Com escolha de nome, papa Francisco cria expectativas sobre renovação da igreja
A escolha do nome Francisco não foi à toa. Foi o que disse o padre José Arnaldo Juliano, pesquisador em História da Igreja Católica e coordenador do museu de Arte Sacra de São Paulo, ao comparar o perfil do mais novo papa ao frade católico que ficou conhecido, entre outras coisas, por renovar o catolicismo.
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"São Francisco de Assis recebeu a missão de cristo de reconstruir a igreja. E, quase 1.000 anos depois, essa missão é repassada ao cardeal argentino Jorge Bergoglio", diz o especialista, que relaciona a escolha do nome às intensões do novo papa diante da Igreja Católica.
Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, religioso dominicano e escritor, aponta a escolha do nome como o fato mais significativo da eleição do argentino. "Nunca houve papa com esse nome. São Francisco de Assis, no início, foi visto com desconfiança pelos papas. Ele morreu sem ser sacerdote", diz. E a primeira decisão do novo papa indica, segundo ele, "que estava disposto a se empenhar na reconstrução da igreja".
O nome, no entanto, não está vinculado à São Francisco de Assis, como aponta o Filósofo e teólogo Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de Teologia e Ciência da Religião da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que cita a inspiração também em "Francisco Xavier, um dos fundadores da Companhia de Jesus, que foi em direção ao oriente."
"Simbolicamente, escolher um papa que não é da Europa, que adotou o mesmo nome de Francisco Xavier e de Francisco de Assis, é uma grande novidade. Pode representar um movimento de reconstrução da Igreja, que vem se abalando."
Perfil do pontificado
A previsão, segundo ele, é que o sucessor de Bento 16 seja um instrumento de paz e de diálogo entre as religiões. "Bergoglio, por ser o primeiro papa jesuíta, tende a ser um grande evangelizador e comunicador", acrescenta.
Ao ver o papa Francisco se apresentar pela primeira vez, na sacada central da Basílica de São Pedro, Juliano afirmou ter recordo de João Paulo 1º, em 1978. "O argentino, assim como o papa italiano, conseguiu cativar os fiéis e o mundo com o olhar e com a forma despojada de se comunicar. Não se trata de aforismo de momento. Esses são sinais e pontuam o que o papa vai ser."
Para o teólogo Euclides Balanci, a escolha do nome Francisco revela justamente essa simplicidade e um espírito de pobreza. "Não no sentido de miséria, mas no sentido de falta de desejo de poder, mostrando que não é isso que está em jogo, mas sim a transmissão da plavra de Deus, de justiça, de levar a paz, que é esse significado que está por trás do papado", explica.
Simplicidade e espontaneidade que também foram notadas na roupa que o novo pontífice escolheu para ser apresentado aos fiéis. "Optou pelo branco e só vestiu a estola vermelha no momento da benção, que a tirou antes mesmo de se despedir", descreve padre Juliano, que também ressalta os interesses de Francisco em combater a pobreza e os preconceitos.
"Diferente de João Paulo 2º e Bento 16, a expectativa é que o novo pontífice seja mais aberto as questões do mundo, sobretudo a ciência", acrescenta.
E ainda que o cardeal não tenha experiência na Cúria Romana, como aponta Juliano, sua experiência administrativa à frente da arquidiocese de Buenos Aires, o auxiliarão na difícil missão à frente do cargo mais alto da Igreja Católica. "Sem a vivência na Cúria fica mais fácil fazer as devidas reformas internas", relata ele, que reconhece não ser nada fácil administrar arquidioceses de cidades metropolitanas.
Juliano também afirma que o papa Francisco sempre se mostrou "envergonhado" tanto como as denúncias de abuso sexual como com os escândalos de corrupção e do jogo de infâncias dentro da Santa Sé. "Há, portanto, expectativa de que ele trate dos assuntos com mais rigor e seriedade."
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