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Taleban: Cenário atual é 'oportunidade de ouro' para China, diz professor

Colaboração para o UOL

16/08/2021 09h27

O cenário de hoje que possibilitou a tomada de poder do Afeganistão por parte do Taleban é bem diferente do registrado há 20 anos. Segundo o professor de Relações Internacionais Tanguy Baghdadi, a China tem agora mais projeção na região e foi um dos poucos países a reconhecer o novo governo.

"A China hoje está influente em sua região, está em expansão e construindo rota no Afeganistão. Essa saída norte-americana é uma oportunidade de ouro para expandir ainda mais sua influência na área. Não chega a ser surpreendente que a China faça um aceno ao Taleban para oferecer normalização política", avaliou em entrevista ao UOL News.

Segundo Baghdadi, a nação chinesa está disposta a negociar com o Taleban se o grupo não fomentar a minoria muçulmana do país. "É uma troca: te dou financiamento, dinheiro, estabilidade e proteção desde que não mexa em minhas políticas domésticas", explicou.

A decisão do presidente dos Estados Unidos Joe Biden de retirar as tropas americanas da região na semana passada vem de um desgaste do tema e é uma das drásticas mudanças no cenário que permitiu essa tomada de poder. "É uma guerra impopular nos Estados Unidos, então investir mais é difícil. Foram quase US$ 1 trilhão em uma guerra sem futuro. Nisso, o Taleban vai reencontrando seu espaço", disse o professor.

Portanto, é "improvável" que a nação norte-americana coloque de volta as tropas no Afeganistão. Baghdadi falou que os Estados Unidos são um alvo grande, tanto por já terem sido vítimas de terrorismo da Al-Qaeda, que possui raízes similares ao Taleban, quanto pela aproximação dos rivais China e Rússia com o grupo emergente.

Que os Estados Unidos vão tentar agir não tem dúvida. Talvez até financiando grupos rivais do Taleban, com bombardeios seletivos. É um jogo perigosíssimo, são horas históricas que vivemos agora".
Tanguy Baghdadi

O governo brasileiro ainda não se pronunciou sobre a tomada de poder no Afeganistão e o professor prevê que o silêncio pode ser mais longo, já que as relações exteriores no Brasil estão em um momento de anormalidade.

Segundo Baghdadi, a tradição do governo brasileiro é pedir diálogo com outros membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e lidar com isso de forma coletiva e unificada.