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Brasileiro detido no Egito diz ter sido infantil e infeliz: 'piores dias'

Victor Sorrentino em sua viagem ao Egito - Reprodução/Instagram
Victor Sorrentino em sua viagem ao Egito Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL

09/06/2021 16h36

O médico Victor Sorrentino falou publicamente, na noite desta terça-feira (08), pela primeira desde que voltou do Egito. Ele foi detido, no final de maio, no país africano, após publicar um vídeo em que aparece assediando uma muçulmana.

Em uma live no Instagram, que teve mais de 380 mil visualizações, ele pediu desculpas e diz reconhecer que foi infantil e infeliz. "Eu fui super infeliz na escolha de algumas palavras [..] eu fui infantil, mas eu quero pedir novamente desculpas à moça. Estou disposto a pedir tudo o que for necessário pelo meu erro".

Sorrentino chorou várias vezes ao longo da live e disse ter vivido os piores dias de sua vida.

Nunca imaginei que pudesse passar por aquilo. A investigação foi dolorosa porque a gente não sabe o quanto o pessoal daqui está sofrendo. Eu sou capaz de aguentar 5, 10 anos isolado em qualquer lugar, se eu tiver a convicção de que preciso pagar pelo o que fiz. Mas minha família não ia aguentar, eu tenho filho pequeno e eles foram julgados por causa de 15 segundos de um vídeo
Victor Sorrentino

No vídeo publicado em seu perfil no Instagram, com quase 1 milhão de seguidores, Sorrentino fez comentários sexistas em português a uma vendedora, ao comprar papiro, folha de madeira usada para escrita no Egito Antigo. "Vocês gostam é do bem duro. Comprido também fica legal, né?", disse o médico gaúcho. "O papiro comprido.".

"Si", respondeu a mulher, em espanhol, sem entender as palavras de Sorrentino. "Tá! Maravilha", responde o brasileiro. Após a publicação, as imagens circularam pelo país e as autoridades receberam denúncias da população.

Veja abaixo o vídeo:

O médico disse na live de ontem que não pretendia se justificar, mas afirmou que o vídeo que viralizou estava sem o contexto. Segundo ele, no dia do acontecimento, eles estavam em um clima descontraído na loja. "Primeiro, estávamos falando sobre pênis, sobre fertilidade, sobre os deuses da fertilidade com grandes pênis. Segundo, os homens estavam brincando conosco, falando que aqueles eram pênis fatalmente árabes, porque os dos brasileiros eram pequenos".

Sorrentino chegou a mostrar uma foto dele e da moça rindo juntos

Nada disso justifica o que aconteceu, mas muda completamente o contexto. De uma pessoa que teria chegado lá do nada com o intuito de rebaixar a moça, de ofender, de assediar. Tinha um clima de brincadeira
Victor Sorrentino

O médico também criticou a imprensa e os ataques que recebeu nas redes sociais. Segundo ele, as notícias tomaram um viés político. "Eu não sou bolsonarista, votar em alguém não é ser bolsonarista, foi uma opção que eu tive naquele momento".

Ele ficou conhecido por defender o chamado "kit covid" no tratamento precoce para combater a covid-19 com remédios sem eficácia comprovada. Em entrevista, o brasileiro já havia dito que os "medicamentos são conhecidos" e "não causam risco nem prejuízo" à saúde.

"Esses julgamentos das redes sociais muito se parecem com as inquisições, com o tribunal de Nuremberg, em que se buscam uma forma de pré-julgar as pessoas. Os que acusam são os mesmos que julgam", comentou.

"Não quero nada dele"

A jovem egípcia ofendida pelo médico disse no último domingo que não irá pedir indenização ao brasileiro, ao contrário da loja onde trabalha, que já anunciou a intenção de fazer pedido de compensação financeira.

"Não, não quero nada dele", disse a moça, em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo. "Porque para mim o que aconteceu foi suficiente, suficiente ele dizer que cometeu um erro. Não sei o que a polícia vai fazer, mas da minha parte eu aceito o perdão. Mas o que vai acontecer depois não é trabalho meu", completou.

À TV Globo, o advogado da loja (que não teve o nome identificado pela reportagem) demonstrou o desejo do estabelecimento de entrar com ação por compensação financeira, "já que ficou com portas fechadas durante alguns dias".

O Egito criminalizou assédio sexual em 2014. A lei prevê multas ou pena de seis meses a três anos de prisão. No ano passado, o parlamento egípcio aprovou uma lei para manter a identidade das vítimas de agressão e assédio sexual em sigilo. O objetivo é proteger a reputação e incentivá-las a registrarem os casos.