Greenpeace chama fala de Bolsonaro na ONU de farsa; WWF critica polarização
O discurso do presidente Bolsonaro hoje, na ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, levou a críticas de ambientalistas.
Para Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, a fala do presidente sobre meio ambiente "foi uma farsa".
"Bolsonaro tentou convencer o mundo que protege a Amazônia, quando, na verdade, promove o desmonte da área socioambiental, negocia terras indígenas com mineradoras estrangeiras e enfraquece o combate ao crime florestal. Sob sua gestão, as queimadas, o desmatamento e a violência aumentaram de forma escandalosa. Para a floresta e seus povos, Bolsonaro é um problema, não a solução", disse.
Em nota, o WWF Brasil afirmou que o discurso "acentuou o divisionismo e a polarização, apontando inimigos imaginários e deixando de reconhecer problemas urgentes do Brasil, bem como sua responsabilidade, como presidente, para solucioná-los".
"Os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) têm demonstrado uma tendência de aumento real e preocupante no desmatamento da Amazônia, assim como nos focos de queimadas por toda a região. Quem vive na Amazônia observa esse aumento em seu dia a dia, seja nas fumaças que cobrem a região, seja observando o crescimento das invasões ilegais em territórios indígenas e Unidades de Conservação. É uma pena que este governo não compreenda a importância da acabar com o desmatamento no país para proteger o futuro inclusive de nossa agricultura", afirmou.
Para a entidade, Bolsonaro "não demonstrou nenhuma preocupação com a questão ambiental ou climática, não mencionou o Acordo de Paris, reiterou que não acredita na ciência e não se comprometeu em dedicar esforços para reduzir desmatamento ou emissões".
"Ao quebrar a histórica liderança do país na área ambiental perante outras nações, esta postura acentua a preocupação internacional e dos mercados sobre a capacidade do Brasil de proteger a Amazônia e contribuir com a redução dos efeitos das mudanças climáticas, podendo afastar o crescente número de investidores responsáveis, alinhados com a visão de um desenvolvimento sustentável que respeite o meio ambiente e contribua com o enfrentamento da crise climática", diz.
A diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, avaliou que o governo "perdeu uma oportunidade' de manifestar comprometimento com a preservação ambiental, além de ter visto um "tom divisório" em sua fala.
"O presidente negou abertamente os dados e fatos que mostram o nível assustador da devastação da Amazônia e outros biomas do país, atacou uma liderança indígena abertamente - o cacique Raoni, um defensor de seus direitos e dos direitos dos seus povos -, e responsabilizou as populações tradicionais pelas queimadas dos biomas no país", disse.
"Bolsonaro adota um discurso divisório. Alertamos para os riscos da adoção de discursos que expõem determinados grupos e indivíduos, como os defensores e as defensoras dos direitos humanos e do meio ambiente."
O Observatório do Clima chamou o discurso de Bolsonaro de "ecocídio", afirmando que o presidente "envergonhou o Brasil no exterior ao abdicar a tradicional liderança do país na área ambiental em nome de sua ideologia".
Outro ponto que chamou a atenção é que Bolsonaro citou que o fogo na Amazônia é autoprovocado.
O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, afirma que, no caso da região amazônica, por exemplo, não há um processo natural que provoca queimadas, como o calor que atinge o cerrado.
"Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então, é diretamente causado pela ação do homem", afirmou.
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