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Vitória de Romney pode comprometer as relações entre EUA e Alemanha; Berlim teme republicano

Severin Weiland

05/11/2012 06h00

Os alemães gostam do presidente dos EUA, Barack Obama, mas e se seu desafiante, Mitt Romney, vencer a eleição da semana que vem? O político republicano é difícil de entender em questões de política externa, e os políticos em Berlim se perguntam o que isso significaria para as relações entre Alemanha e Estados Unidos.

Os alemães há muito tempo formaram sua opinião sobre Mitt Romney. Somente 5% disseram que lhe dariam seu voto se tivessem essa possibilidade.

O resultado da pesquisa mais recente, da Forsa, não é nada surpreendente. Quando os EUA votam, o coração alemão tradicionalmente bate pelo candidato democrata. Para muitos, os republicanos são suspeitos: arrogantes, cristãos conservadores, de mentalidade estreita e muitas vezes belicosa - pelo menos de acordo com o clichê disseminado. Cerca de 92% dos alemães votariam para que Barack Obama continuasse na Casa Branca, revelou a pesquisa.

Eles não podem votar, é claro, e estão fadados ao papel de observadores, parados nervosamente nas laterais. Obama e Romney estão lado a lado nas pesquisas, poucos dias antes da eleição na próxima terça-feira (6). E os políticos em Berlim há muito começaram a considerar a possibilidade de que Romney possa assumir as rédeas do Estado.

Mas o que significaria um presidente Romney para Berlim? Francamente, os políticos na capital alemã não têm certeza. O candidato republicano, disse Harald Leibrecht, coordenador da Alemanha para as relações germano-americanas, é "uma página em branco, o que o torna difícil de avaliar". É improvável que ele esteja sozinho nessa avaliação.    

Posições obscuras     

Romney se retratou ao mesmo tempo como um sujeito duro e um diplomata, mas seu jeito evasivo confundiu as pessoas em seu país e no exterior. Em seu debate final contra Obama, ele adotou um tom conciliador e parecia ter poucas diferenças políticas com Obama sobre lugares como Síria, Afeganistão e Irã. Mas apenas alguns meses antes Romney parecia completamente diferente, declarando a Rússia o "inimigo geopolítico número 1" dos EUA.

Suas políticas sobre o Irã também causaram certa preocupação. Neste verão, um de seus principais assessores de política externa disse que Romney "respeitaria" uma decisão israelense de usar a força contra Teerã. Além disso, a posição de Romney sobre a planejada retirada das tropas americanas do Afeganistão em 2014 também continua imprecisa. Ele manifestou dúvidas sobre o cronograma.

Em Berlim, o candidato republicano é considerado uma espécie de enigma. O ministro da Defesa, Thomas de Maizière, está intrigado, dizendo que em uma recente reunião da Otan "ninguém na mesa" sabia dizer como terminaria a missão dos EUA no Afeganistão, se houvesse uma mudança na Casa Branca. E como os países aliados pretendem construir suas estratégias ao redor do modelo americano, a eleição de seis de novembro é extremamente importante, disse Maizière.

Os líderes alemães pensam que Romney tentaria fazer os EUA voltarem a seu antigo papel de policial global? "Não acredito nisso", disse Philipp Missfelder, porta-voz de política externa dos conservadores no Parlamento alemão. "A situação financeira é tão desolada nos EUA que Romney não poderia sustentar" esse papel.

Mas no último debate na TV entre Obama e Romney o último falou contra os cortes no orçamento militar e a favor de construir novos navios de guerra. Romney poderia reverter o relógio aos tempos do antecessor de Obama, George W. Bush, que foi vilipendiado na Alemanha? Segundo Missfelder, a resposta é não. Ele não é um espectro para ser temido, ele diz, acrescentando que muitos na Alemanha o comparam erroneamente ao movimento Tea Party e sua abordagem isolacionista da política externa. "Romney é na verdade um pragmático", diz  Missfelder, esperançoso. 

Durante a campanha Romney se apresentou como um líder econômico e há tendências em seu partido de proteger o mercado interno. Com toda a Câmara de Deputados e um terço do Senado para ser escolhido na semana que vem, há certa preocupação de que essa atitude de "primeiro os EUA" possa se fortalecer. De fato, Ralf Brami, um especialista em política americana no Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP) em Berlim, prevê tendências protecionistas principalmente no Legislativo. "Até as empresas alemãs e europeias terão dificuldades para vender seus produtos nos EUA", ele diz.    

Mais exigências militares?      

Rolf Mützenich, o porta-voz de política externa da oposição social-democrata no Parlamento, acredita que uma vitória de Romney resultaria em um "impasse inicial e incerteza" enquanto o governo passaria pelo processo prolongado de fazer novos compromissos. Além disso, ele teme que se Romney escolher antigos assessores da era Bush "poderão surgir discórdias não apenas sobre as questões do Irã e da Rússia, mas também no que se refere à ONU, ao direito internacional e ao desarmamento".

Do mesmo modo, ele afirma que uma administração Romney provavelmente não teria a mesma visão que a Alemanha e seus parceiros da UE sobre a regulamentação global dos mercados financeiros.

Braml, o perito do DGAP e autor do livro "Der amerikanische Patient" [O paciente americano], defende a tese de que a má condição socioeconômica dos EUA e seus crescentes sentimentos isolacionistas levarão o país a tentar transferir o peso das ações militares para seus aliados.

Essa opinião é compartilhada por muitos em Berlim. Leibrecht, o coordenador de relações germano-americanas da chanceler Angela Merkel, disse que uma das possíveis consequências de uma vitória de Romney seriam pedidos de aumento dos orçamentos de defesa. "Isto não é especialmente popular entre nós", ele disse, "e também não apoiamos esse pedido à luz do tratamento de consolidação e corte de custos que temos seguido na Europa."

Em todo caso, quer ganhe Obama quer Romney, o político da CDU Missfelder diz que os alemães terão de se habituar com uma coisa: "No que se trata de ações militares globais em zonas de crise, os americanos definitivamente virão nos procurar pedindo mais nos próximos anos".