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Dados da covid-19 nos EUA agora serão coletados pelo governo, não pelo CDC

Especialistas ouvidos pelo The New York Times temem que a medida possa diminuir a transparência - Nicholas Kamm/AFP
Especialistas ouvidos pelo The New York Times temem que a medida possa diminuir a transparência Imagem: Nicholas Kamm/AFP

Do UOL, em São Paulo

15/07/2020 20h56Atualizada em 15/07/2020 21h16

O governo de Donald Trump determinou que os hospitais dos Estados Unidos deverão, a partir de hoje, enviar números do coronavírus a um banco central de dados em Washington, DC, e não mais ao CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, na sigla em inglês). Especialistas ouvidos pelo The New York Times temem que a medida possa diminuir a transparência.

A mudança foi divulgada recentemente no site do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo norte-americano. O órgão informa que agora será responsável por coletar relatórios diários sobre os pacientes que cada hospital está tratando, o número de leitos de UTI e respiradores disponíveis e outras informações essenciais para o acompanhamento da pandemia.

As autoridades, segundo o NYT, alegam que a mudança vai simplificar a coleta de dados e auxiliar a força-tarefa da Casa Branca para a covid-19 na distribuição de suprimentos escassos, como EPIs (equipamentos de proteção individual) e remdesivir, o primeiro medicamento que tem se mostrado relativamente eficaz contra o vírus.

O problema é que esse banco de dados em Washington não é aberto ao público, o que pode prejudicar o trabalho de dezenas de pesquisadores que dependem do CDC para fazer projeções e, assim, tomar decisões importantes. A mudança também pode dificultar o trabalho da imprensa, que divulga atualizações do coronavírus diariamente.

"Historicamente, o CDC tem sido o lugar para onde dados da saúde pública são enviados, e isso [a mudança] levanta questões não apenas sobre o acesso de cientistas a esses dados, mas também de repórteres e do público que tenta entender o que está acontecendo", diz Jen Kates, diretora de políticas voltadas à saúde global e HIV da Kaiser Family Foundation.

"Como esses dados serão protegidos?", ela continua. "Haverá transparência? Haverá acesso facilitado? E qual será o papel do CDC em decifrar esses dados?".

Outra preocupação dos especialistas é que, sob a tutela do governo, os dados possam ser utilizados para fins políticos — principalmente com a proximidade das eleições presidenciais no país. Quatro ex-diretores do CDC reforçaram este temor em artigo publicado ontem no The Washington Post.

"Colocar o controle de todos os dados sob o guarda-chuva de um aparato inerentemente político é perigoso e gera desconfiança", disse a Dra. Nicole Lurie, que atuou como secretária assistente de Preparação e Resposta no CDC durante a gestão de Barack Obama. "[A mudança] Parece bloquear a capacidade de agências como o CDC de fazer seu trabalho básico".

Os EUA têm hoje quase 136 mil mortes e mais de 3,4 milhões de infectados pelo novo coronavírus, segundo última atualização do CDC. Nova York é o estado mais afetado, com 405.017 casos, seguido por Califórnia (336.508) e Flórida (287.789).