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Sem o "não" do Paraguai, Mercosul oficializa entrada da Venezuela no bloco nesta terça-feira

Fabrício Calado

Do UOL, em Brasília

31/07/2012 06h00

O Mercosul oficializa nesta terça-feira (31), em reunião em Brasília, o processo de entrada da Venezuela no bloco de países latino-americanos. Isso só foi possível agora porque, até recentemente, o Paraguai, que integrava o bloco, era contra a participação da Venezuela. Com a suspensão temporária do Paraguai do bloco, em função do impeachment do presidente Fernando Lugo, os demais países do bloco aceitaram o ingresso da Venezuela como "membro de pleno direito" em 31 de julho.

Os anúncios da entrada da Venezuela e suspensão do Paraguai aconteceram no mesmo dia, 29 de junho deste ano, e foram feitos pela mesma pessoa, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner (a Venezuela e a Argentina são aliados de longa data). Ao lado de Cristina, estavam os presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e do Uruguai, José Mujica. Os três países são contra o impeachment de Lugo e o consideram uma ruptura no processo democrático do Paraguai.

Desde 2006, o Congresso paraguaio se opõe à participação da Venezuela no Mercosul. O presidente em exercício do Paraguai, Frederico Franco, já disse abertamente que rompeu com o presidente Fernando Lugo porque ele, Franco, era contra o ingresso da Venezuela no Mercosul, entre outras coisas. 

O porquê do Paraguai

Mas o que o Paraguai tem a perder (ou ganhar) com a Venezuela fora? Embora haja teorias de que o governo dos EUA estaria secretamente por trás da recusa do Paraguai, o professor de Ciência Política da USP Rafael Duarte Villa diz que o motivo é menos obscuro. “Trata-se apenas de oposição ideológica, esquerda versus direita”, afirma ele ao UOL.

O Senado do Paraguai, diz o professor, tem muita influência dos colorados, os setores mais conservadores da política do país e que se revezam no poder pelos últimos 30 anos. Para os críticos do ingresso da Venezuela ao bloco, há o “risco Chávez”, leia-se a possibilidade de instabilidade política e subsequente rompimento de contratos firmados pelo bloco.

Tal cenário poderia ser provocado pelo temperamento imprevisível do presidente venezuelano, Hugo Chávez. Também pesaria o apoio de Chávez a figuras malvistas na comunidade internacional, como o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Tal apoio, na visão de alguns analistas, tornaria a presença de Chávez um complicador nas negociações do Mercosul.

Outros, por sua vez, dizem que a entrada do país de Chávez daria importância ao bloco e peso no mercado, já que a Venezuela é uma potência petroleira (é o quinto maior exportador de petróleo do mundo).  É a linha adotada pelos governos de Brasil e Argentina, para quem a entrada da Venezuela no bloco permitira ao Mercosul competir em mercados hoje disputados por EUA e China. Como argumento, citam o superávit do bloco com o país de Hugo Chávez em 2011: R$ 4,8 bilhões.

Origem do bloco

O Mercosul surgiu em 1991 para reforçar a integração regional e como ferramenta de parcerias entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (temporariamente suspenso). Tem como países associados Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, e como observadores o México e a Nova Zelândia.

Amigo com benefícios

Ao mesmo tempo, a entrada da Venezuela amenizaria o impacto da disputa econômica em curso entre o Brasil e a Argentina. Começou com medidas protecionistas adotadas pelo governo argentino, que limitou ou dificultou a entrada de certos produtos brasileiros. O revide do Brasil, por sua vez, trouxe problemas à economia argentina.

O resultado da disputa intra-bloco é que o Mercosul perdeu importância e espaço na exportação total de seus sócios.No caso do Brasil, a queda das vendas ao bloco (14%) neutralizou a pequena alta na exportação global. Mesma coisa na Argentina.

Sem entrar na briga dos dois países aliados, Chávez é só elogios ao Mercosul. Já chamou de "bênção" a entrada da Venezuela no bloco. Mais concretamente, prometeu criar um fundo de US$ 500 milhões para ajudar empresas locais, públicas e privadas, a exportar aos sócios do bloco.

Antes de deixar Caracas rumo ao Itamaraty, na segunda-feira (30), Chávez disse que a incorporação da Venezuela ao Mercosul coloca o país na “perspectiva histórica exata” e afirmou ainda que a incorporação vai gerar 240 mil empregos.