Selos podem financiar um míssil? Se depender da Coreia do Norte...
A Coreia do Norte lançou mais um míssil, mas desta vez ele vem no formato de selo. A agência oficial norte-coreana divulgou imagens de selos comemorativos para celebrar o segundo teste com o míssil balístico intercontinental, realizado no final de julho. Os selos mostram o desenho do que seria o míssil "Hwasong-14". Em um deles, está a foto do ditador Kim Jong-un rodeado de militares batendo palmas. O pedaço de papel, no entanto, pode ser uma forma indireta do regime de Kim Jong-un obter alguns dólares a mais e financiar seus projetos.
A emissão de selos é controlada pela estatal Korea Stamp Corporation, o dinheiro arrecadado pela venda do material vai parar no cofre do governo. No mercado, os selos norte-coreanos não são conhecidos por ter grande valor. No Brasil, por exemplo, é possível comprar um pacote com 500 selos norte-coreanos por R$ 150.
Apesar do baixo valor, os selos são fáceis de produzir e altamente lucrativos. "Para eles, é apenas papel impresso, que não custa quase nada e que se transforma em preciosos dólares", disse Willem van der Bijl, um holandês que vende e compra selos, à rede de TV CNN.
"Os selos norte-coreanos não têm grande valor para os colecionadores, pois são feitos em grande escala para propaganda do país e não são tão difíceis de serem encontrados e comprados", diz André Soffer, colecionador e comprador de São Paulo, a reportagem do UOL.
"O valor de cada selo é dado pela quantidade que foi emitido na época", afirma Ricardo Beltrame, um comprador e vendedor do Rio de Janeiro.
Segundo Beltrame, os selos norte-coreanos não são tão acessíveis. "A Coreia do Norte não está totalmente inserida no mercado de colecionadores de selos. O catálogo norte-coreano é mais voltado para o mercado de lá", diz.
Para Soffer, os colecionadores estão interessados nos temas como peixes, por exemplo, e não necessariamente pelo país de origem do selo.
"Se ele estiver, por exemplo, colecionando o continente asiático, com certeza [a Coreia do Norte] estará no seu radar. Mas a Coreia do Norte, como uma coleção por países, é pouco colecionado. Agora, em uma coleção por temas, é bem colecionado, por ter selos vistosos e com temas variados", diz Luiz Amato, comprador e colecionador de São Paulo. "O contexto político não é observado, na maioria dos casos, quando falamos de filatelia", acrescenta.
O regime norte-coreano não produz apenas selos de propaganda de seus feitos militares ou de temas políticos. Em um catálogo online mantido pela Korea Stamp Corporation é possível encontrar mais de 70 categorias de desenhos. Há tópicos como "história revolucionária" e "Kim Jong-un", mas também temas mais corriqueiros como transportes e animais. Entre as categorias destacadas estão "crustáceos" e "cogumelos", por exemplo.
A Coreia do Norte chegou a produzir selos com a imagem da princesa Diana nos anos 1980. Segundo Ross King, pesquisador de Ásia na Universidade da Columbia Britânica, na época os norte-coreanos achavam que os britânicos iriam comprar os selos. "Pyongyang tem sua indústria de selos voltada para o mercado de colecionadores e é uma fonte de obtenção de recursos", disse à CNN.
"Os selos norte-coreanos que têm mais valor são os de quando a Coreia era um império", diz Soffer. "A arte não influencia no valor", acrescenta.
Segundo os colecionadores, a China é o país que possui os selos mais valiosos. Os selos antigos até o final dos anos 1970 são bastante procurados e têm um grande valor de mercado. Além disso, os países asiáticos são os que hoje têm maior interesse por colecionar selos. Acredita-se que hoje exista 60 milhões de colecionadores de selos raros no mundo, cerca de 40 milhões só na Ásia. (*Com reportagem de Gabriel Melo)
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