Boca de urna aponta vitória de Merkel e ingresso de partido anti-imigração no Parlamento
Com a votação nas eleições gerais alemãs deste domingo (24) encerrada, pesquisa de boca de urna indica que a chanceler Angela Merkel será eleita para um quarto mandato. Após a divulgação do levantamento, ela agradeceu os votos e falou sobre os desafios de costurar uma coalizão.
O levantamento indica a maioria dos votos para a União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel, e sua legenda "irmã" na Baviera, a União Social Cristã (CSU), com 32,5%. Na segunda colocação, aparece o Partido Social-Democrata (SPD), com 20%.
Na terceira posição, está o partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 13,5%. É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que a Alemanha deve ter representantes de um partido de direita nacionalista com uma plataforma anti-imigração em seu Parlamento, o Bundestag.
Logo após a divulgação dos resultados, manifestantes foram para a frente da sede do partido de extrema-direita em Berlim para protestar.
Na sequência, estão o Partido Liberal Democrático (FDP), com 10,5%; o Partido Verde, com 9,5% e o partido A Esquerda, com 9%.
Em seu primeiro discurso após o final das eleições, Merkel comemorou a provável vitória, ainda que tenha admitido que esperava um resultado melhor.
Temos o direito de tentar formar um governo, e nenhum governo pode ser formado sem nós
Angela Merkel, chanceler da Alemanha
As especulações para uma possível coalizão são muitas agora que o segundo colocado, o candidato social-democrata Martin Schulz, principal adversário de Merkel, anunciou que o SPD não formará governo com Merkel --com isso, a legenda, atualmente na coalizão no poder, voltará à oposição.
"Hoje é um dia difícil e amargo para os social-democratas alemães. Não quero fazer rodeios: erramos nosso alvo e perdemos a eleição", diz Schulz, antes de agradecer a seus apoiadores e aos integrantes do SPD pelos esforços. "Claramente não conseguimos manter e expandir nossa base de eleitores tradicional."
Em seu pronunciamento, Merkel ainda afirmou que o ingresso da AfD no Parlamento alemão representa um "desafio" para seu governo. Ela disse que planeja recuperar os eleitores que votaram no partido populista de direita voltando atenção às suas preocupações e problemas.
Em seu discurso, Alexander Gauland, líder dos populistas de direita na Alemanha, disse que vai "caçar o governo".
"Vamos caçar o governo. Vamos recuperar nosso país e nosso povo", disse Gauland.
As urnas foram fechadas às 13h (horário de Brasília), quando a apuração começou.
Como foi a votação
Merkel votou em Berlim, enquanto o adversário Schulz foi às urnas em Würselen, no oeste do país.
Cerca de 61,5 milhões de alemães estavam aptos a votar. As últimas pesquisas antes da eleição indicavam uma vitória tranquila de Merkel, com vantagem de 14 pontos percentuais sobre Schulz.
Debaixo de chuva, Merkel chegou pouco antes de 14h30 (9h30 em Brasília) no seu local de votação, na Universidade Humboldt de Berlim, acompanhada de seu marido, Joachim Sauer.
Enquanto milhares de atletas que participavam da maratona de Berlim seguiam percorrendo as ruas da capital alemã, Merkel foi tranquila à cabine de votação antes de posar para dezenas de fotógrafos.
Algumas horas antes, em sua cidade natal e acompanhado da mulher, Inge, Schulz já tinha votado. O social-democrata minimizou o resultado das pesquisas e se mostrou otimista, lembrando que havia ainda um grande número de eleitores indecisos.
Schulz convidou os cidadãos a votar para decidir o "futuro democrático" do país. Nas redes sociais, o também ex-presidente do parlamento europeu pedia o voto por uma "Alemanha mais justa e mais forte, e por uma Europa de paz e de solidariedade".
Merkel é vista como liderança segura
Para muitos, Merkel é vista como uma liderança segura e uma força estabilizadora poderosa no continente europeu, em um momento de tensão mundial. Impulsionada por uma recuperação econômica crescente e por fatores externos como o Brexit --a saída do Reino Unido da União Europeia--, a eleição de Donald Trump nos EUA, e Rússia e Turquia a caminho do autoritarismo.
Com a vitória de Merkel, há esperança na Europa são altas de que a chancelar possa, juntamente com o presidente reformista da França, Emmanuel Macron, incentivar uma reforma e reestruturação da UE (União Europeia).
Se confirmado o resultado, Merkel ainda tem pela frente o desafio de lidar com o crescente populismo de direita na Alemanha --e na Europa. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) tem ganhado eleitores nos últimos pleitos, ainda amparados pelo discurso anti-imigração e racista.
Propostas da coalizão da chanceler
A coalizão CDU/CSU quer manter limitado o número de refugiados no país. Um limite concreto, no entanto, como pretende a CSU, não aparece no programa eleitoral. Ambos prometem uma lei que permita a entrada no país de trabalhadores qualificados que tenham um contrato para trabalhar na Alemanha. CDU e CSU não querem uma lei de imigração e prometem deportar todos os que tiverem os pedidos de asilo rejeitados.
Além da questão imigratória --Merkel é uma das líderes europeias que defendem uma mudança na política de asilo para que migrantes possam solicitar ainda na África o pedido de refúgio em países da União Europeia.
A segurança também é um tema relevante para a chanceler alemã depois de uma série de atentados terroristas no continente. Na Alemanha, um atropelamento com um caminhão em um mercado de Natal de Berlim deixou 12 mortos. A ideia é aumentar o número de policiais no país e ainda elevar os gastos com a defesa para 2% do Produto Interno Bruto da Alemanha até 2025 --como reivindicam a Otan e os Estados Unidos.
Seu partido prometeu cortes fiscais e pleno emprego em 2025 --o objetivo é reduzir a taxa de desemprego para menos de 3%. Um objetivo difícil, considerando que a média de 2017 é 5,9%.
A CDU/CSU defende também a flexibilização da jornada de trabalho e mais apoio aos empreendedores. A coalizão ainda quer eliminar cerca de 15 bilhões de euros em impostos. Além disso, a CDU promete que a chamada "taxa de solidariedade" seja extinta gradualmente entre 2020 e 2030 --recuando 0,5 ponto percentual por ano. Essa contribuição existe desde a década de 1990 principalmente para financiar os custos da reunificação alemã.
(Com DW)
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