Beirute tem novos protestos e confrontos; 2º ministro renuncia
A polícia libanesa lançou bombas de gás lacrimogêneo para tentar dispersar manifestantes que jogavam pedras e bloqueavam uma via perto do Parlamento em Beirute neste domingo, em um segundo dia de protestos contra o governo desencadeados pela explosão devastadora da última terça-feira (4). Dois ministros do governo libanês renunciaram ao cargo hoje, fazendo criticas ao primeiro-ministro libanês.
O fogo irrompeu em uma entrada para a Praça do Parlamento enquanto os manifestantes tentavam invadir uma área isolada, segundo imagens de TV. Os manifestantes também invadiram os escritórios de ministérios.
A enorme explosão de terça-feira (4) matou 158 pessoas e feriu mais de 6.000, além de destruir partes da cidade, num momento de crise política e econômica, gerando furiosos apelos para que o governo renuncie.
Policiais da tropa de choque entraram em confronto com os manifestantes enquanto milhares de pessoas convergiam para a Praça do Parlamento e para a Praça dos Mártires, disse um correspondente da Reuters.
"Demos a esses líderes tantas chances de nos ajudar e eles sempre falharam. Queremos todos eles fora, especialmente o Hezbollah, porque é uma milícia e apenas intimida as pessoas com suas armas", disse Walid Jamal, um manifestante desempregado, referindo-se ao o grupo armado mais influente do país, apoiado pelo Irã, que tem ministros no governo.
Segundo a rede Al-Jazeera, pelo menos 728 pessoas ficaram feridas nos confrontos com as autoridades, sem informar se o número se refere aos atos apenas de hoje ou inclui os realizados de ontem. Um policial também foi morto.
Alguns libaneses defenderam neste domingo um levante sustentado para derrubar os líderes do país em meio a uma indignação pública sobre a explosão devastadora desta semana em Beirute, ao mesmo tempo em que o principal clérigo cristão maronita do país disse que todo o gabinete deveria renunciar.
Ontem, uma mobilização foi marcada por ataques a ministérios lançados por manifestantes irritados contra a classe política, que acusa de negligência após as explosões devastadoras em Beirute.
Diante da magnitude da tragédia e da indignação da população que exige a saída de todo o governo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, anunciou sua renúncia, a primeira de uma autoridade governante, dizendo que o governo do primeiro-ministro Hassan Diab "falhou em corresponder às aspirações do povo libanês". Pouco depois foi a vez do ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, renunciar ao cargo.
O patriarca cristão maronita, Bechara Boutros al-Rai, disse que o gabinete deveria renunciar, uma vez que não pode "mudar a forma como governa". "A renúncia de um parlamentar ou ministro não é suficiente... todo o governo deveria renunciar, pois não é capaz de ajudar o país a se recuperar", afirmou em seu sermão de domingo.
Para ajudar o país, a França organizou uma conferência internacional por videoconferência neste domingo à tarde, três dias após a visita do presidente Emmanuel Macron a Beirute. O Brasil anunciou que irá enviar medicamentos e alimentos ao país.
"Apesar das diferenças de opinião, todos precisam ajudar o Líbano e seu povo", afirmou Macron via vídeo-link de seu retiro de verão na Riviera Francesa. "Nossa tarefa hoje é agir com rapidez e eficiência". O presidente francês disse que a oferta de assistência inclui apoio para uma investigação imparcial, confiável e independente sobre a explosão.
A tragédia foi causada na terça-feira (4) por 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas por seis anos no porto de Beirute "sem medidas de precaução", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro Hassan Diab.
A deflagração provocou uma cratera de 43 metros de profundidade, de acordo com uma fonte de segurança.
Enquanto cerca de 20 pessoas ainda estão desaparecidas, as buscas continuam nas ruínas do porto devastado, mesmo que as chances de encontrá-las estejam diminuindo. De acordo com o último balanço oficial, 158 pessoas morreram e 6.000 ficaram feridas na tragédia.
Em um Líbano já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela pandemia de COVID-19, a raiva aumenta entre a população. Bairros inteiros da capital foram devastados pelas explosões e centenas de milhares de libaneses ficaram desabrigados.
"Preparem as forcas"
Desemprego, serviços públicos decadentes, condições de vida difíceis: uma revolta estourou em 17 de outubro de 2019 para exigir a saída de toda a classe política, quase inalterada por décadas. Mas a crise econômica se agravou e um novo governo instituído foi contestado. E o movimento perdeu força, especialmente com o novo coronavírus.
No sábado, os manifestantes invadiram brevemente os ministérios das Relações Exteriores, da Economia e da Energia, bem como a Associação de Bancos, sinalizando um endurecimento da contestação. Milhares de libaneses se reuniram na Praça dos Mártires, brandindo vassouras e pás, em um momento em que a própria população realiza as operações de limpeza, sem que o governo tenha tomado medidas.
Os manifestantes também montaram forcas improvisadas, exigindo que os líderes fossem enforcados. Grupos de manifestantes tentaram furar as barreiras de segurança protegendo o Parlamento. As forças de segurança dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, que atiraram pedras de volta.
(Com AFP e Reuters)
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