Com baixa aprovação na Argentina, Cristina Kirchner é popular em Cuba
Honesta, sincera, franca, raçuda. Cristina Kirchner poderia acrescentar esta cidade a El Calafate e à Antártida: se os votos cubanos valessem, a presidente provavelmente arrasaria.
As expressões de admiração se acumularam nesta capital, por suas visitas a Cuba e seus encontros com Fidel Castro, suas rixas com os Estados Unidos, seu estreito relacionamento com Hugo Chávez e agora seu apoio a Nicolás Maduro e suas decisões “a favor do povo”, na contramão da forte queda da sua imagem na Argentina.
E essa percepção foi potencializada no encerramento de seu discurso na CELAC, onde Cristina contou que se comoveu com uma foto do Che Guevara no Hotel Nacional.
Era um retrato de Alberto Korda, em branco e preto, um pouco amassado --como ela descreveu-- e em cima de um calendário num pequeno depósito de limpeza. Cristina o viu quando caminhava para a Suíte Real, no oitavo andar. “Essa foto, neste lugar, que emocionante!”, disse para Silvia Pau, uma das encarregadas de limpeza.
“Ela me abraçou forte, pude sentir a alegria porque me apertava, me apertava... Eu não sabia o que dizer, estava muito nervosa”, disse a empregada ao Clarín. Cristina lhe falou do “significado especial” dessa foto e lhe mostrou imagens do seu encontro com Fidel Castro.
Foi um dos poucos contatos da presidente com os cubanos: ela foi vista apenas em atividades oficiais e passou quase toda sua estadia no quarto, alerta às repercussões da desvalorização na Argentina e em reuniões com os funcionários da comitiva ou acompanhada por Florencia Kirchner.
Na cidade, a maioria a elogiou com devoção e a eximiu de qualquer responsabilidade pela pobreza, desigualdade e o resto dos problemas da Argentina: “É porque não a deixam”, escutou-se como argumento repetido.
“Ela ajudou os pobres, para que todos tivessem possibilidades. Se eu estivesse na Argentina, eu votaria nela!”, disse Francisco, de camiseta vermelha de valet de estacionamento estatal.
“Ela tem muita personalidade e o apoio que ela tem dado a Cuba tem sido muito bom”, disse Odelkis, um músico 28 anos que esperava a sua vez em um salão de cabeleireiro de Colón, que antes da Revolução era o bairro dos bordéis.
“Parece que ela está fazendo coisas boas pelo seu país, que está se preocupando com o povo”, disse Elena, uma aposentada que em 1959 - aos 16 anos - entrou em Havana com a coluna Antonio Maceo, comandada por Camilo Cienfuegos.
Yusell, estudante de medicina e garçonete de um paladar - como chamam os restaurantes -, sugeriu que “deveria existir uma aliança mais forte entre a Argentina e Cuba”.
“Ela é muito raçuda. Ela e o marido salvaram a Argentina da crise quando Menem destruiu o país”, disse Miguel, outro aposentado, do bairro San Leopoldo, apesar de considerar que os discursos de Maduro e José Mujica “foram o melhor” da reunião.
A maior parte das notícias e referências sobre Cristina chegam a Havana pelo canal 6 cubano, Telesur e pelo jornal oficial Granma, favoráveis à imagem da presidente.
Os poucos casos de críticas se fundamentaram em comentários de argentinos. “Se é verdade o que eles dizem, ela é uma pessoa muito injusta. Está reprimindo sem necessidade e não deixa comprar dólares”, disse Dania, encarregada de uma barraca em uma feira estatal para o turismo.
“Eu gosto porque ela copia muitas coisas daqui, mas não entendo por que ela não faz nada com as crianças que consomem oxi. Aqui não tem droga, e muito menos com crianças, se te pegarem você vai preso. E está certo”, disse María, uma professora de 30 anos com amigos em Mar del Plata e Mendoza.
Muitos conhecem a história da Argentina, por isso referências a Juan Manuel de Rosas, Juan Perón, à ditadura e ao plano Condor, Menem, Domingo Cavallo e até a Hugo Moyano foram feitas. E com o Che Guevara não há discussão: “um herói”, “o máximo”.
Eduardo, cozinheiro do Hotel Nacional, não conseguiu continuar porque começou a chorar: “Sempre acontece a mesma coisa quando eu falo dele”.
(Texto originalmente publicado no site do Clarín em português)
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