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Brasileiro foi fuzilado na Indonésia sem direito à extrema-unção, diz padre

Brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira (à dir.), dias antes da execução - Divulgação
Brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira (à dir.), dias antes da execução Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

22/02/2015 16h08

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, executado em janeiro na Indonésia por tráfico de drogas, não teve direito à extrema-unção, segundo o padre que encontraria o condenado antes de seu fuzilamento. Archer, que tinha 53 anos, deixou a cela em prantos e assim permaneceu até a morte, de acordo com o padre indonésio Charles Burrows, que daria o último conforto ao brasileiro antes da execução.

Em entrevista à rede australiana "Fairfex Media", reproduzida pelo jornal "The Sydney Morning Herald", Burrows revelou que um desentendimento o impediu de encontrar com o preso, que era católico. Dessa forma, os rituais que, segundo a Igreja, perdoariam os pecados antes da morte do condenado não puderam ser realizados.

"Disse a eles [autoridades] que eu queria estar lá. Os guardas foram educados, mas o procurador não me dava a carta de acesso à ilha. A embaixada brasileira ficou muito aborrecida. Eles me disseram que ninguém se preocupou com ele [Archer]. Geralmente, em algum momento o pastor ou o padre vão consolá-los [os condenados à morte]. Ninguém consolou Marco."

O padre ainda detalhou os momentos finais de brasileiro, de desespero. "Ele teve que ser carregado da cela chorando e gritando 'me ajude'. Ele defecou nas calças", disse Burrows, que contou que os guardas limparam o brasileiro com uma mangueira. Mesmo assim, Archer continuou a chorar "durante todo o tempo até os últimos minutos", segundo o clérigo.

Marco Archer foi condenado à morte após ter sido julgado e condenado por ter ingressado na Indonésia com 13 kg de cocaína, há 11 anos.

A entrevista do padre acontece pouco tempo depois de o Brasil recusar a carta credencial do novo embaixador da Indonésia no país, Toto Ryianto, na última sexta-feira (20). Ele compareceu à cerimônia, que contou com a presença de outros novos embaixadores, mas foi o único que teve a carta recusada, o que o impede de representar oficialmente a Indonésia no Brasil.

"Achamos que é importante que haja uma evolução da situação para esclarecer em que condições estão nossas relações com a Indonésia", disse a presidente Dilma Rousseff a jornalistas após a cerimônia. Segundo ela, o que foi feito "foi adiar o recebimento das credenciais, nada além disso".

O governo brasileiro pediu clemência à Indonésia para Marco Archer, que foi negada, e também para Rodrigo Gularte, o outro cidadão do país condenado à morte por tráfico de drogas. Gularte, de 42 anos, também foi detido desde 2004, após entrar na Indonésia com 6 kg de cocaína escondidos em pranchas de surfe, e foi condenado à morte no ano seguinte.

Ele foi diagnosticado com esquizofrenia, quadro que foi confirmado em laudo assinado por um psiquiatria da rede pública da Indonésia. Segundo o jornal "Jakarta Post", a Procuradoria-Geral do país vai pedir uma segunda opinião médica para decidir o destino do brasileiro. A legislação local prevê que o condenado deve estar plenamente ciente da execução.

Na última quinta (19), o Ministério das Relações Exteriores enviou uma carta ao diretor da Penitenciária Pssar Putih, onde Gularte está preso, pedindo a transferência do brasileiro para um hospital psiquiátrico na cidade de Yogyakarta.

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