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Venezuela anuncia saída da OEA após entidade convocar chanceleres para debater a crise política

Ariana Cubillos/AP
Imagem: Ariana Cubillos/AP

Do UOL, em São Paulo

26/04/2017 19h28Atualizada em 26/04/2017 21h36

A ministra de Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, anunciou nesta quarta-feira (26) que a Venezuela deixará a OEA (Organização dos Estados Americanos) em protesto pela convocação de uma reunião de chanceleres para avaliar a crise política no país.

Rodríguez já tinha ameaçado na noite anterior a retirada do país do organismo internacional caso o debate fosse convocado. Depois de quase um ano de deliberações e quatro sessões no último mês sobre o caso da Venezuela, uma maioria 19 países aprovou elevar o debate em nível de ministros de Relações Exteriores dentro da OEA. Não se especificou, por enquanto, nem quando nem onde acontecerá esse encontro de chanceleres, já que o único aprovado foi sua convocação.

Para deixar a OEA, é necessário aguardar dois anos após o início do processo. A Venezuela ainda precisa pagar o que deve ao órgão, cerca de US$ 8,7 milhões, segundo o estipula o artigo 143 da Carta da OEA, o documento fundacional de 1948.

"A OEA insistiu com suas ações intrusivas contra a soberania de nossa pátria, então procederemos para sair dessa organização", disse Rodríguez. "Nossa doutrina histórica é marcada pela diplomacia bolivariana da paz, que não tem nada a ver com a OEA", completou.

"Nesta quinta, tal como indicou o presidente, Nicolás Maduro, apresentaremos a carta de denúncia à Organização de Estados Americanos e iniciaremos um procedimento que demora 24 meses", disse Rodríguez no palácio presidencial de Miraflores, em mensagem transmitida pela rede estatal "VTV".

A chefe da diplomacia venezuelana denunciou ainda que está em execução um "roteiro pré-estabelecido" como aconteceu com Cuba em 1962 e que acabou com a suspensão desta nação do organismo continental. Além disso, acusou este "conclave de governos mercenários" de ter estimulado a onda de violência que a Venezuela vivenciou no último mês, período no qual ocorreram dezenas de protestos, que se saldaram com pelo menos 29 mortos, cerca de 500 feridos e mais de 1.000 detidos.

"Não é intromissão"

A chanceler argentina, Susana Malcorra, resumiu os argumentos a favor do encontro de chanceleres, ressaltando que é "nossa responsabilidade coletiva garantir o funcionamento das instituições". "Isso não é intromissão nos assuntos internos da Venezuela".

Mas o vice-ministro venezuelano, Samuel Moncada, denunciou uma sessão que "passará para a história como uma das mais obscuras desta organização". "Se está impondo uma decisão sobre um Estado soberano".

O governo Maduro acusa a organização, que tem sede em Washington, de ser um braço da Casa Branca. Sua penúltima reunião extraordinária, em 3 de abril, havia sido boicotada por Venezuela, Bolívia e Nicarágua e terminado com uma declaração na qual pedia para Caracas "restabelecer a ordem constitucional" e libertar presos políticos.

A crise no país se agravou no fim de março, quando o Tribunal Supremo de Justiça anulou todas as funções da Assembleia Nacional e assumiu para si a tarefa legislativa, decisão que foi revertida por conta das pressões sofridas pela corte, que é fiel a Maduro.   

Nesta quarta-feira, foram confirmadas mais duas mortes na onda de protestos e saques que cobre a Venezuela em abril. As vítimas são Christian Ochoa, um jovem de 22 anos baleado em Valencia, capital do estado de Carabobo, na última segunda (24), e Juan Pablo Pernalete, de 20, atingido no rosto por uma bomba de gás lacrimogêneo em Caracas.  (Com agências internacionais)