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Apesar de apelos, Trump e lideranças de Irã e Iraque sobem tom em ameaças

Igor Mello

Do UOL, no Rio

06/01/2020 13h44

Resumo da notícia

  • Apesar dos apelos da comunidade internacional, Irã e Estados Unidos ampliaram hostilidade nos últimos dias
  • A escalada retórica entre os dois países vem aumentando desde o dia 2, quando o general Qassim Suleimani foi morto pelos EUA
  • Autoridades do Irã prometeram vingança e o Parlamento do Iraque decidiu expulsar as tropas americanas. Trump retrucou

Apesar de apelos da comunidade internacional, o presidente norte-americano, Donald Trump, e lideranças do Irã e do Iraque não recuaram e aumentaram a escalada de ameaças desde a ação dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassim Suleimani.

Desde o dia 2 de janeiro —quando um bombardeio feito por um drone americano matou Suleimani e ao menos outras oito pessoas em um aeroporto de Bagdá, capital iraquiana— a tensão entre os dois países vem aumentando, apesar dos apelos da comunidade internacional para uma saída pacífica para a crise.

Considerado um dos homens mais importantes do seu país, Suleimani era o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã. Ele teve participação direta na guerra da Síria, articulando o apoio iraniano a milícias sírias que combateram o Estado Islâmico e defenderam o regime do presidente Bashar Al Assad.

Promessa de vingança

Logo após a morte do general, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, prometeu 'vingança implacável" contra os norte-americanos.

"O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos estes anos (...) Se Deus quiser, sua obra e seu caminho não vão parar aqui e uma vingança implacável espera os criminosos que encheram as mãos com seu sangue e a de outros mártires", afirmou o aiatolá Khamenei em sua conta no Twitter em farsi.

A filha de Suleimani, Zeinab Suleimani, encontrou-se com Khamenei e o presidente iraniano, Hassan Rouhani, no último sábado (4). No encontro, ela pediu aos comandantes do país que seu pai fosse vingado.

O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, classificou a ação dos EUA como "escalada extremamente perigosa e imprudente".

Retrocesso em acordo nuclear

Em resposta ao ataque americano, o governo iraniano anunciou ontem que não estabeleceria mais limites ao enriquecimento de urânio em seu programa nuclear —as autoridades locais sustentam que o projeto tem fins pacíficos.

Para analistas, o anúncio marca o fim o acordo nuclear firmado entre o Irã e as principais potências militares mundiais (EUA, Reino Unido, China, Rússia e Alemanha). Em 2015, os iranianos se comprometeram a limitar o enriquecimento de urânio em suas usinas, em troca da reavaliação de sanções econômicas impostas ao país pelo Ocidente.

Trump decidiu, em maio de 2018, romper o trato, impondo novas sanções ao Irã. O presidente norte-americano adotou a justificativa de que o país patrocinava grupos terroristas e estaria perto de obter armas nucleares.

Líderes europeus pedem "responsabilidade"

Também no domingo (5), os principais líderes europeus divulgaram um comunicado defendendo uma solução pacífica para a relação entre Estados Unidos e Irã.

Angela Merkel (chanceler da Alemanha), Emmanuel Macron (presidente da França) e Boris Johnson (primeiro-ministro do Reino Unido) assinam o comunicado. No texto, o grupo diz estar "profundamente preocupado com o papel negativo que o Irã tem desempenhado na região, particularmente por meio das Guardas Revolucionárias e da unidade al-Quds sob o comando do general Suleimani".

Os líderes europeus não citaram nominalmente os Estados Unidos na nota. Mas pregaram que "é urgente reduzir esta escalada. Apelamos a todas as partes que mostrem máxima moderação e responsabilidade. A atual espiral de violência no Iraque deve terminar. Particularmente, convocamos o Irã a evitar futuras ações violentas ou o apoio a elas", diz o comunicado de Merkel, Macron e Johnson.

Iraque decide expulsar tropas americanas

Em resposta ao ataque contra Suleimani —que também matou militares iraquianos e um líder de uma milícia local— o Parlamento do Iraque decidiu expulsar as tropas norte-americanas de seu território.

Os Estados Unidos mantêm hoje cerca de 5.000 homens em território iraquiano, com base em um acordo assinado em 2014 para que os americanos ajudassem no combate ao Estado Islâmico —que chegou a dominar parte significativa do território do país.

Embora o governo iraquiano não seja obrigado a cumprir a moção aprovada pelo Parlamento, a tendência é de que isso ocorra, já que a medida foi adotada a pedido do primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi. "Apesar das dificuldades internas e externas que podemos enfrentar, isso é melhor para o Iraque, em princípio e na prática", afirmou Mahdi.

Em resposta, Trump prometeu adotar sanções econômicas contra o Iraque, caso os militares americanos sejam obrigados a deixar o país.

"Vamos impor a eles sanções como eles nunca viram", afirmou Trump a jornalistas durante voo do Air Force One, o avião presidencial americano. Ele viajava da Flórida, onde passou as festas de fim de ano, para Washington.

Trump ainda condicionou a saída das tropas americanas ao pagamento, pelo Iraque, dos custos de manutenção das mesmas no país.

"Nós temos lá uma base aérea extraordinariamente cara. Custou bilhões de dólares para ser construída, muito antes do meu período [como presidente]. Não sairemos a menos que eles nos paguem", disse.