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Com abstenção de 52%, Maduro se reelege, e opositores pedem novas eleições

Do UOL, em São Paulo*

21/05/2018 00h06

Com 92,6% das urnas apuradas e abstenção de 52% do eleitorado, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela) confirma a vitória de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela. O atual presidente se reelegeu com 5,8 milhões de votos (67,7%), 4 milhões a mais que Henri Falcón, que obteve 1,8 milhões de votos (21,1%). Javier Bertucci teve apenas 925 mil votos (10,8%), e Reinaldo Quijada, 34 mil (0,40%).

As eleições presidenciais, que começaram neste domingo (20) às 6h no horário local (7h em Brasília) deveriam se encerrar às 18h. No entanto, às 21h ainda havia colégios eleitorais abertos. Eles foram encerrando as atividades progressivamente ao longo deste tempo.

O atual presidente  havia indicado mais cedo que os locais de votação continuariam a atender as pessoas que estavam na fila após o fim do horário oficial. Tradicionalmente, o CNE prolonga o dia para "garantir o direito" ao sufrágio.

Opositores condenam à prática como uma forma de fraude, pois consideram que se trata de uma medida para conseguir mais votos para Maduro.

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Opositores não reconhecem resultado

O recém-reeleito Maduro convocou os três candidatos derrotados e os líderes promotores da abstenção para um diálogo a fim de diminuir as diferenças e enfrentar a crise do país.

"Henri Falcón, Javier Bertucci (...) todos os líderes da oposição, que nos reunamos, nos encontremos e falemos da Venezuela. Convido-os aqui e assumo a responsabilidade deste chamado", disse Maduro nos arredores do palácio de Miraflores, em frente a centenas de simpatizantes.

Antes de terminar o dia de votação, tanto Falcón como Bertucci denunciaram que foram registradas mais de mil violações à lei eleitoral cometidas pelo chavismo governante e acusaram Maduro de usar "pontos vermelhos" de controle para obrigar o "povo" a votar pelo candidato à reeleição.

Os chamados "pontos vermelhos" eram tendas montadas pelo chavismo para controlar os votos. Em Catia, a Efe testemunhou a alegria de um homem que contava a outro ter recebido uma mensagem no celular informando sobre o recebimento de um bônus após ter confirmado o voto para Maduro no "ponto vermelho".

A maior parte das pessoas se negava a falar com jornalistas por temer os "coletivos chavistas" que defendem a revolução.

Os opositores também acusaram o oficialismo de "comprar votos" ao oferecer bônus aos votantes que votassem com a chamada "carteira da pátria" no candidato chavista. Eles asseguraram que o chavismo praticou o "voto assistido" ao acompanhar centenas de votantes no ato, o que seria uma participação sob coação.

Falcón afirmou que desconhecerá os resultados devido às reiteradas violações aos acordos pré-eleitorais por parte de Maduro, e exigiu que o processo se repita em outubro deste mesmo ano.

"Não reconhecemos este processo eleitoral como válido", disse Falcón. "Para nós, não houve eleições. É preciso fazer novas eleições na Venezuela. Não é uma colocação, viemos fazer exigências", disse o candidato opositor.

Bertucci, por sua vez, pediu ao já reeleito presidente repetir as eleições e apontou que "este país ficou grande para o candidato oficialista". "Faço um apelo a ele: o mais valente que pode fazer pela Venezuela é repetir as eleições e deixar que esta nação renasça", disse, ao mesmo tempo pedindo ao país para não perder a esperança.

Bertucci insistiu em que Maduro teve "vantagem" ao oferecer ajudas sociais com "os recursos do Estado" e ao utilizar "os pontos vermelhos para tentar comprar e oferecer descaradamente bônus e dinheiro às pessoas que votavam".

A presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, anunciou os resultados após um brevísimo discurso no qual pediu "a todos, nacionais e estrangeiros, que respeitem os resultados eleitorais, que respeitem o povo da Venezuela que decidiu e decidiu em paz".

No exterior, os EUA anunciaram no final do domingo que não reconhecerão o resultado da eleição. Além disso, o chamado Grupo de Lima, que reúne diversos países da América, inclusive o Brasil, divulgou um comunicado em que não se manifesta diretamente sobre o pleito, mas reitera o compromisso de prestar assistência aos venezuelanos diante da crise. 

Eleições esvaziadas

O dia foi marcado por locais de votação vazios e protestos de venezuelanos erradicados em outros países, como Estados Unidos, Colômbia e Peru. 

Durante todo o dia de votação, as agências de notícias descreveram locais de votação vazios e atribuíram o esvaziamento a um boicote convocado pelos opositores. 

As ruas e seções eleitorais vazias podem ser consequência de um boicote convocado pela principal aliança de oposição, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), que não participou do pleito.

"Como não denunciar quando se leva as pessoas como se fossem cordeirinhos? Tem que dar liberdade às pessoas", expressou Bertucci após votar.

Adversário de Maduro vota na Venezuela

AFP

O comércio, por sua vez, funcionou normalmente neste domingo, registrando grandes filas.

No Colégio Miguel Antonio Caro, a seção eleitoral do presidente e candidato à reeleição Nicolás Maduro, havia mais pessoas esperando o ônibus para ir à praia do que para votar, relatou a agência Efe.

Alguns diziam à agência, sem gravar entrevista por medo de represálias, que a abstenção venceu as eleições.

No centro da cidade, Marcos Rojas, um aposentado de 63 anos, disse que não votaria porque as eleições já estavam definidas. "De qualquer forma, quem vai vencer é o presidente. Além disso, não confio no Conselho Nacional Eleitoral para nada", afirmou.

Venezuelanos que votaram criticam o boicote

"Se as pessoas seguirem pensando desta maneira nunca vamos sair disso. Elas não pensam que têm uma oportunidade de escolher o destino de nosso país", disse também à Efe a dona de casa Rosa Colmenares, criticando os compatriotas que não foram votar.

Venezuela vai às urnas na eleição presidencial

AFP

Poucas pessoas estavam na seção eleitoral de Colmenares no leste de Caracas. Apesar disso, ela pediu que os venezuelanos pensem com o coração e pensem diferente para conseguir uma mudança de governo.

No outro lado da cidade, no bairro de Catia, um reduto do chavismo no oeste de Caracas que também estava pouco movimentado, o operário Francisco Azuaje concorda.

"Vim votar para ver se mudamos o país. Não estou de acordo com a convocação pela abstenção", afirmou.

A presidente da Assembleia Constituinte da Venezuela, Delcy Rodríguez, deu um depoimento nesta noite dizendo que "o grande perdedor destas eleições foi o boicote". 

(com Efe, AFP e Reuters)