Reaproximação? O que esperar do encontro entre Putin e Biden em Genebra
Há semanas, um assunto de política externa domina o noticiário na Rússia: a reunião em Genebra (Suíça) entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o dos Estados Unidos, Joe Biden, marcado para amanhã. Mesmo os pequenos detalhes, como o local do encontro, uma mansão do século 18, são divulgados como se se tratasse de uma recepção quase real.
Oficialmente, o Kremlin mantém as expectativas baixas para o encontro, apesar de o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, garantir que ele não deva ser minimizado. O principal objetivo é retomar o diálogo bilateral, que enfrenta sua pior crise desde o fim da Guerra Fria, e restabelecer relações diplomáticas cordiais entre os dois países.
Para a Rússia, o simples fato de a reunião acontecer, por iniciativa dos EUA, já é um primeiro resultado positivo. Moscou acredita que isso é o sinal de que o país é levado a sério pelo novo presidente americano. A iniciativa de Washington pode, inclusive, fazer o Kremlin esquecer as duras declarações contra Putin, chamado por Biden de "assassino".
Mas não haverá uma encenação para a imprensa, como Putin queria. Biden recusou uma coletiva conjunta em Genebra.
"Não se pode sobrestimar o potencial dessas discussões", disse Andrei Kortunov, diretor do Conselho de Relações Internacionais da Rússia. "Os dois países têm um estado de espírito e uma visão de mundo muito diferentes. Mas é necessário impedir que as relações bilaterais piorem ainda mais e colocar um ponto final nessa guerra diplomática".
Biden chegou hoje a Genebra, por volta das 16h15 (horário local, 11h15 em Brasília). Putin deve viajar apenas amanhã.
O presidente americano foi recebido pelo presidente da Suíça, Guy Parmelin, o ministro das Relações Exteriores, Ignazio Cassis, e a prefeita de Genebra, Frédérique Perler. Também estiveram na comitiva a encarregada de negócios dos EUA na Suíça, Eva Weigold Schultz, e o embaixador americano na Conferência para o Desarmamento, Robert Wood.
Cúpula "assimétrica"
A relação tensa entre Moscou e Washington desde a anexação da Crimeia sofreu vários contratempos. Em março, depois de Biden chamar Putin de "assassino" durante uma entrevista, Moscou convocou seu embaixador em Washington, Anatoly Antonov, para "analisar o que deve ser feito e aonde ir no contexto das relações com os EUA", segundo disse à época o Ministério das Relações Exteriores russo.
Diplomatas russos foram expulsos dos EUA, e Moscou respondeu expulsando diplomatas americanos. Desde então, as embaixadas de ambos os países estão sem conexão. Ao mesmo tempo, houve uma enorme acumulação de tropas russas na fronteira com a Ucrânia.
Neste contexto, Biden ligou para Putin em abril e propôs uma cúpula.
Analistas sugerem que o líder do Kremlin acabou forçando Biden a convocar a reunião com a ameaça de escalada no leste da Ucrânia. Andrei Kortunov, porém, não compartilha dessa tese, mas não descarta a possibilidade de que a "minicrise sobre a Ucrânia" possa ter "motivado adicionalmente" o presidente dos EUA a se encontrar com Putin.
"Tais cúpulas colocam nossos países em pé de igualdade. Isso é importante para o status e a posição da Rússia na política mundial", afirmou.
Já Tatiana Stanovaya, especialista do Centro Carnegie de Moscou, falou em "atitude assimétrica". "Para a Rússia esta cúpula é tudo, enquanto para Biden é apenas um passo no caminho para resolver o 'problema da China'", avaliou. Para Washington, segundo ela, as futuras negociações com a China são um assunto mais prioritário.
Armas nucleares
Putin e Biden não devem sentir falta de tópicos para discussão em Genebra. Do ponto de vista de Moscou, "estabilidade estratégica" seria o tema mais importante, de acordo com Andrei Kortunov.
Depois que os EUA se retiraram de vários acordos com a Rússia, Biden interrompeu essa tendência quando estendeu o acordo de redução de armamento nuclear "New Start" em janeiro. Moscou quer construir uma conversa a partir disso em Genebra.
Não apenas armas nucleares tradicionais estarão em pauta, mas espaço, ciberataques e uso de drones, acrescentou Kortunov. O fim do confronto diplomático também deve estar no topo da lista de desejos da Rússia.
Em questões relacionadas à Ucrânia ou aos direitos humanos na Rússia, especialistas veem poucas chances de aproximação. Moscou só está preparada para aceitar as críticas de Biden como uma espécie de "programa obrigatório", diz Tatiana Stanovaya.
(Com AFP, Deustche Welle e RFI)
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