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Rússia x EUA pela Ucrânia: há risco de terceira guerra mundial? Entenda

18 jan. 2021 - Trem com tropas e veículos militares da Rússia chega para exercícios em Belarus, país próximo à Ucrânia - Ministério da Defesa de Belarus/AFP
18 jan. 2021 - Trem com tropas e veículos militares da Rússia chega para exercícios em Belarus, país próximo à Ucrânia Imagem: Ministério da Defesa de Belarus/AFP

Paula Forster

Colaboração para o UOL, em São Paulo

10/02/2022 04h00

Diante das recentes tensões na Ucrânia, envolvendo Rússia e Estados Unidos, as dúvidas sobre um possível conflito internacional aumentaram —inclusive no Brasil. O UOL conversou com quatro especialistas em relações internacionais que explicam por que uma guerra mundial dificilmente deve acontecer.

Entre 2 e 9 de fevereiro, segundo o Google Trends, a busca pelos termos "A terceira guerra mundial está próxima" cresceu 750%, no Brasil, enquanto a procura por "Como seria a terceira guerra mundial" aumentou em 180%.

Ontem, o papa Francisco disse que uma guerra na Ucrânia seria uma "loucura" e pediu diálogo multilateral.

Segundo reportagem da Reuters, uma autoridade russa de alto escalão acusou os Estados Unidos e a Europa de aumentar a pressão política sobre Moscou ao fornecer armas e munições para apoiar a Ucrânia. A Rússia concentrou soldados perto do país, mas nega qualquer plano de ataque. Ainda assim, a situação é tensa.

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, é preciso considerar que uma guerra mundial, hoje, implicaria em um conflito essencialmente nuclear. E é justamente o conhecimento do potencial deste armamento que poderia frear a decisão por um conflito, na prática.

"O custo de fazer um ataque nuclear é fatal para o próprio atacante", afirma Sebastião Velasco e Cruz, coordenador do INCT (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia) para estudos sobre os Estados Unidos e também professor de ciência política e relações internacionais da Unicamp.

O professor de relações internacionais da ESPM Gunther Rudzit afirma que um conflito entre Estados Unidos, Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e Rússia é um risco para a própria humanidade.

"Na época da Guerra Fria, as armas nucleares tinham o potencial de destruir a Terra 33 vezes. Hoje, tem o poder de destruir 16. A gente não precisa de tudo isso, temos só uma Terra. Esse é o freio para os dois lados", alega.

As investidas da Rússia na Ucrânia, país que historicamente sempre foi importante para os russos, têm como pano de fundo uma tentativa de reorganizar o cenário geopolítico da história, sem a soberania dos Estados Unidos no centro do poder político e econômico mundial.

Segundo análise do professor Rudzit, o presidente russo Vladimir Putin sabe que os EUA não entram em uma guerra por causa da Ucrânia, e está tentando se aproveitar de um momento de declínio relativo do poder americano para restabelecer influência no leste da Europa.

"A Rússia tenta buscar uma renegociação de segurança no continente europeu. Se os EUA não forem duros o suficiente na resposta, outras potências vão entender o recado", diz.

O docente em relações internacionais da FAAP Carlos Gustavo Poggio também acredita que a hegemonia norte-americana está sendo contestada, principalmente por países como a China e a Rússia. "Putin está testando a capacidade de resposta dos Estados Unidos", avalia.

Além disso, Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da ESPM, destaca que, para acontecer um confronto mundial, é necessário o envolvimento sistêmico de outras partes do mundo. O que não acontece hoje.

"O conflito da Ucrânia parece mais a Guerra dos Balcãs, que foi sangrenta, com impacto social e econômico forte, mas que estava concentrada em uma região", afirma.

De acordo com os especialistas consultados pelo UOL, a resposta dos Estados Unidos à Rússia deverá aparecer por meio de outros tipos de sanções e não necessariamente terá caráter militar.

Para Rudzit, deverá ser de ordem econômica. "Os americanos vão impedir os dirigentes russos de terem acesso aos investimentos em dólar, assim como os europeus vão impedir o acesso aos investimentos em euro. Isso vai jogar a economia russa em um buraco bastante grande", avalia.

Somado a isso, existe o fato de que há várias tentativas diplomáticas de evitar o escalonamento do conflito, tanto por parte dos países europeus, como França e Alemanha, quanto por parte dos próprios Estados Unidos. "Estão tentando chegar a um acordo diplomático para os interesses dos dois lados. Os norte-americanos têm feito, via Conselho de Segurança, pressão para conseguir uma diplomacia também", afirma Holzhacker.

Como fica o restante da Europa?

Desde a 2ª Guerra Mundial, os europeus entenderam que o ingresso na Otan seria essencial para se reconstruírem no pós-guerra. "Em um primeiro momento, foi bom. Se protegeram de uma invasão soviética e conseguiram se reerguer. Mas, quando acabou a Guerra Fria, perceberam que a segurança deles depende dos EUA", afirma Rudzit.

Por outro lado, muitos negócios europeus também são dependentes da Rússia. "Alguns dependem do gás russo no inverno. Além disso, existem dois governantes europeus, na Hungria e na Polônia, que consideram Putin uma referência de líder."

Por isso, o continente parece dividido.

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