Anúncio de armas nucleares recoloca Rússia no centro da política internacional, dizem analistas
O discurso televisionado que o presidente russo Vladimir Putin fez nesta quinta-feira (1º) ecoou pelo mundo. Ao anunciar que a Rússia desenvolveu e testou um novo arsenal nuclear que não pode ser interceptado por inimigos, o presidente reafirmou a posição central do país na política internacional.
O país, que nunca deixou de ser uma potência militar, assistiu a um discurso de tom armamentista às vésperas das eleições presidenciais do país, que acontecerão no dia 18 de março.
Para o professor Victor Gomes, coordenador do laboratório de estudos em política internacional da UFF (Universidade Federal Fluminense), o anúncio de Putin pode assustar a comunidade externa, mas são também uma estratégia política local. "O discurso dele atinge a demanda interna, no sentido de recuperar a "Grande Rússia" e o passado soviético, o que ecoa muito no povo russo ainda."
Ao mesmo tempo, ao apresentar um míssil nuclear, um drone subaquático movido a energia nuclear e um míssil hipersônico, todos que seriam impossíveis de ser interceptados, o político russo ameaçou as forças ocidentais.
O anúncio foi direcionado especialmente à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e aos Estados Unidos, que desenvolveram e instalaram sistemas antimísseis na Europa em 2016, violando acordos firmados entre os países ainda durante a Guerra Fria.
“A quebra dos acordos internacionais para controle de armas deixava claro que a nova Rússia, comandada por Putin, tinha que reagir”, afirma o professor Paulo Afonso de Carvalho, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.
Após o anúncio, o porta-voz do Pentágono, Dana White, informou que o serviço dos Estados Unidos não os pegou de surpresa. "O povo norte-americano pode ter certeza que estamos completamente preparados."
Armas nucleares e a política
Para Carvalho, a Rússia tem se posicionado na política internacional de forma a defender seus interesses. “Eles falam há tempos que os EUA estão rompendo os acordos de não-proliferação de armas, é nesse sentido que Putin diz que ‘Vocês vão nos escutar agora’”, diz o professor.
O uso de armamento nuclear como moeda de troca no jogo político internacional também não é um fator novo, como aponta Gomes. A Rússia nunca deixou de ser uma potência militar, por isso mantém seu lugar no Conselho de Segurança da ONU, inclusive. “Com esse anúncio espetacular de novas armas, o mundo vai sentar para ouvir o que a Rússia tem a dizer”, aponta o professor da UFF.
Uma coisa é inegável: com o discurso, um medo de uma nova corrida armamentista se instala entre Rússia e Ocidente.
O professor Paulo de Carvalho, no entanto, é categórico ao afirmar que uma nova espécie de Guerra Fria já está instalada no mundo. “Em novo contexto, já que não existe mais a oposição ideológica, visto que a Rússia é um país liberal tanto quanto qualquer outro”, diz.
Difícil, porém, é estabelecer qual país deu início à disputa, uma vez que os próprios Estados Unidos, além das defesas antimísseis instaladas na Europa em 2016, colocou a Rússia, junto com a China, na sua lista de possíveis ameaças à vantagem militar dos EUA no mundo em sua estratégia de defesa divulgada em janeiro de 2018.
“A Rússia nunca se curvou à hegemonia norte-americana, então uma reação de Putin à estratégia de defesa e a busca por renovação do arsenal não é uma surpresa”, comenta Gomes.
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