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Brasileiros deportados dos EUA chegam a Belo Horizonte em voo fretado

Bandeira dos Estados Unidos - Brian Lawdermilk/Getty Images
Bandeira dos Estados Unidos Imagem: Brian Lawdermilk/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

25/01/2020 09h58

Um grupo de brasileiros deportados dos Estados Unidos desembarcou na noite de ontem no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins. O voo fretado pelo governo americano partiu de El Paso, no Texas, e aterrissou no Brasil por volta das 23h55.

De acordo com informações passadas ontem pelo governo americano ao Ministério das Relações Exteriores, são cerca de 70 pessoas — o número exato ainda é desconhecido pelas autoridades brasileiras. A checagem final ainda não foi divulgada.

"Nunca mais. Não tenho inimigos, mas se tivesse, não desejaria isso pra eles", disse Renê Lima, de Parauapebas no Pará, ao desembarcar em Confins. O paraense afirma que muitos passageiros viajaram algemados, nas mãos e pés.

Famílias inteiras estavam no voo. Pais, mães e filhos. A maioria de Minas Gerais. Em alguns casos, mães e filhos. Muitos escondendo os rostos. Todos com uma pequena sacola nas mãos, ou com um plástico em que o governo dos Estados Unidos colocou objetos pessoais, como telefones. Parte estava apenas com a roupa do corpo.

"Voltei só com a Bíblia", disse Renê, que na chegada ainda teve o plástico utilizado para os objetos trocado. Acabou tendo às mãos o telefone de um outro passageiro, e não sabia o que faria para devolver. Segundo ele, que é soldador, sua detenção nos Estados Unidos aconteceu há quatro meses. "Fui para a Cidade do México e, de lá, peguei outro avião para Juarez", conta.

O soldador afirma que pulou o muro que está sendo construído pelo governo dos Estados Unidos na fronteira com o México. "Fica um coiote embaixo, que te ajuda, e outro em cima do muro que te puxa".

A "estratégia" foi confirmada por outros passageiros. "O muro só é alto próximo das cidades. Na parte mais afastada, é baixo", disse um passageiro que não quis se identificar.

Renê diz que foi preso no dia em que chegou a Juarez e tentou atravessar a fronteira. Conta ter ficado cinco dias em uma prisão federal. "Você vai para a Corte. O juiz te dá sentença. Peguei cinco dias. Fiquei em cela com outras quatro pessoas".

Em seguida, relata o paraense, foi enviado para a imigração onde, contou, ficava em celas com 50 pessoas até ontem. Famílias com crianças ficavam em tendas. "Somos muito mal tratados nos Estados Unidos. Vou para Portugal", disse. Ele disse que, com a ajuda de amigos, pegaria um ônibus para o Pará, onde vai organizar sua ida para a Europa.

No voo, conforme o soldador, todos os homens ou mulheres solteiras estavam com algemas nas mãos e pés. Mães com filhos, não. Isso também foi confirmado por outros passageiros. Renê contou que, durante toda a viagem, os passageiros comeram um sanduíche de mortadela e tomaram uma garrafa pequena de água.

A tripulação do avião era de 25 pessoas. O número maior do que o habitual para viagens internacionais é por conta de seguranças colocados no aparelho para acompanhar os deportados.

O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem facilitado a deportação de cidadãos que vivem ilegalmente nos Estados Unidos, segundo a agência Reuters. Em outubro do ano passado, 70 pessoas foram deportadas num avião fretado. Os voos são os primeiros autorizados pelo Brasil desde 2006.

Ainda segundo a agência, o número de brasileiros presos pela ICE (Agência de Imigração e Alfândega dos EUA) na fronteira com o México subiu para 17.900 no ano fiscal de 2019, um aumento de mais de dez vezes em relação ao ano anterior, segundo dados do governo americano.

* Com informações de Estadão Conteúdo