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EUA, Reino Unido e França bombardeiam Síria em resposta a uso de armas químicas

Do UOL, em São Paulo

13/04/2018 22h09Atualizada em 14/04/2018 22h24

Forças norte-americanas, britânicas e francesas bombardearam a Síria com mais de cem mísseis nos primeiros ataques ocidentais coordenados contra o governo de Damasco, tendo como alvo o que disseram ser centros de armas químicas em retaliação a um suposto ataque químico.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a ação militar da Casa Branca nesta sexta-feira (13), dizendo que os três aliados haviam "organizado seu poder justo contra a barbárie e a brutalidade".

Mais tarde, ele tuitou: "Missão cumprida".

O atentado representa uma grande escalada no confronto do Ocidente com a Rússia, aliado de Assad, mas é improvável que altere o curso de uma guerra multifacetada que matou pelo menos meio milhão de pessoas nos últimos sete anos.

Isso, por sua vez, levanta a questão de para onde os países ocidentais vão a partir daqui, depois de uma série de ataques classificados por Damasco e Moscou como imprudentes e inócuos.

Mapa dos ataques na Síria - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Na manhã deste sábado (14), os países ocidentais disseram que seu bombardeio havia sido encerrado por ora. A Síria divulgou um vídeo dos escombros de um laboratório de pesquisa bombardeado, mas também do presidente Bashar al-Assad chegando ao trabalho como de costume, com a legenda "Manhã de resistência".

Não houve relatos imediatos de vítimas. Os aliados de Damasco disseram que os edifícios atingidos haviam sido esvaziados com antecedência.

A Rússia prometeu responder a qualquer ataque contra seu aliado e disse no sábado que as defesas aéreas sírias haviam interceptado 71 dos mísseis disparados.

Mas o Pentágono disse que os EUA mantinham contatos para evitar conflitos com a Rússia antes e depois dos ataques, que os sistemas de defesa aérea síria haviam sido ineficazes e que não havia indicação de que os sistemas russos tivessem sido usados.

Em entrevista coletiva neste sábado, o Pentágono disse que os ataques durante a noite atingiram todos os alvos e tinham como objetivo dar um sinal inequívoco ao governo sírio e impedir o uso futuro de armas químicas.

Segundo autoridades, os ataques enfraqueceram significativamente a capacidade do presidente sírio Bashar al-Assad de produzir armas químicas e o Pentágono não estava ciente de nenhuma morte civil resultante da ofensiva.

Ataque limitado

A primeira-ministra britânica, Theresa May, descreveu o ataque como "limitado e direcionado", sem intenção de derrubar Assad ou intervir mais amplamente na guerra. Ela disse que autorizou a ação britânica depois que a inteligência indicou que o governo Assad era culpado de ter usado gás venenoso em Douma, subúrbio de Damasco, há uma semana.

7.abr.2018 - Voluntários limpam corpo de homem após o suposto ataque químico em Douma, perto de Damasco, atribuído ao governo da Síria - AFP PHOTO / HO / DOUMA CITY COODINATION COMMITTEE - AFP PHOTO / HO / DOUMA CITY COODINATION COMMITTEE
Voluntários limpam corpo de homem após o suposto ataque químico em Duma
Imagem: AFP PHOTO / HO / DOUMA CITY COODINATION COMMITTEE

Washington descreveu seus alvos como um centro perto de Damasco para pesquisa, desenvolvimento, produção e testes de armas químicas e biológicas, um local de armazenamento de armas químicas perto da cidade de Homs e outro local perto de Homs que armazenava equipamentos de armas químicas e abrigava um posto de comando.

O presidente russo, Vladimir Putin, pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU para discutir o que Moscou denunciou como um ataque injustificado contra um Estado soberano. 

A mídia estatal síria chamou o ataque de "violação flagrante do direito internacional". O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, chamou isso de crime e os líderes ocidentais de criminosos.

Inspetores da Organização para a proibição de Armas Químicas (Opaq) deveriam visitar Douma no sábado para inspecionar o local do ataque a gás em 7 de abril. Moscou condenou os Estados ocidentais por se recusarem a esperar por suas descobertas.

A Rússia, cujas relações com o Ocidente se deterioraram a níveis de hostilidade da era da Guerra Fria, negou qualquer ataque com gás ocorrido em Douma.

Dmitry Belik, membro do Parlamento russo que esteve em Damasco e testemunhou os ataques, disse à agência Reuters:

"O ataque foi mais de natureza psicológica do que prático. Felizmente não há perdas ou danos substanciais."
Pelo menos seis explosões foram ouvidas em Damasco e havia fumaça na cidade, segundo uma testemunha da Reuters. Uma segunda testemunha disse que o distrito de Barzah em Damasco foi atingido.

Um laboratório de pesquisa científica em Barzah parece ter sido completamente destruído, segundo imagens da TV estatal al-Ikhbariya. Havia fumaça vinda dos escombros e um ônibus estacionado do lado de fora estava muito danificado.

Assad forte

Mas a intervenção ocidental praticamente não tem chance de alterar o equilíbrio militar de poder em um momento em que Assad está em sua posição mais forte desde os primeiros meses da guerra.

A ajuda militar russa e iraniana nos últimos três anos permitiu a Assad esmagar a ameaça rebelde de derrubá-lo.
Estados Unidos, Reino Unido e França têm participado do conflito sírio durante anos, armando rebeldes, bombardeando combatentes do Estado Islâmico e enviando tropas para combater esse grupo. Mas os três países têm evitado atacar diretamente o governo Assad, além de uma saraivada de mísseis norte-americanos no ano passado.

Apesar de todos os países ocidentais terem dito durante sete anos que Assad deve deixar o poder, eles se negaram a atacar seu governo, faltando-lhe uma estratégia mais ampla para derrotá-lo.

(Com Reuters)