Soldado bebe cerveja em perna protética de talibã morto; caso gera revolta
Uma série de fotos divulgadas ontem pelo jornal britânico The Guardian mostra um soldado australiano tomando cerveja em uma perna protética de um talibã morto em combate. O caso viralizou e líderes da sociedade civil afegã reagiram com repulsa às imagens.
Segundo o jornal, o soldado em questão ainda está servindo. As fotos foram tiradas em um bar não oficial conhecido como Fat Lady's Arms, que foi instalado dentro da base das forças especiais da Austrália na cidade de Tarin Kowt, no Afeganistão. O estabelecimento foi construído em 2009, não há uma data certa de quando a foto foi tirada. Em outro registro, soldados parecem "dançar" com a prótese.
Conforme apontou o jornal, este seria o primeiro registro que confirma relatos anteriores da prática de soldados utilizarem a perna de plástico como recipiente para beber álcool.
Alguns soldados, inclusive, dizem que a prática foi amplamente tolerada por oficiais de alto escalão e até envolveu alguns deles. Isso porque o membro, segundo o Guardian, pode ser considerado um "troféu de guerra" — item que os soldados australianos foram proibidos de remover do campo de batalha.
A situação irritou soldados comuns, que afirmam ter sido injustamente criticados no Brereton Report — relatório sobre crimes de guerra cometidos pela Força de Defesa Australiana durante a Guerra no Afeganistão entre 2005 e 2016 — por abraçar tal cultura e práticas, apesar dos oficiais estarem cientes disso há anos.
O estudo concluiu que uma "cultura guerreira" contribuiu para um ambiente em que os crimes de guerra foram supostamente cometidos.
A suspeita é que a perna tenha pertencido a um suposto combatente do Talibã morto durante um ataque do esquadrão SASR 2 a complexos de túneis na província de Uruzgan, em abril de 2009. Em seguida, teria sido retirado do campo de batalha e mantido no bar.
Depois, a perna teria sido colocada em uma placa de madeira sob o título Das Boot, ao lado de uma Cruz de Ferro — uma decoração militar usada na Alemanha nazista. A perna viajou com o esquadrão o tempo todo, disse um ex-soldado ao Guardian.
Revolta
"É a imagem mais nojenta, chocante e horrível que já vi", define Hayatullah Fazly, membro do conselho provincial em Uruzgan, ao Guardian. "É mais doloroso quando você considera que [os soldados] estiveram aqui para nos ajudar e nos fazer sentir seguros. É vergonhoso."
O jornal britânico informou que a publicação das imagens segue a divulgação de um inquérito sobre a conduta das forças especiais australianas no Afeganistão, que ligou os soldados aos assassinatos de 39 prisioneiros e civis e ao tratamento cruel de dois outros afegãos.
Zabiullah Farhang, porta-voz da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão, disse que as fotos mostram que os soldados australianos "não respeitam a vida dos afegãos daqui".
"Esta é uma verdadeira violação dos direitos humanos internacionais e também é um crime de guerra. Saudamos os esforços do primeiro-ministro australiano em criar uma equipe para investigar os abusos, o que ajudará a descobrir mais crimes", aponta.
"Pedimos ao governo australiano que ouça e aceite as demandas das vítimas para ajudar a prender os responsáveis", disse ele.
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