De motorista a fotógrafo: quem era um dos repórteres mortos em atentado no Afeganistão
Em 1996, Shah Marai foi contratado como motorista da agência de notícias francesa AFP no Afeganistão, seu país. Interessado pelo jornalismo, aprendeu fotografia sozinho e, nesta segunda-feira, (30), já como diretor de fotografia da empresa, foi um dos oito jornalistas mortos em um atentado na capital Cabul. Um homem-bomba se fez passar por repórter e matou profissionais de mídia que cobriam um outro atentado, em um ataque reivindicado pelo autodenominado Estado Islâmico.
De motorista a fotógrafo, Marai teve rápida ascensão na empresa de jornalismo e era considerado um profissional corajoso pelos seus colegas. Começou a fazer fotos ocasionalmente dois anos depois de ser contratado como motorista e em 2002, já era fotógrafo profissional.
"Minhas melhores lembranças são quando venço a concorrência e tenho a melhor foto do presidente ou de outra pessoa, ou do local de um ataque a bomba. Gosto de ser o primeiro", dizia o fotógrafo sobre sua profissão.
Sua vida e morte são um retrato da história do Afeganistão. Uma vez, foi espancado pelo Talibã porque escutava música enquanto dirigia. Mais tarde, dizia ter se vingado do grupo fotografando os ataques norte-americanos no país.
Com o fim do reinado do Talibã, "tudo voltou a ser possível, até mesmo as coisas mais simples, como ir ao cabeleireiro para fazer a barba", contava Marai.
Era então a idade de ouro do Afeganistão. A segurança era garantida em todo o país e a esperança renascia.
Mas os talibãs, derrotados sem combate, retomaram seus ataques em 2004. A princípio, os militares estrangeiros eram os principais alvos. Então, quando deixaram o país em 2014, foi a vez das forças de segurança afegãs. E, finalmente, os civis.
Em março de 2014, o jornalista Sardar Ahmad, também da AFP e um dos melhores amigos de Shah Marai, foi morto com esposa e filhos em um hotel considerado seguro em Cabul. Os talibãs reivindicaram o ataque. ?Shah Marai sentiu fortemente o golpe, mas continuou seu trabalho.
Noites em branco
Em 2015, o grupo Estado Islâmico se instalou no Afeganistão, multiplicando os ataques. O clima de medo era latente. O ar se tornou irrespirável. As imagens poderosas de Marai contam a história da guerra, terror e sangue.
Em meados de 2016, em viagem a Paris, descreveu "as noites sem dormir", passadas em branco fumando. Seu desejo de deixar o país aumentava, como o de dezenas de milhares de outros afegãos.
De grandes olhos azuis claros, piada sempre pronta e seu auto-proclamado título de "campeão de pingue-pongue do escritório de Cabul", Marai deixa seis filhos - a mais nova nasceu há duas semanas.
"Ele morreu fazendo seu trabalho, como fazia há duas décadas", homenageou o correspondente do New York Times em Cabul, Mujib Mashal.
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