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Investigação aponta para suicídio do promotor, dizem autoridades argentinas

Procurador Alberto Nisman acusou a presidente Cristina Kirchner de acobertar o Irã - Marcos Brindicci/Reuters
Procurador Alberto Nisman acusou a presidente Cristina Kirchner de acobertar o Irã Imagem: Marcos Brindicci/Reuters

Do UOL, em São Paulo

19/01/2015 10h41

As autoridades argentinas investigavam nesta segunda-feira (19) a morte do procurador Alberto Nisman, que acusou há alguns dias a presidente Cristina Kirchner de acobertar o Irã no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994. "Todos os caminhos levam ao suicídio", declarou o secretário de Segurança, Sergio Berni.

O funcionário indicou que a presidente Kirchner foi notificada do caso, e afirmou que as perícias foram feitas "com absoluta transparência em frente ao juiz, à procuradora, e com a presença de testemunhas e da família de Nisman", disse o canal de notícias TN.

Já a procuradora Viviana Fein, encarregada de investigar a morte de seu colega, pediu prudência. "Estamos investigando ainda, é preciso ter muita cautela", disse Fein, confirmando que o corpo foi encontrado pela mãe de Nisman no banheiro de seu aparamento, em um edifício com segurança particular no luxuoso bairro de Puerto Madero.

O ministério de Segurança da Argentina divulgou um comunicado no qual detalha que Nisman "foi encontrado sem vida na noite de domingo em seu apartamento do 13º andar da torre Le Parc", de Puerto Madero, no coração de Buenos Aires.

Segundo as autoridades, Nisman tinha dez agentes da polícia para fazer sua proteção pessoal e foram eles que "alertaram sua secretária durante a tarde devido à falta de resposta aos insistentes telefonemas". "Ao constatar que o homem também não respondia à campainha da casa e que o jornal de domingo ainda estava no corredor, decidiram avisar os familiares", disse o comunicado.

Os seguranças buscaram a mãe do procurador, a levaram ao edifício e, ao tentar entrar, a mulher constatou que a porta estava fechada com a chave colocada na fechadura por dentro. Os familiares pediram ajuda a um chaveiro para entrar no apartamento.

"No início da noite, a mãe entrou na casa acompanhada por um dos seguranças, encontrando o corpo de Nisman no interior do banheiro de seu quarto, bloqueando a porta de entrada ao mesmo". "Junto ao corpo de Nisman, que estava no chão, foi encontrada uma arma de fogo calibre 22, além de uma cápsula de bala", indicou.

Denúncia

Nisman tinha se tornado o centro da atenção política nos últimos dias após denunciar a presidente e vários de seus colaboradores por "encobrimento agravado, descumprimento de dever de funcionário público e estorvo do ato funcional". 

A denúncia atinge também o chanceler, Héctor Timerman, o deputado governista Andrés Larroque, os militantes Luis D'Elia e Fernando Esteche, pessoal da secretaria de Inteligência da presidência argentina, o ex-promotor federal e ex-juiz de instrução Héctor Yrimia e o referente comunitário iraniano Jorge "Yussuf" Khalil.

Nisman contava com gravações de conversas telefônicas entre as autoridades iranianas e agentes de inteligência e mediadores argentinos que, segundo ele, demonstrariam que a Argentina assinou em 2013 um acordo com o Irã para encobrir os suspeitos do atentado contra a Amia em troca de impulsionar o comércio bilateral e a troca de petróleo por grãos, em um contexto de crise energética no país sul-americano.

O governo negou a denúncia, chamando-o de mentiroso e atribuindo a atuação de Nisman a conflitos internos na Secretaria de Inteligência. Segundo a gestão Kirchner, o acordo bilateral com o Irã era para investigar os acusados de planejar o ataque. Cinco ex-funcionários iranianos, entre eles um ex-presidente, atuais ministros e líderes religiosos locais, têm uma ordem de captura internacional da Interpol a pedido da justiça argentina.

A acusação de Nisman, designado por Néstor Kirchner como procurador especial para o caso Amia em 2004, um ano após a anulação de um julgamento por irregularidades na investigação, foi o último confronto de uma série de embates entre funcionários de alto escalão e a justiça argentina sobre o esclarecimento deste atentado.

Nisman havia pedido também um embargo preventivo de bens no valor de 200 milhões de pesos (US$ 23 milhões) de Kirchner, de Timerman e de outros funcionários. 

A denúncia foi recebida com cautela por grupos da comunidade judaica, embora ao longo da semana tenham pedido que as provas que Nisman tinha fossem divulgadas. Já a oposição esperava conhecer hoje novos detalhes durante o pronunciamento de Nisman no Congresso.

A deputada opositora Patricia Bullrich, uma das primeiras a ir à casa de Nisman após saber de sua morte, afirmou à imprensa que falou três vezes com o promotor no sábado (17) e que ele mencionou que havia recebido várias ameaças. "Disse que se sentia tranquilo e contou que explicou a situação a sua filha de 15 anos", disse ao canal C5N.

Para a audiência desta segunda-feira o procurador solicitava que seu comparecimento ocorresse em particular, mas parlamentares governistas exigiam que a audiência fosse pública e transmitida pela televisão.

"Um promotor morto antes de fazer um relatório ao Congresso em uma causa onde há terrorismo internacional me parece de uma enorme gravidade", disse Bullrich.

O atentado contra a Amia aconteceu no dia 18 de julho de 1994, dois anos depois que uma bomba explodiu em frente à embaixada de Israel em Buenos Aires causando 29 vítimas fatais. A investigação e a comunidade judaica atribuem ao Irã e à organização Hezbollah o planejamento e execução de ambos os atentados. (Com agências internacionais)