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Afegão relata terror em fuga de Cabul: 'Não há esperança com o Talibã'

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

30/08/2021 04h00

Um funcionário do governo afegão relatou os momentos de terror após ofensiva do grupo extremista Talibã contra a capital Cabul na semana passada. No dia da ocupação, Mohammad Amin Azar, de 31 anos, foi ao aeroporto com outros membros do governo em meio a tiros.

"Pelas janelas, era possível ver pessoas desesperadas correndo em volta dos aviões", relatou ao UOL sobre as cenas que ganharam o mundo naquela dia. Na tentativa de fugir do país, civis tentaram embarcar na parte externa de um avião militar, mas caíram após a decolagem. Ao menos sete pessoas morreram.

Exilado em Istambul, na Turquia, ele agora convive com a incerteza. "Não há esperança. Não há mais nada para nós no Afeganistão", disse à reportagem. Confira os principais trechos da entrevista.

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"Quando chegaram as notícias de que o Talibã havia assumido o poder em Mazar-eSherif [segunda maior cidade do Afeganistão] na sexta-feira à noite, dois dias antes da ocupação, a população foi dominada pelo receio de que os extremistas pudessem invadir Cabul a qualquer momento.

Naquela noite, não consegui dormir e fiquei pensando no que poderia fazer. Então, decidi fazer as malas e me mudar no dia seguinte para a casa dos meus primos em uma área mais segura da cidade.

No domingo, dia da ocupação, fui à casa do vice-presidente por volta das 5h para participar de uma reunião que se estendeu até o horário do almoço. Depois, fomos ao palácio presidencial, onde nos encontramos com o presidente.

Um aspecto que chamou a atenção foram as vestimentas usadas por funcionários de alguns escritórios governamentais. Em vez de ternos, usavam roupas típicas afegãs, possivelmente para despistar o Talibã. Isso também indicava que eles estavam preparados para uma entrada do grupo extremista na cidade.

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Soubemos que os talibãs estavam a caminho de Cabul, mas a equipe de segurança disse que não seria seguro sair do palácio presidencial naquele momento.

Havia muitos pontos de engarrafamento e pânico nas ruas. Depois de três horas, decidimos ir direto para o aeroporto. Foram momentos de terror quando os talibãs chegaram à cidade.

Vi membros do alto escalão do governo lá. Esperamos até o momento em que chegou a informação de que os talibãs já estavam nos portões do aeroporto. Aí, fomos em direção ao avião que apareceu nas imagens das emissoras de TV que rodaram o mundo.

Quando os talibãs entraram no aeroporto, vimos alguns deles com armas nas mãos e enrolados em cobertores para ocultar as suas identidades.

O aeroporto estava tão lotado que era preciso respirar fundo, faltava oxigênio.

Senti muito medo de ser atingido por um tiro a qualquer momento. A impressão era de que seríamos mortos ali. Cheguei a perder a esperança. A ameaça era real.

Membros do Talibã poderiam entrar a qualquer momento para nos retirar do aeroporto. Foi uma situação estressante que se arrastou por horas.

Cheguei a deitar perto de um muro e falei para mim mesmo: 'Nós vamos ser mortos aqui'.

O aeroporto estava cheio de famílias. Membros do governo pensaram em se esconder entre elas. Diziam que, caso fossem capturados, os talibãs agiriam com uma violência ainda maior. Poderia acontecer qualquer coisa e "ninguém ficaria sabendo".

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Já dentro do avião, enfrentamos um novo momento de pânico quando fomos informados de que não havia piloto e nem combustível na aeronave. Disseram que precisaríamos sair. Mas ninguém queria. Pelas janelas, era possível ver pessoas desesperadas, correndo em volta dos aviões.

Depois de quatro horas, começamos a ouvir o barulho de tiros ao redor do aeroporto. Então, saímos do avião e buscamos refúgio em uma área onde estavam soldados norte-americanos.

Só tinha um voo na manhã seguinte para Istambul, na Turquia. Aí, falaram: 'nós vamos colocar vocês e outros integrantes do governo do Afeganistão nesse voo'.

Passamos a noite lá e só viajamos por volta das 13h de segunda-feira, com seis horas de atraso.

Agora, estamos em um hotel em Istambul, mas sem qualquer perspectiva sobre o futuro e aflitos com a situação vivida pela população sob o domínio do Talibã. Estamos nos sentindo miseráveis.

Nós amamos o nosso país. Mas todos os nossos planos para o futuro deixaram de existir depois que o Talibã assumiu o poder. Não há esperança. Não há mais nada para nós no Afeganistão."

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