001, e que lhe tirou a visão de um olho.

Depois de uma temporada de dois anos como chefe do escritório de Paris da agência United Press International, ela se juntou ao Sunday Times como correspondente para o Oriente Médio em 1986.

Colvin tinha consciência dos riscos que corria em sua profissão, conforme afirmou em um discurso em novembro de 2010 lembrado nesta quarta-feira pelo The Times.

"Nossa missão é informar sobre estes horrores de guerra com precisão e sem preconceito", disse. "Nós sempre temos que nos perguntar se o nível de risco vale a história. O que é bravura, e o que é bravata?".

"Nunca foi mais perigoso ser um correspondente de guerra, porque o jornalista na zona de combate se tornou um alvo principal".

Com a morte de Colvin e Ochlik, o número de jornalistas mortos na Síria sobe para cinco. O repórter francês Gilles Jacquier, da emissora 2 TV   foi morto em 11 de janeiro deste ano em um ataque, também em Homs. Os jornalistas sírios Shukri Abu al-Burghul e Mazhar Tayyara também morreram cobrindo os conflitos no país.