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Morte de Jean Charles não alterou modus operandi de polícia londrina

Ian Blair defendeu a política de “atirar para matar” - Alessia Pierdomenico/Reuters
Ian Blair defendeu a política de “atirar para matar” Imagem: Alessia Pierdomenico/Reuters

Rodrigo Alvares

Do UOL, em São Paulo

22/07/2015 20h00

Em 24 de julho de 2005, o então comissário da Polícia Metropolitana de Londres, Sir Ian Blair, disse em coletiva que assumia o erro de seus agentes na morte de Jean Charles de Menezes, mas defendeu a política de “atirar para matar”: “Não faz sentido atirar no peito de alguém porque é ali onde a bomba vai estar. Não faz sentido atirar se o terrorista ainda pode cair e detonar o armamento”.

Após a morte de Jean Charles na estação de metrô Stockwell, houve muita discussão em relação aos procedimentos adotados pela polícia para lidar com suspeitas de homens-bomba. Para Roy Ramm, um ex-comandante de operações especiais da Polícia Metropolitana, as regras foram modificadas para os policiais terem liberdade para “atirar para matar” potenciais terroristas suicidas, alegando que tiros na cabeça seriam a forma mais segura de lidar com os alvos sem correr o risco de detonação.

Para a polícia londrina, as chances de confronto com um suicida aumentaram consideravelmente após os atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos. A partir daí, foram desenvolvidas novas diretrizes para identificação, confrontamento e negociação com terroristas suspeitos. Essas diretrizes receberam o nome de “Operação Kratos”.

Baseada em ações das forças de segurança de Israel e Sri Lanka –dois países com experiência em atentados suicidas--, as orientações da Operação Kratos deixam claro que cabeça e membros inferiores devem ser os alvos quando um suspeito aparenta não ter intenção de se render, o que vai contra a prática habitual de se mirar o torso –um alvo maior.
Mas, devido à controvérsia em torno da morte de Jean Charles, o código Operação Kratos para a política de abordagem anti-terrorista foi apagado do léxico da polícia londrina em 2007 –não antes de outro suspeito ser baleado em uma operação que chegou a envolver 200 oficiais na zona leste de Londres em 2006.

Condenação

Um ano depois, a Crown Prosecution Service anunciou que nenhum oficial envolvido na operação seria processado, mas a Polícia Metropolitana ainda seria julgada por quebrar leis de saúde e segurança --em 1º de novembro de 2007, foi condenada a pagar 560 mil libras por ameaça à população.

O julgamento da morte de Jean Charles começou em 22 de outubro de 2008. O júri rejeitou a versão da polícia de que Jean foi morto de acordo com a lei. A Polícia Metropolitana fez um acordo com a família do eletricista em 2009.

Homenagens

Em dezembro de 2009, a comissária-assistente Cressida Dick –que liderou a operação que resultou na morte de Jean Charles—recebeu a Medalha de Honra da Rainha por serviços extraordinários, apesar de suas ações terem sido extremamente criticadas durante o julgamento.
Um porta-voz da família Menezes disse à época: “Recompensar a senhorita Dick após seu papel no maior escândalo policial da década mostra um tenebroso desrespeito tanto para a família de Menezes quanto para a opinião pública”.

Balas ocas

Em 2011, 3 mil oficiais da Polícia Metropolitana passaram a usar o mesmo tipo de bala utilizada pelos agentes envolvidos na morte de Jean Charles e que era proibida. A bala “dundun” é o nome que se dá popularmente a munições que, tendo a ponta oca ou fendida, se deformam ou estilhaçam ao encontrar o corpo da vítima, aumentando o diâmetro do ferimento e o estrago que provocam.

O armamento foi proibido pela Convenção de Haia de 1899, por motivos humanitários. De acordo com a Scotland Yard, este tipo de armamento não era utilizado desde julho de 2005.
À época, Jerry Savill, do Comando de Armamentos Especializados, disse que a munição foi escolhida depois de uma avalição que durou nove meses e custou 80 mil libras. Questionado sobre usar o mesmo tipo de bala  que matou Jean Charles, ele disse: “Stockwell foi um marco difícil na história da Polícia Metropolitana, mas a dificuldade então enfrentada não pode nos impedir de usar o melhor tipo de munição”.