Maestro quebra silêncio e publica carta aberta sobre crise na Venezuela: "Já basta"
O maestro venezuelano de renome internacional Gustavo Dudamel, 36, publicou nesta quinta-feira (4) uma carta aberta, dirigida ao presidente e ao governo da Venezuela, em que pede um basta à confrontação e à violência no país.
Dudamel é ligado ao programa de educação musical chamado El Sistema, financiado pelo governo da Venezuela, e é diretor musical da Orquestra Sinfônica Simón Bolívar, fundada sob o mesmo programa.
Sua carta, intitulada "Levanto minha voz" e publicada em espanhol e em inglês, veio à tona após relatos de que um jovem chamado Armando Cañizales -- um violinista que fazia parte do Sistema -- teria sido morto durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro, em Caracas.
"Dediquei minha vida inteira à música e à arte como forma de transformar as sociedades. Levanto minha voz contra a violência e a repressão. Nada pode justificar o derramamento de sangue. Já basta de desatender o justo clamor de um povo sufocado por uma crise intolerável. Historicamente, o povo venezuelano tem sido um povo lutador mas jamais violento", começa Dudamel na carta.
"O exercício democrático implica escutar a voz da maioria, como baluarte último da verdade social. Nenhuma ideologia pode estar além do bem comum. A política deve ser feita a partir da consciência e no mais absoluto respeito à constitucionalidade, adaptando-se a uma sociedade jovem que, como a venezuelana, tem o direito de se reinventar e se refazer no saudável contrapeso democrático", continua.
"Faço um chamado urgente ao presidente da República e ao governo nacional para que se retifiquem e escutem a voz do povo venezuelano. Os tempos não podem estar marcados pelo sangue do nosso povo. Devemos a nossos jovens um mundo esperançoso, um país em que se possa caminhar livremente na dissensão, no respeito, na tolerância e no diálogo e em que os sonhos tenham lugar para construir a Venezuela que todos desejamos."
"É momento de escutar o povo: Já basta", finaliza o maestro.
A carta recebeu críticas de alguns setores da oposição na Venezuela, que acusaram Dudamel de ter se posicionado tarde demais contra o governo. Já outros aplaudiram a iniciativa do maestro.
Nesta quinta-feira, um policial e um estudante foram mortos, levando a 36 o total de vítimas nos confrontos políticos no país.
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