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Inteligente e carismático: quem foi João, o brasileiro assassinado em uma universidade dos EUA

João Souza tinha 19 anos e cursava o primeiro ano de engenharia  - Facebook
João Souza tinha 19 anos e cursava o primeiro ano de engenharia Imagem: Facebook

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL em São Paulo

17/04/2018 16h36

O nome simples, João Souza, refletia bem a personalidade de um jovem brasileiro carismático, bom de bola e muito inteligente, que, embora vivesse rodeado de amigos, foi vítima de um assassinato brutal no campus de uma universidade americana no último domingo (15). “The Brazilian wonder boy”, ou o brasileiro maravilha, como era conhecido por lá, foi morto a facadas por um jovem mascarado que invadiu seu dormitório por volta das 22h30 (horário local).

João tinha 19 anos e já cursava o primeiro ano de engenharia em Binghamton, uma das universidades mais prestigiadas do estado de Nova York. Mas sua fama de inteligente começou cedo, quando, dos 13 para 14 anos, se mudou para os Estados Unidos com os pais e a irmã.

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“A gente era calouro na mesma classe de história”, contou ao UOL Sammy Landino, 19, o primeiro amigo de João no colégio Blind Brook, também em Nova York. “O nosso professor o chamava de 'o brasileiro maravilha' porque ele sempre tinha ótimas respostas e um desempenho acadêmico impressionante.”

João foi apresentado a Sammy pelo orientador do colégio, e, desde então, não se desgrudaram. “Eu fui o primeiro cara que ele conheceu. Ele estava chegando da 8ª série no Brasil. Eu mostrei a ele toda escola, o ajudei a se situar e o apresentei a alguns amigos. Desde então, esse vínculo não se quebrou.”

Carioca, João viveu sua infância e início da adolescência em um condomínio de alto padrão em Niterói, Região Metropolitana do Rio. “Ele praticava esportes e gostava muito de música”, contou Lucas Meucci, 20, amigo de infância. “Era muito bom jogador. Sempre gostou de futebol.”

Flamenguista fanático, o hobby do garoto lhe rendeu fama também nos Estados Unidos. “Ele era um jogador de futebol incrível”, lembra Sammy. “Sempre usava camisas de times brasileiros e gostava de falar sobre isso de vez em quando.”

João com sua camisa do Flamengo, o primeiro sentado da esquerda para a direita, posa para foto no colégio Blind Brook  - Facebook - Facebook
João com sua camisa do Flamengo, o primeiro sentado da esquerda para a direita, posa para foto no colégio Blind Brook
Imagem: Facebook
João chegou a marcar o gol da vitória na final que trouxe o título do ano ao Blind Brook. “Nossa equipe só era competitiva por causa dele”, recorda-se Brian, 18, outro amigo de colégio que preferiu não divulgar o sobrenome. “Ele elevava o espírito de todo mundo quando entrava na sala. Estava sempre sorrindo.”

No Brasil, se não brincava de bola, ouvia música ou brincava de videogame com os colegas do condomínio. “Ele sempre foi muito eclético com música, gostava de tudo”, contou Vinícius Rocha, outro amigo de infância. “A gente tinha uma música favorita por semana”, lembra Meucci.

Mais do que futebol e música, a diversão favorita do garoto era outra. “Estar rodeado de pessoas.” Essa foi a resposta mais ouvida pela reportagem. “Ele era alto, bonito e sempre tinha um jeito de fazer você se sentir seguro e compreendido quando conversava”, recorda-se Sammy.

Em pouco tempo, João já era querido no colégio. “Nós o víamos como um brasileiro-americano”, diz. “Nós amávamos que ele era culturalmente diferente.”

Quando já estava no segundo ano do colégio, o jovem passou a integrar a organização das festas. “Ele ajudava nos bastidores dos palcos de música. Eu lembro do João se divertindo muitos nas festas. Mas, no fim, o mais importante para ele era a oportunidade de estar com as pessoas.”

O crime

O companheiro de quarto de João, o estudante Wen Zhong Xun, estava com a namorada no dormitório quando presenciou o crime. Ele se assustou com a entrada repentina do brasileiro, já ensanguentado. “Minha namorada e eu testemunhamos meu companheiro de quarto sendo brutalmente esfaqueado em nosso dormitório por um agressor mascarado”, conta.

Câmeras de segurança flagraram o suspeito deixando o dormitório do aluno e fugindo do campus - Divulgação - Divulgação
Câmeras de segurança flagraram o suspeito deixando o dormitório do aluno e fugindo do campus
Imagem: Divulgação
“De fora do quarto, nós o ouvimos gritando e gritando por ajuda. Quando abrimos a porta, ele entrou correndo, já esfaqueado. Atrás dele, vi o agressor perseguindo. Tentei fechar a porta, mas ele me dominou e entrou no quarto", relata o aluno.

"Nós três ficamos reféns de um assassino enlouquecido. [...] Entrei em pânico e peguei uma cadeira para tentar me defender. O agressor exigiu que eu e minha namorada ficássemos no quarto. Felizmente nós corremos e escapamos", conta Xun.

Câmeras de segurança flagraram o suspeito deixando o local do crime e fugindo do campus. De acordo com a universidade, a polícia acredita em assassinato premeditado. Um aluno identificado como Michael M. Roque, de 20 anos, foi detido como principal suspeito e encaminhado para a prisão do condado de Broome. Ele nega participação no crime.

Para os amigos de João, fica a perplexidade e a saudade. “Ele tinha um sorriso contagiante”, lamenta Sammy. Para Vinícius, o que sentirá mais falta é da “sua simplicidade e felicidade pelas pequenas coisas”. “É admirável, vai fazer muita falta, mas estará sempre conosco.”

João Souza na festa de formatura - Facebook - Facebook
João Souza, 19 anos
Imagem: Facebook