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Papa não europeu representa 'ruptura' e 'globalização' da Igreja, dizem teólogos

Do UOL, em São Paulo

13/03/2013 19h04

Com a escolha do argentino Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco, como novo papa, pela primeira vez em mais de 1.200 anos o líder maior da Igreja Católica será um não europeu. Na opinião de teólogos entrevistados pelo UOL, a eleição de um papa latinoamericano simboliza “ruptura” e uma tentativa da Igreja de se globalizar.

“A renúncia de Bento 16 (a primeira em 1.300 anos) foi uma ruptura que trouxe outras rupturas. Primeiro, se rompeu com a tradição de ter sempre um papa europeu. Depois, escolheram o primeiro papa jesuíta”, afirma o filósofo e teólogo Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de Teologia e Ciência da Religião da PUC-SP (Pontífica Universidade Católica).

“É uma novidade, pois até hoje todos os papas eram europeus. O papa ser latino-americano pode trazer uma forma melhor de se ver a nossa religião, nosso cristianismo, que tem uma forma mais espontânea, mais aberta, mais comunicativa, mais simples”, opina o teólogo Euclides Balancin.

Segundo Cortella, a escolha do nome Francisco pode ter duas simbologias: homenagear São Francisco de Assis, padroeiro da Itália, e Francisco Xavier, português que fundou a Companhia de Jesus e foi pioneiro nas expedições para o oriente.

“Francisco Xavier foi em direção ao oriente. O papa escolhido não é da Europa. Ele adota um nome do padroeiro da Itália. Simbolicamente --dado que a Igreja dos católicos é carregada de simbologias--, isso tudo traz uma ideia de globalização. ‘Católico’ significa ‘universal”, afirma o professor.

Para o escritor Carlos Alberto Chirsto, o Frei Betto, a escolha do novo papa homenageia a América do Sul. “É uma homenagem ao continente que tem o maior número de católicos. Quando ao fato de ser jesuíta, é irrelevante”, disse Betto, que foi frade dominicano.

Para o vaticanólogo Giancarlo Nardi, a escolha de Bergoglio “foi uma surpresa”, mas a  nacionalidade do papa não é determinante para a sua atuação.

“Quando se escolhe um novo papa, não se escolhe uma nacionalidade, cor, idade, ou raça. Se faz uma negociação. Os cardeais observam se o papa é preparado, se tem carisma e dedicação a milhões de pessoas católicas espalhadas pelo mundo. Ele ser latino-americano não influi em nada. O papa tem um carisma internacional e não patriótico. Precisa saber administrar e reunir o rebanho”, opina.