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Laboratório chinês nega ter ligação com covid-19: "teoria da conspiração"

Instituto de Virologia de Wuhan abriga o maior banco de vírus da Ásia                              - Hector Retamal/AFP
Instituto de Virologia de Wuhan abriga o maior banco de vírus da Ásia Imagem: Hector Retamal/AFP

Do UOL, em São Paulo

19/04/2020 08h49

O vice-diretor do Instituto de Virologia de Wuhan, cidade chinesa onde a pandemia do novo coronavírus começou, negou acusações de que tenha responsabilidade sobre a origem da covid-19. Para Yuan Zhiming, essa é uma "teoria da conspiração".

"Como pessoas que realizam estudos virais, sabemos claramente que tipo de pesquisa está sendo realizada no instituto e como o instituto gerencia vírus e amostras. Como dissemos anteriormente, não há como esse vírus vir de nós", disse Yuan à CGTN, emissora de televisão do governo chinês.

Zhiming é especialista em microbiologia e biotecnologia. Em seu currículo, ele tem trabalhos na França, na Dinamarca e nos Estados Unidos.

Ainda sobre o laboratório, o vice-diretor disse que tem "um regime regulatório rigoroso e um código de conduta de pesquisa".

Para ele, algumas pessoas vincularam o laboratório ao surto da covid-19 porque ele é baseado em Wuhan. E as teorias geradas a partir de sua localização levaram ao engano.

Maior banco de vírus

Segundo a AFP, o Instituto de Virologia de Wuhan abriga o Centro de Cultivo de Vírus, maior banco de vírus da Ásia, onde são preservadas mais de 1,5 mil variedades.

Dentro do complexo, encontra-se o maior laboratório da Ásia de segurança máxima, capaz de manipular patógenos de classe 4 (P4), vírus perigosos transmitidos entre pessoas, como o ebola.

O laboratório foi concluído em 2015, embora não tenha sido aberto até 2018. O francês Alain Merieux, fundador de una empresa bioindustrial, assessorou a construção

O laboratório P4, de 3.000 m², está localizado em um prédio quadrado com um anexo cilíndrico, aos pés de uma colina, nos arredores de Wuhan. Em visita recente, a AFP não observou atividade em seu interior.

O laboratório é a origem do novo coronavírus?

O jornal "The Washington Post" e o canal de TV Fox News citaram fontes anônimas que indicam que o vírus pode ter saído, acidentalmente, do complexo.

Segundo documentos diplomáticos aos quais o Post teve acesso, autoridades estavam preocupadas com a segurança inadequada dos pesquisadores ao manipularem vírus parecidos com o da Sars.

De acordo com a Fox News, o "paciente zero" da pandemia pode ter sido infectado por uma variedade de vírus de morcego que estava sendo estudada no laboratório e que foi transmitido para a população de Wuhan.

Ao ser questionado sobre esta hipótese, o presidente americano, Donald Trump, disse que, "cada vez mais, estamos ouvindo esta história", e que seu país realiza uma "investigação profunda".

O instituto explicou ter recebido em 30 de dezembro o novo coronavirus, até então desconhecido. Em 2 de janeiro, determinou o sequenciamento do genoma viral, e submeteu a informação sobre o patógeno à OMS (Organização Mundial da Saúde) em 11 de janeiro.

O porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian, também descartou as suspeitas sobre o laboratório. "Uma pessoa entendida irá compreender que a intenção é criar confusão, desviar a atenção do público e se esquivar da responsabilidade", criticou Zhao, que citou rumores de que o Exército americano poderia ter levado o vírus para a China.

De onde veio o vírus?

Cientistas acreditam que o vírus tenha surgido de um morcego e sido transmitido para o homem através de uma espécie intermediária, possivelmente o pangolim.

Mas um estudo de um grupo de cientistas chineses publicado em janeiro na revista "The Lancet" revela que o primeiro paciente com Covid-19 não tinha nenhuma ligação com o mercado de animais de Wuhan, tampouco 13 dos primeiros 41 pacientes.

Shi Zhengli, uma das principais especialistas chinesas em coronavírus de morcego e vice-diretora do laboratório P4, fez parte da equipe que publicou o primeiro estudo sugerindo que o Sars-CoV-2 (nome oficial do vírus) vinha dos morcegos. Em entrevista à revista "Scientific American", ele afirmou que o genoma do Sars-CoV-2 não coincide com nenhum dos coronavírus de morcego que seu laboratório já estudou.

Segundo Filippa Lentzos, pesquisadora de biossegurança na King's College de Londres, embora não haja provas sobre a teoria do acidente no laboratório, tampouco há "provas reais" de que o vírus tenha vindo do mercado. "Para mim, a origem da pandemia ainda é uma pergunta sem resposta", assinalou.

(Com AFP)