Bolsonaro chega à Arábia Saudita atrás de investimento e de acalmar relação
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou hoje a Riad, capital da Arábia Saudita, por volta das 13h40 (horário de Brasília). Os principais objetivos da visita são atrair investimentos dos bilionários fundos sauditas e apaziguar qualquer mal-estar ainda existente após ideia de transferir a embaixada do Brasil em Israel.
A Arábia Saudita é o último país a ser visitado por Bolsonaro na viagem oficial pela Ásia e pelo Oriente Médio iniciada em 19 de outubro. Ele já passou por Japão, China, Emirados Árabes Unidos e Qatar.
Bolsonaro deve apresentar uma carteira de projetos em infraestrutura, energia renovável, saúde, defesa e no pré-sal. Apenas do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), 18 projetos de concessões e privatizações estimados em R$ 1,23 bilhão serão propagandeados. A venda de aeronaves militares, incluindo o recém-lançado KC390 da Embraer, também deverá ser discutida.
Outro foco do governo será ampliar os negócios agropecuários e apaziguar o mal-estar causado pelo anúncio da transferência da embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém no início do ano.
Diante de ameaças de boicote à importação de produtos brasileiros pelos árabes e de reclamações de empresários ao Planalto, Bolsonaro recuou da promessa de campanha e decidiu pela abertura de escritório comercial da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) sem status diplomático em Jerusalém.
A cidade é considerada santa pelo cristianismo, judaísmo e islamismo, reivindicada como capital tanto por Israel quanto pela Autoridade Palestina, e sempre se viu envolta em disputas religiosas e de poder.
Os países árabes são grandes compradores do agronegócio brasileiro de alimentos com certificação halal. Ou seja, que seguem as instruções muçulmanas para o abate. Após o imbróglio, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Agricultura tiveram que enviar comitiva aos países do Golfo Pérsico para acalmar os ânimos.
Nessa visita do presidente, a intenção é pôr um ponto final na discussão, além de reforçar o Brasil como fornecedor confiável e local propício para investimentos também no campo.
Um tema que pode ser comentado pelos investidores árabes é a possibilidade de compra de mais terras no Brasil. Hoje, eles esbarram na limitação de venda a estrangeiros determinada pela legislação brasileira. A questão não é ponto pacificado dentro do governo.
Príncipe recebe Bolsonaro com jantar
À noite, Bolsonaro vai jantar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, no distrito histórico de Al-Turaif. Na prática, a Arábia Saudita hoje é governada pelo príncipe herdeiro. Ele tem tentado mostrar uma imagem de abertura maior do país nos últimos anos, como autorização controlada para cinemas e permissão para que mulheres possam dirigir.
O governo saudita lançou um programa chamado "Vision 2030" com metas a serem alcançadas até 2030. Entre elas estão fortalecer a cultura islâmica e a identidade nacional, oferecer uma vida saudável, diversificar a economia - baseada na exploração de petróleo -, aumentar oferta de empregos, melhorar a eficiência do governo e desenvolver responsabilidade social.
A Arábia Saudita abriga duas das cidades sagradas para o Islã: Meca e Medina. Hoje o turismo no país é basicamente por motivos religiosos. Agora o governo quer explorar o potencial turístico em outras frentes com passeios em ruínas históricas e a instalação de resorts à beira do Mar Vermelho até porque vê países vizinhos, como Bahrein e Emirados Árabes Unidos, lucrarem com investimento maciço no setor.
No mês passado, a possibilidade de entrada na Arábia Saudita por cidadãos de 49 países foi anunciada. No entanto, o Brasil não foi contemplado.
Presidente fará propaganda do Brasil na 'Davos do deserto'
Amanhã, Bolsonaro começará o dia com reunião com o presidente do Grupo Goldman, Sachs &Co, John Waldron. À tarde, volta a se encontrar com o príncipe herdeiro no hotel de alto luxo em que parte do fórum Future Investment Initiative está sendo realizada.
O evento é propagandeado pelos organizadores como a "Davos no deserto", em referência à cidade suíça que abriga o Fórum Econômico Mundial.
O dia será encerrado com participação em jantar oficial aos chefes de Estado e de governo presentes ao Future Investment Initiative oferecido por Bin Salman.
Na quarta, Bolsonaro discursará no fórum em painel intitulado "Volta à prosperidade. Um ambiente de investimento global pode colocar o Brasil de volta ao jogo?". O presidente deve falar sobre as reformas promovidas no Brasil, como a da Previdência recém-aprovada, privatizações, concessões e de como o país quer continuar a ser um parceiro da Arábia Saudita em negócios agropecuários.
Bolsonaro será o convidado em almoço com o rei da Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz Al Saud, no Palácio Erga. Eles ainda se reunião a sós, depois com ministros, e, então, assinarão atos entre os dois países. O conteúdo não foi divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores até o momento.
O último compromisso oficial de Bolsonaro em Riad acontecerá às 16h, quando dará início a um seminário empresarial sobre o Brasil no Conselho das Câmaras Sauditas. Em seguida, embarca de volta ao Brasil, com escala na ilha de Las Palmas, nas Ilhas Canárias. A expectativa é que o presidente e a comitiva cheguem a Brasília às 6h10 de quinta (31).
Arábia Saudita é maior parceiro comercial no Oriente Médio
O Brasil e a Arábia Saudita estabeleceram relações diplomáticas em 1968, com embaixadas estabelecidas nos respectivos países em 1973. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, as relações se fortaleceram a partir dos anos 2000, quando o então príncipe herdeiro, e ex-rei, Salman Bin Abdulaziz Al Saud, visitou o Brasil. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi para a Arábia Saudita em 2009.
Dados do Itamaraty revelam que a Arábia Saudita é o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio, sendo o maior fornecedor de petróleo ao país com 33% de toda a importação do produto.
No ano passado, o intercâmbio comercial entre os dois países chegou a US$ 4,4 bilhões. A maior parte das exportações brasileiras é formada por produtos básicos, mas a participação de manufaturados e semimanufaturados vem ganhando espaço. Em 2018, essa parcela correspondeu a 36,1% das vendas do Brasil à Arábia Saudita.
*A jornalista viajou a convite do governo da Arábia Saudita.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.