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Forças a favor do governo sírio matam civis em Aleppo, diz ONU

Homem carrega idosa e seus pertences durante fuga de Aleppo, na Síria - Abdalrhman Ismail/ Reuters
Homem carrega idosa e seus pertences durante fuga de Aleppo, na Síria Imagem: Abdalrhman Ismail/ Reuters

13/12/2016 09h26

As forças sírias pró-governo mataram ao menos 82 civis, incluindo mulheres e crianças, no leste de Aleppo, onde estão entrincheirados grupos da oposição.

O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, disse que as vítimas morreram provavelmente nas últimas 48 horas em quatro bairro da zona leste.

Entre as vítimas há 11 mulheres e 13 crianças, disse Colville. Segundo ele, há informações de que os corpos estão nas ruas e não podem ser recolhidos por causa dos permanentes bombardeios.

Segundo a agência de notícias oficial "Sana", milhares de famílias deixaram nesta terça-feira os bairros do leste da cidade síria de Aleppo em direção a áreas em poder das autoridades, depois que o Exército tomou quase toda a metade oriental.

A televisão estatal síria mostrou imagens de centenas de deslocados que caminhavam, entre os quais havia mulheres, menores e idosos, por zonas em mãos dos soldados governamentais.

Ontem, o Exército nacional anunciou que controlava já 98% do leste de Aleppo, enquanto o Observatório Sírio de Direitos Humanos confirmou que mais de 90% da parte oriental está dominada das forças leais ao presidente Bashar al-Assad.

Os combates continuam hoje nos poucos bairros que seguem dominados pelos opositores no leste de Aleppo, como Al Ansari Oriental, Al Mashhad, zonas de Seif al Daula e Ard al Sibag.

Aleppo está a ponto de cair totalmente nas mãos do governo e seus aliados, no que se considera a "fase final" de uma ofensiva sem trégua contra os rebeldes, que já dura quatro semanas.

Imagens captadas por drone mostram a destruição em Aleppo

Reuters

Estes se retiraram na segunda-feira de outros seis bairros importantes da antiga capital econômica do país diante do avanço do exército e permanecem apenas em um pequeno setor da segunda cidade do país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

"Há um desmantelamento total dos rebeldes (...), a batalha de Aleppo se aproxima do fim", afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.

"Só é questão de tempo" antes de Aleppo cair totalmente sob o controle do regime de Bashar Al-Assad, já que os rebeldes apenas conservam dois bairros importantes, Sukkari e Al Machad.

Em Al Machad, algumas testemunhas contaram que quem fugiu das zonas conquistadas pelo exército, inclusive várias crianças, dormem nas calçadas ou em barracas. Muitos têm fome e não conseguiram levar nada consigo.

Nos bairros abandonados pelos rebeldes, "há cadáveres nas ruas", assegurou Rahman.

Esta retirada maciça ocorre horas depois da queda dos bairros de Sheij Said e Salhin.

A reconquista de Aleppo, dividida desde 2012 entre os bairros ao leste, controlados pelos rebeldes, e o setor oeste, nas mãos do regime, seria a maior vitória do governo contra os primeiros desde o início da guerra na Síria em 2011.

A ofensiva fulminante do exército de Damasco foi lançada no dia 15 de novembro com o apoio de combatentes iranianos e do Hezbollah libanês, e apoiada por bombardeios aéreos e de artilharia russos.

Fuga de civis

Mais de 10.000 civis fugiram dos bairros rebeldes nas últimas 24 horas para alcançar os setores sob controle governamental, segundo o OSDH.

No total, 130.000 civis abandonaram os bairros da oposição desde 15 de novembro, em cálculos da mesma fonte.

Na segunda-feira o papa Francisco enviou uma carta a Al-Assad para que detenha a violência e aplique o direito humanitário internacional para proteger os civis.

O conflito na Síria, desencadeado em 2011 pela sangrenta repressão às manifestações pacíficas pró-democracia no país, se transformou em uma complexa guerra que envolve muitos atores sírios e estrangeiros.

Em cinco anos, o enfrentamento deixou mais de 300.000 mortos e deslocou a metade da população.

Segundo o OSDH, 415 civis morreram em Aleppo pela ofensiva do regime e 130 por disparos rebeldes. (Com as agências internacionais)