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EUA têm novos protestos antirracismo com confrontos, prisões e morte

Policiais federais enfrentam manifestantes durante um protesto contra a desigualdade racial e a violência policial em Portland, Oregon, EUA - CAITLIN OCHS/REUTERS
Policiais federais enfrentam manifestantes durante um protesto contra a desigualdade racial e a violência policial em Portland, Oregon, EUA Imagem: CAITLIN OCHS/REUTERS

Do UOL, em São Paulo*

26/07/2020 21h36

O fim de semana foi marcado por protestos antirracistas nos Estados Unidos que tiveram confrontos com a polícia em parte deles, prisões em Seattle e a morte de um homem em Austin, no Texas. Iniciados após a morte de George Floyd em maio, as manifestações ganharam novo impulso após o presidente Donald Trump anunciar o aumento da presença de agentes federais nas cidades americanas.

George Floyd morreu em Minnesota, após um policial branco asfixiá-lo com o joelho em seu pescoço. Desde então, manifestações contra o racismo e contra a brutalidade policial tomam o país, quando o presidente Donald Trump enfrenta um difícil momento em sua corrida pela reeleição e recorre a uma campanha intensamente baseada na ideia de "lei e ordem".

Os manifestantes marcharam em Austin, Texas, além de Louisville, Kentucky, em Nova York, em Omaha, e em Oakland e Los Angeles, na Califórnia, além de Richmond, na Virgínia, onde o Batalhão de Choque disparou agentes químicos em uma marcha do movimento Black Lives Matter, de acordo com a imprensa americana.

Em Austin, um homem foi morto em um tiroteio ocorrido na noite de sábado, no protesto realizado no centro da capital do Texas.

Uma testemunha, Michael Capochiano, contou ao jornal "Austin Statesman" que o incidente aconteceu, quando um homem tentou lançar seu automóvel contra multidão. O carro foi cercado por manifestantes, e um deles se aproximou, carregando um rifle. O motorista sacou uma arma da janela e fez vários disparos, atingindo o homem com o rifle. Fugiu o local a toda velocidade.

A polícia já informou que o atirador está sob custódia e coopera com a investigação.

O som de pequenas e reiteradas detonações foi ouvido em algumas ruas de Washington, e a fumaça subiu de uma área onde os manifestantes atearam fogo a reboques, observou um jornalista da agência AFP.

Os manifestantes também furaram pneus de carros e quebraram janelas de trailers. A polícia de choque enfrentou a multidão. Algumas pessoas usaram guarda-chuva para se proteger do spray de pimenta.

Também no sábado, a polícia de Seattle disse que 45 pessoas foram presas por episódios relacionados aos protestos, classificados como "tumultos" pelos agentes, segundo a conta oficial da corporação no Twitter.

A chefe de polícia, Carmen Best, pediu às pessoas para irem "em paz à cidade" e condenou os protestos. "Os agitadores não levaram em conta a segurança da comunidade, a segurança dos policiais, ou dos negócios e propriedades que eles destruíram", afirmou, segundo os jornais locais.

Ontem, um grupo de manifestantes negros fortemente armados realizou uma marcha em Louisville, no estado de Kentucky exigindo justiça por Breonna Taylor, uma mulher negra que foi morta em março por policiais que invadiram seu apartamento.

Dezenas de manifestantes, portando rifles e espingardas semiautomáticas e trajando uniforme paramilitar preto, caminharam em formação até um cruzamento, onde a polícia teve que separá-los de um grupo menor de pessoas que eram contrárias à marcha.

Os manifestantes armados fazem parte da milícia negra NFAC, sigla de Not Fucking Around Coalition, que exige a aceleração da investigação da morte de Breonna, uma técnica de medicina negra de 26 anos.

Mar de agentes federais

A última expressão de violência ocorreu depois que policiais e agentes federais dispararam gás lacrimogêneo e dispersaram manifestantes à força, mais ao sul de Portland, na manhã de sábado (25). A cidade, a maior do estado de Oregon, é palco de protestos noturnos contra o racismo e contra a brutalidade policial há quase dois meses.

Portland também é palco de uma repressão altamente polêmica, por parte dos agentes federais, ordenada por Trump e que não tem apoio das autoridades locais.

Ontem, os protestos começaram de maneira pacífica, com música e cantorias da multidão. Alguns jogaram bolhas de sabão e colaram rosas vermelhas nas barricadas. Terminou em gás lacrimogêneo, porém, depois que manifestantes amarraram cordas às barricadas que cercavam o tribunal de Justiça da cidade para tentar derrubá-las.

A polícia de Portland declarou uma "zona de distúrbios" e ordenou que a multidão deixasse o local. Na sequência, agentes federais se somaram a eles para esvaziar a área.

Um repórter da AFP viu pelo menos dois homens serem detidos e levados por agentes federais.

Mais cedo, a polícia de Portland já havia confirmado que um homem havia sido esfaqueado. O suspeito foi cercado pelos manifestantes, até ser detido pelos agentes e acusado de agressão, de acordo com um comunicado. A vítima foi levada para um hospital local com uma lesão grave.

"Pequenos homens verdes"

Mais cedo, os manifestantes que conversaram com a AFP reclamaram da presença de agentes federais na cidade e expressaram seu apoio ao movimento Black Lives Matter, protagonista destes protestos.

"Não gosto do que está acontecendo aqui, do que Trump está fazendo", disse Mike Shikany, um engenheiro aeroespacial de 55 anos, acrescentando que "não quer se aproximar dos homenzinhos verdes", referindo-se às tropas enviadas pelo governo federal.

Jean Mullen, um aposentado de 74 anos de Portland, disse que, sem pressão, nada vai mudar.

"É hora de nos tornarmos o país que sempre acreditamos ser. E não podemos mais tomar isso como dado, nada. Não somos os primeiros em nada, e é algo terrível, terrível, ver isso no fim da minha vida", desabafou.

O Departamento de Justiça americano disse ter aberto, na quinta-feira (23), uma investigação oficial sobre a repressão federal. Na sexta (24), porém, um juiz federal do Oregon rejeitou uma tentativa legal do estado de impedir policiais de prenderem manifestantes.

Na semana passada, Trump anunciou o envio de um "mar" de agentes federais para lugares onde, segundo ele, há maior criminalidade - incluindo Chicago, após um aumento na violência na terceira maior cidade do país.

O governo afirma que, em Chicago, os oficiais enviados vão-se coordenar com as forças policiais locais, e não com as forças do Batalhão de Choque, como se viu em Portland. As autoridades locais garantem que marcarão um limite para qualquer mobilização no estilo de Portland.

*Com informações da AFP