Bento 16 se encontra com cardeais para tomar últimas decisões de papado
A menos de três dias da histórica renúncia, o papa Bento 16 se encontra nesta segunda-feira (24) com cardeais em audiências individuais. O que o Vaticano não informou foi o nome dos religiosos, tampouco os assuntos que serão tratados nesses encontros.
ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA
Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.
Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no conclave.
Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
Há especulações, no entanto, que o pontífice possa aproveitar esses seus últimos minutos de "reinado" para influenciar na decisão do conclave, que vai eleger o próximo papa, ou mesmo para discutir o conteúdo do "Motu Proprio" com a alteração de alguns pontos da Constituição Apostólica e a antecipação da eleição.
O documento, segundo o jornal italiano "La Stampa", será publicado ainda nesta segundo. O periódico adiantou ainda que o texto não é "muito extenso", mas autoriza a antecipação do conclave com início a ser definido pelos cardeais no Congregação Geral, marcada para 1º de março. "La Stampa" chegou a informar que o início do conclave está previsto para entre 9 e 11 de março.
Mas, esse não é o único assunto que possivelmente será tratado por Bento 16 nessas reuniões individuais. Na última semana, a imprensa italiana revelou a existência de um relatório encomendado pelo pontífice a três cardeais de confiança sobre o escândalo do vazamento de informações confidenciais da Santa Sé, chamado de Vatileaks.
O documento de 300 páginas, segundo o jornal "La Repubblica", descreve as lutas internas pelo poder e pelo dinheiro, assim como o sistema de chantagens internas baseadas em fraquezas sexuais, o chamado "lobby gay" do Vaticano. E, como apontou o "La Stampa", o papa tem a intenção em colocar todos os cardeais a par do conteúdo.
A Santa Sé rebateu as denúncias e classificou-as como "calúnias". "Há quem tenta aproveitar o momento de surpresa e desorientação, após o anúncio de que o papa Bento 16 abandonará seu cargo, para semear a confusão e desprestigiar a Igreja", declarou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
Início das despedidas
Ao fim do retiro espiritual de seis dias, no sábado (23), o papa Bento 16 se reuniu com a Cúria Romana e informou que mesmo após a renúncia se manterá próximo "espiritualmente" da Igreja Católica.
O discurso também incluiu uma advertência sobre os "males deste mundo, o sofrimento e a corrupção" e um agradecimento aos cardeais que acompanharam o "peso do ministério papal" com "habilidade, afeto, amor e fé" nos últimos oito anos.
Já em sua última oração do Angelus, no domingo (24), Bento 16 disse que Deus pediu para que ele se dedicasse à "oração e à meditação" e reafirmou que não abandonará a Igreja.
"Neste momento de minha vida, sinto que a palavra de Deus está dirigida a mim. O Senhor me chama a subir ao monte, a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Isso não significa abandonar a Igreja, ao contrário, se Deus me pede isso é para que eu possa continuar a servi-la do mesmo modo dedicado com que o fiz até agora, mas de acordo com a minha idade e as minhas forças", disse o pontífice.
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