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Síria entregará armas químicas se EUA retirarem ameaças, diz Assad

Do UOL, em São Paulo

12/09/2013 13h18Atualizada em 12/09/2013 15h08

A Síria cumprirá com as condições da iniciativa russa sobre seu arsenal químico apenas se os Estados Unidos deixarem de ajudar os rebeldes e de ameaçar Damasco, declarou o ditador Bashar Assad em uma entrevista nesta quinta-feira (12) à TV russa.

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"É um processo bilateral", declarou Assad, segundo a tradução em russo de suas declarações. "Quando virmos que os Estados Unidos querem efetivamente a estabilidade na região, que deixa de ameaçar e tentar atacar, e entregar armas aos terroristas, então consideraremos que podemos realizar os procedimentos até o final e que serão aceitáveis para a Síria", completou.

Assad disse ainda que seu país vai começar a repassar informações sobre o arsenal de armas químicas um mês após aderir à convenção contra uso de armas químicas.

A ONU informou que recebeu documentos da Síria sobre a adesão do país ao tratado global contra as armas químicas nesta quinta.

"Nas últimas horas recebemos documentos do governo da Síria que estão sendo traduzidos, e que são documentos sobre a Convenção sobre Armas Químicas", disse o porta-voz da ONU Farhan Haq a jornalistas.

Rússia foi responsável por decisão

Segundo Assad, a decisão da Síria de ceder o controle de suas armas químicas foi resultante da proposta russa e não da ameaça de intervenção militar dos Estados Unidos.

"A Síria está colocando suas armas químicas sob o controle internacional por causa da Rússia. As ameaças dos EUA não influenciaram a decisão", disse Assad na entrevista ao canal estatal russo Rossiya-24, de acordo com a Interfax.

Russos e americanos vão se encontrar nesta quinta-feira (12) para discutir o plano da Rússia para destituir a Síria de seu arsenal químico e poupar o país do Oriente Médio de uma intervenção militar.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já desembarcou em Genebra onde irá se reunir com o chanceler russo, Sergei Lavrov.

Autoridades dos EUA dizem que Kerry insistirá que o eventual acordo obrigue Damasco a tomar atitudes rápidas para mostrar a seriedade do seu compromisso, a começar pela apresentação de um inventário público e completo do arsenal a ser inspecionado e neutralizado.

A iniciativa russa, que dá novos rumos para uma guerra civil iniciada há dois anos e meio, convenceu o presidente dos EUA, Barack Obama, a suspender seus planos de bombardear a Síria para punir o governo de Bashar Assad pelo suposto uso de armas químicas contra civis, que teria matado mais de 1.400 pessoas em 21 de agosto.

A Síria, que nega ter cometido o ataque, concordou com a proposta russa de abrir mão das armas químicas, evitando o que seria a primeira intervenção ocidental direta num conflito que já matou 100 mil pessoas.

Damasco nunca aderiu aos tratados que proíbem a posse de armas químicas, e nunca confirmou se as possuía. A Síria, no entanto, é signatária de uma convenção quase centenária que proíbe o uso de armas químicas.

Falando antes da reunião de Kerry com Lavrov, uma fonte oficial dos EUA disse, sob anonimato, que o objetivo do norte-americano é "ver se há realidade aqui ou não".

As fontes dos EUA disseram ter a esperança de que Kerry e Lavrov definam os termos de uma proposta de resolução a ser votada nos próximos dias pelo Conselho de Segurança da ONU.

O presidente russo, Vladimir Putin, tradicionalmente apontado como um vilão pelos governos ocidentais por fornecer armas a Assad e evitar qualquer esforço da ONU para desalojá-lo do poder, publicou um artigo no jornal "The New York Times" manifestando oposição à intervenção militar.

Ele argumentou à opinião pública dos EUA que um ataque a Assad ajudaria combatentes da Al Qaeda que lutam ao lado da oposição síria. Segundo Putin, há "poucos paladinos da democracia" na Síria, "mas há mais do que suficientes combatentes da Al Qaeda e extremistas de todos os tipos enfrentando o governo".

A intervenção norte-americana, acrescentou, "aumentaria a violência e desencadearia uma nova onda de terrorismo", além de possivelmente "abalar os esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito israelo-palestino, e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e o Norte da África. Isso poderia desequilibrar todo o sistema do direito internacional." (Com AFP e Reuters)