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Prévias apontam aprovação de casamento gay em referendo na católica Irlanda

Flávio Carneiro/UOL
Imagem: Flávio Carneiro/UOL

Flávio Carneiro

Do UOL, em Dublin

18/05/2015 06h01

A Irlanda realizará, no próximo dia 22, um referendo que pode legalizar o casamento gay no país. Se a mudança for aprovada, o texto da constituição será alterado e os homossexuais poderão oficializar sua união. Com a proximidade do evento, as ruas da capital Dublin estão tomadas por campanhas pedindo votos a favor ou contra.

As pesquisas de opinião mostram que a campanha pelo “sim” tem surtido efeito. Segundo um estudo divulgado pela consultoria de marketing RedC no dia 15 de abril, 68% dos entrevistados afirmaram apoiar o voto positivo. Já o “não” atingiu 22%, enquanto 10% não souberam opinar.

Outro estudo, realizado pelo instituto Ipsos, em parceria com o jornal local “The Irish Times”, mostra um cenário semelhante – 74% “sim” e 26% “não”.

Fiona Crosby, 30, chefe de cozinha, engrossa os votos de aprovação.

“Com certeza votarei ‘sim’. Nós conquistamos esse direito de escolha com ajuda daqueles que lutaram pelo nosso país. Eu tenho familiares e colegas de trabalho que são gays e eu os amo tanto quanto qualquer outro amigo. Ficarei feliz quando eles encontrarem parceiros e decidirem se casar da mesma forma que acontece com os outros”, contou.

Apesar da superioridade, a vantagem do “sim” tem diminuído em ambas as pesquisas. No estudo do “Irish Times”, a escolha positiva somava 80% em dezembro do ano passado. Já na publicação da consultoria, 76% afirmavam ser a favor da legalização do casamento gay em fevereiro deste ano.

Grande parte dessa resistência tem origem na fé. Segundo o último Censo sobre esse assunto no país, realizado em 2011, cerca de 84% da população se declararam católicos – religião que tradicionalmente não permite o casamento gay em suas igrejas.

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Campanhas a favor e contra o casamento gay disputam espaço nas ruas de Dublin
Imagem: Flávio Carneiro/UOL

Os simpatizantes do catolicismo têm, inclusive, atuado para impedir a aprovação da mudança. É possível encontrar pessoas distribuindo panfletos pedindo voto para o “não” nas portas das igrejas após as missas. Até mesmo representantes oficias da igreja já divulgaram textos contra as mudanças na lei.

Evana Boyle, 41, advogada, faz parte do grupo de irlandeses que deseja barrar as mudanças. Ela afirma estar preocupada com o fato de casais gays poderem adotar, caso a proposta seja liberada.

“Mães e pais colaboram de maneiras diferentes e complementares para o desenvolvimento de uma criança. A sociedade reconhece a necessidade do equilíbrio de gênero em todas as áreas, como negócios e política. Então você não pode dizer que isso não é importante em uma família. Há também estudos que afirmam que crianças que possuem pai e mãe se desenvolvem melhor”, explicou.

Brasileiros

No meio dessa importante decisão estão os brasileiros que vivem na Irlanda. Mesmo somando mais de 10 mil pessoas, de acordo com o departamento de imigração, eles não podem votar – mas demonstram suas opiniões sobre o referendo.

Mariana Licori, 26, assistente executiva, vive há oito meses em Dublin e afirma que votaria a favor das mudanças se pudesse.

“Eu realmente gostaria de participar, inclusive me informei para saber se realmente não poderia. Já passou da hora de todo o mundo aceitar o casamento igualitário e os gays terem os seus direitos garantidos. Votaria sim porque acredito em um mundo com mais amor”, afirmou.

Ela discorda, no entanto, de que as crianças adotadas por casais podem sofrer alguma consequência.

“Os homossexuais são conhecidos por terem mais estudos e melhores condições financeiras do que os heterossexuais. Não vejo como a adoção pode ser prejudicial. Amor nunca prejudicou ninguém”, completou.

Já o soteropolitano Tiago Resende, 26, analista de logística, está há cinco meses na capital irlandesa e concorda com o argumento de que a adoção por casais gays pode ter efeitos colaterais.

“Se um referendo desse tipo fosse realizado no Brasil, com certeza eu votaria ‘não’. Eu não tenho nenhum tipo de preconceito com os gays em si ou com o casamento homossexual. No entanto, como a mudança permite a adoção, eu sou contra. Essa criança sofreria mais discriminação do que o próprio gay, incluindo bullying e rejeição nas escolas e dos amigos. Um homossexual poderia ser um bom pai, sem nenhum problema. Mas a criança sofreria efeitos colaterais muito ruins em sua vida”, disse.