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ONU adia votação de resolução sobre a Síria para quinta-feira

Do UOL, em São Paulo

18/07/2012 13h41Atualizada em 18/07/2012 14h01

A votação no Conselho de Segurança da ONU da resolução sobre a Síria que ocorreria na tarde desta quarta-feira (18) foi adiada para amanhã, quinta-feira (19), declarou o embaixador russo nas Nações Unidas, Vitali Tchourkine.

O pedido de adiamento foi feito pelo enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, por causa do atentado contra a sede da Segurança Nacional na capital da Síria, Damasco, que matou quatro oficiais do alto escalão do país.

"O enviado especial conjunto Annan pediu o adiamento da votação do projeto de resolução sobre a Síria. Junto aos colegas copromotores, estamos considerando este pedido", afirmou um porta-voz britânico em um post no Twitter.

Segundo o embaixador chinês Li Baodong, as discussões prosseguirão nesta quarta-feira com o objetivo de obter um consenso.

Atentado mata quatro oficiais

Nesta quarta-feira, um atentado contra a sede da Segurança Nacional matou quatro oficiais do alto escalão do país --que enfrenta um grave conflito civil desde março do ano passado. 

Os mortos são o ministro da Defesa da Síria, general Daoud Abdelah Rajha, o cunhado do presidente Bashar al-Assad, Assef Shawkat (que era vice da pasta), o general Hassan Turkmeni, chefe da célula de crise criada para combater a rebelião síria, e o ministro do Interior do país, Mohammad Ibrahim al-Shaar. As informações são da televisão estatal do país. 

O canal de televisão informou que uma "bomba terrorista" foi detonada no prédio durante um encontro de ministros e autoridades de defesa, ferindo diversas pessoas. O Exército da Síria comprometeu-se a perseguir os autores do atentado para eliminá-los e "limpar a pátria de maldade", de acordo com comunicado lido na rede de televisão oficial após a confirmação da morte de Rajha e Shawkat.

Ativistas em Damasco disseram por telefone que a Guarda Republicana da Síria isolou o hospital Shami, na capital, enquanto ambulâncias levavam vítimas do local da explosão. 

Fontes da segurança afirmaram à agência AFP que vários feridos foram levados para o hospital. A BBC informou que, após as mortes, novas explosões foram ouvidas próximo ao quartel-general que guarda o palácio presidencial sírio. Segundo o blog da TV Al Jazeera, a força aérea síria estaria atacando o bairro de Alhager Alaswad, em Damasco.

Bashar al-Assad já nomeou o chefe do Estado-Maior, Fahd al-Freij, como novo ministro da Defesa.

Iniciada em março de 2011, a revolta popular, violentamente reprimida pelo regime, degenerou em conflito armado entre soldados e rebeldes. Mais de 17 mil pessoas morreram no país em 16 meses. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) considerou, na segunda-feira (16), que os combates na Síria configuram uma situação de guerra civil.

As vítimas de hoje são os primeiros altos dirigentes do regime sírio que morrem desde o começo da revolta contra o regime de Assad.

"O Estado e todas as suas instituições estão sendo atacados. É uma guerra aberta contra todos os sírios", disse o deputado Khaled al Abbud. "Há elementos externos que atuam para a destruição do Estado sírio", afirmou, acusando os Estados Unidos e seus "instrumentos" no interior do país.

Autoria

A autoria do atentado foi reivindicada, inicialmente, por dois grupos. Em sua página no Facebook, o grupo rebelde sírio Liwa Al-Islam assumiu responsabilidade pelo ataque, segundo a agência Reuters. De acordo com agências, o autor do atentado foi um homem-bomba suicida, que trabalhava como guarda-costas para pessoas do círculo restrito de Assad. 

Já o Exército Livre Sírio (ELS), de oposição ao regime de Bashar al Assad, inicialmente culpou o governo pela explosão desta quarta-feira. Posteriormente, o grupo reivindicou a autoria do atentado e disse que foi uma bomba plantada no local, e não um atentado terrorista.

Em entrevista à agência Efe pela internet, o porta-voz do ELS na Síria, Sami Kurdi, explicou que o ataque foi realizado em coordenação com seguranças de alguns políticos que estavam no prédio, e afirmou que, anteriormente, seu grupo negou a autoria porque seus combatentes ainda estavam no local do atentado.

Repercussão no Ocidente

A comunidade internacional aproveitou os ataques para cobrar ações mais enérgicas contra a Síria. Secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, disse nesta quarta-feira (18) à Reuters que a situação na Síria aparenta "estar ficando fora de controle", e alertou que o regime será responsabilizado pela segurança de suas armas químicas. O secretário de Defesa dos EUA também cobrou da comunidade internacional "máxima pressão (ao presidente Bashar al-Assad) para fazer o que é certo, recuar e permitir uma transição pacífica". 

O governo americano anunciou nova rodada de sanções contra membros do governo sírio, segundo a CNN. Não foram especificadas quais serão as medidas tomadas. 

Peter Wittig, embaixador alemão para a ONU e membro do Conselho de Segurança da organização, disse esperar que os ataques desta quarta-feira (18) levem a Rússia e a China a "se envolver em significantes negociações para a resolução que pusemos à mesa".

No Brasil, o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, expressou preocupação com a atual situação na Síria. “Estamos preocupados com a proporção que a violência está ocupando [na Síria]. É uma situação inaceitável", disse à Agência Brasil.


Sanções

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) vai discutir na quinta-feira em Nova York, nos EUA, duas propostas de resoluções referentes à Síria. Uma delas, apresentada pelos britânicos, recomenda a adoção de novas sanções ao governo sírio. Mas os russos apresentaram um texto sugerindo apenas a manutenção de observadores externos, no país, por mais três meses e a exclusão de restrições aos sírios.

Em seu blog, a Al Jazeera escreveu que um porta-voz da ONU disse à imprensa que "os relatos acrescentam um senso dramático de urgência aos esforços de hoje (quarta-feira). Eles são um estímulo aos que ainda pensam que o Conselho de Segurança deve continuar a trabalhar como sempre (sem intervir no conflito sírio). A inação do conselho piora a violência."

Nas últimas reuniões, as autoridades da Rússia bloquearam duas resoluções definindo condenações ao governo do presidente sírio, Bashar Al Assad, devido aos massacres em Treimsa –nos quais mais de 150 civis foram mortos na semana passada pelas tropas e milícias que apoiam o governo. A Rússia, a China e o Irã são parceiros tradicionais da Síria. Exceto o Irã, esses países integram o grupo das nações com assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.

Pelas normas do conselho, uma resolução deve receber o voto favorável de todos os integrantes permanentes no órgão, no caso a China, a França, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos. Se um deles se opuser à proposta, a medida não pode ser adotada. Também se manifestam nas discussões as autoridades dos dez países que ocupam assentos rotativos.

Até o final de 2012, estão nos asssentos provisórios do conselho: Azerbaijão, África do Sul, Colômbia, Marrocos, Togo, Alemanha, Paquistão, Guatemala e Portugal. Na tentativa de obter consenso entre os inegrantes do órgão em torno de uma solução para a crise na Síria, o emissário da ONU e da Liga Árabe ao país, Kofi Annan, conversou com vários líderes estrangeiros. (Com agências internacionais)