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Snowden foi herói ao revelar espionagem, diz jornalista

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

06/08/2013 16h43Atualizada em 06/08/2013 18h33

O jornalista Glenn Greenwald disse nesta terça-feira (6), em audiência conjunta das comissões de relações exteriores da Câmara e do Senado, que considera Edward Snowden um herói e que a atitude dele tem servido de exemplo para a juventude.

Snowden era técnico da NSA, a agência de segurança americana, e revelou ao jornal "The Guardian", onde Greenwald é colunista, o escândalo de espionagem do governo americano.

Audiência no Senado

Desde então, o ex-técnico é procurado pelo governo dos EUA. Snowden encontra-se agora em Moscou, na Rússia, com status de "refugiado". Os Estados Unidos negociam com o governo russo sua extradição.

“Snowden sabia do sacrifício [pessoal] ao revelar os dados, mas disse que não poderia ficar quieto. Ele sabia exatamente os riscos que estava correndo, para mim essa é a definição do herói”, afirmou.

“O exemplo dele vai ter um impacto muito grande talvez maior do que os artigos que estamos publicando”, disse, acrescentando que, por onde passa para comentar o caso, o jornalista percebe uma mudança no comportamento dos jovens.

O jornalista contou que tem mantido contato frequente com Snowden. "Estou falando com Snowden regularmente, quase todo dia." Os dois conversam pela internet por meio de um sistema com criptografia para garantir a segurança e o sigilo do conteúdo trocado.

Indagado se Snowden tem medo de ser morto, respondeu que o ex-técnico "não tem medo de nada". "A única coisa de que ele teve medo no começo é que ele iria se sacrificar para divulgar essa informação e o mundo vai reagir sem dar a devida importância, mas agora ele está vendo que gerou um debate muito sério", afirmou.

"Ele sabe que existem riscos grandes, mas não tem medo disso."

Como era o esquema

O jornalista afirmou também que o sistema de espionagem é muito complexo, envolvendo milhares de pessoas, o que torna difícil controlar quem tem acesso a esses dados, como Snowden, que, segundo ele, pegou “20, 25 mil documentos supersecretos”. “O problema é, quando se tem um sistema desse tamanho, é difícil controlar esse número grande de pessoas.”

O governo americano, através da agência de segurança NSA, utilizava programas secretos de interceptação de dados, como o Prism.

Grampos nos EUA

O programaO Prism é um programa de inteligência secreta americana que daria ao governo acesso aos dados de usuários de serviços de grandes empresas de tecnologia
Quais dados?Não se sabe exatamente, mas qualquer informação poderia ser consultada. O jornal 'Washington Post' cita e-mail, chat, fotos, vídeos e detalhes das redes sociais
Quem sabia?Segundo Obama, o programa foi aprovado pelo Congresso e é fiscalizado pelo Poder Judiciário no país. Todas as empresas negaram participação
FuncionamentoDe acordo com fontes do jornal britânico 'The Guardian', o governo poderia ter acesso aos dados sem o consentimento das empresas, mas, como eles são criptografados, precisaria de chaves que só as companhias possuem
Empresas possivelmente envolvidasMicrosoft, Google, Facebook, Yahoo, Apple, Paltalk, Skype, Youtube, AOL

Em junho, os jornais "The Guardian" e "The Washington Post" divulgaram documentos secretos que indicam que a NSA tinha acesso secreto a gravações telefônicas e da internet de milhões de usuários nos Estados Unidos. O esquema envolveu ainda outros países, como o Brasil, conforme revelou o jornal "O Globo". Segundo o periódico, documentos sigilosos da NSA mostram que México, Venezuela, Argentina, Colômbia e Equador, entre outros, também estavam sob vigilância americana.

Greenwald acrescentou que não dispõe dos nomes das empresas privadas que colaboram com o governo americano no seu esquema de espionagem. “O interessante é que [a identidade das empresas] é o que a NSA está mais protegendo.”

Ele disse que não possui nenhum documento em que as empresas estejam identificadas, porque a agência dos EUA usa codinomes para se referir a elas. O jornalista ressalta, porém, que, embora ele não tenha poder para exigir essas informações, o Senado e a Câmara dos EUA têm esse poder e deveriam exigir que revelassem essas informações.

O conteúdo da audiência servirá de base para um relatório a ser elaborado pela comissão sobre o caso. Em audiências realizadas em julho, os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Celso Amorim (Defesa) e Paulo Bernardo (Comunicações) admitiram vulnerabilidade no sistema de comunicação do Brasil.