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Estrangeiros se dizem barrados em trens, ônibus e fronteiras da Ucrânia

Brasileiros reclamam do Itamaraty e fazem até fogueira para se aquecer em meio ao frio - Reprodução/Instagram/Magalhaes1379
Brasileiros reclamam do Itamaraty e fazem até fogueira para se aquecer em meio ao frio Imagem: Reprodução/Instagram/Magalhaes1379

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

27/02/2022 18h43Atualizada em 28/02/2022 12h51

Estrangeiros na Ucrânia têm relatado dificuldades causadas pelas autoridades do país para cruzarem a fronteira com a Polônia. Relatos de brasileiros, nigerianos e indianos mostram que eles são impedidos de entrar em trens e ônibus, às vezes só depois dos ucranianos, às vezes em hipótese alguma. Quando chegam à fronteira da Polônia, são as autoridades polonesas que as impedem de sair da Ucrânia.

O conflito entre Rússia e Ucrânia deixou pelo menos 64 civis mortos, 240 feridos e 368 mil refugiados, nos cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU).

A psicanalista brasileira Mary de Jesus, 34 anos, é uma das voluntárias na Polônia que têm ajudado brasileiros a sair da Ucrânia, principalmente na região de Lviv. Ela contou ao UOL que vários estão com esse problema. "Isso está acontecendo e está acontecendo direto", afirmou Mary de Jesus neste domingo (27). "Um deles está ainda na Ucrânia. Ele já tinha pagado o ônibus."

Quando os ucranianos perceberam que ele era estrangeiro, expulsaram ele do ônibus, deram o dinheiro dele de volta e falaram que não era para ele subir naquele no ônibus"
Mary de Jesus, psicanalista

Um brasileiro que ainda está na Ucrânia confirmou o relato à reportagem, mas preferiu não se identificar. Ele acrescentou que isso acontece com todos os estrangeiros na região de Lviv. Segundo esse brasileiro, as autoridades ucranianas só deixam mulheres e crianças ucranianas a entrarem nos ônibus comuns, que levam as pessoas até a Polônia e cobram cerca de 35 dólares, cerca de R$ 180.

Sem opção, os estrangeiros têm que pegar veículos particulares, como vans, que cobram de 100 a 300 dólares, de R$ 515 a R$ 1.546, mas deixam os não-ucranianos num ponto a 40 km da fronteira com a Polônia.

Jogadores brasileiros fizeram relatos semelhantes no sábado e neste domingo nas redes sociais.
O atleta Guilherme Smith, da equipe Zorya Luhansk, e outro grupo de brasileiros se aqueceram numa fogueira na fronteira da Ucrânia com a Polônia para evitar o congelamento. As forças de segurança não permitiram que eles cruzassem a fronteira e chegassem à Polônia.

"Continuem em oração por favor. Situação difícil", disse ele em uma rede social enquanto se aquecia. "A divisa da Ucrânia não é nada do que falam. Andamos 60 quilômetros para chegarmos lá. Quando chegamos, formos tratados como lixeo. Dormimos na rua. Quase congelamos. Por sorte, conseguimos acender uma fogueira."

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Os problemas dos estrangeiros começam bem antes de chegarem perto da fronteira. Nas redes sociais, um estudante da Nigéria - que se identifica apenas como NZE, mas recebeu o apoio da cineasta norte-americana Dream Hampton e do portal "Africa Facts Zone" - divulgou vários vídeos de africanos sendo barrados já nos trens. E, depois, sofrem nos postos policiais.

"Eles apontaram armas para nós enquanto gritávamos 'Somos estudantes, deixem-nos passar", porque nós não os deixávamos fazer o povo dele passar antes de nós", contou NZE.

O mesmo problema aconteceu com indianos. Centenas de estudantes da Índia em Lviv foram para a fronteira nos últimos dias, segundo o jornal "Índia Times". Mas os pais deles disseram ao periódico que não puderam cruzar a fronteira.

Os policiais atiraram ao alto quando eles tentaram forçar a passagem, segundo vídeos exibidos pelo "Índia Times".

Grupo de 37 saiu pela Romênia

Hoje, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que pelo menos 37 brasileiros conseguiram sair da Ucrânia por meio da Romênia.

Ainda há outros tentando sair. O jogador de futebol Juninho Reis e sua esposa, Vitória Magalhães, tentam atravessar por meio da região de Lviv, junto com um filho pequeno e com o colega Guilherme Smith, também atleta.

Eles reclamam da falta de apoio do Itamaraty. No instagram, publicaram um vídeo de um telefonema sem sucesso para a Embaixada. "Chegamos aqui e ninguém nos ajuda", reclamou Juninho Reis.

"Fizeram um monte de promessa para a gente, que teria alguém para ajudar. Chegando aqui não tinha nada do que falaram para a gente. Estamos aqui de mãos atadas. A gente não sabe o que fazer mesmo."

O colega dele, Cristian Dal Bello, reclamou com o próprio presidente Bolsonaro em redes sociais. "E nós, seu presidente? Estamos aqui 5 brasileiros, com criança pequena, tentamos de todas as formas e ninguém nos ajuda a sair, o que você vai fazer conosco?"

28.fev.2021 ? Jogador reclama de falta de apoio de Bolsonaro - Reprodução/Instagram/Dalbello99 - Reprodução/Instagram/Dalbello99
Atleta reclama com Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Instagram/Dalbello99

O UOL pediu esclarecimentos ao Itamaraty. Eles serão publicados se forem recebidos.

Brasileira tenta resgatar pessoas pela Hungria

A advogada brasileira Clara Martins estava na Polônia e faz parte dos grupos de voluntários que tentam resgatar pessoas da Ucrânia.

Na tarde de hoje, ela conseguiu entrar na Ucrânia. Lá, encontrou um grupo de três brasileiros e uma ucraniana. Ainda deu carona para um nigeriano por um tempo. Todos estavam estava tentando entrar na Polônia há quatro dias, mas sem sucesso.

"A fila de Lviv está com mais de 45 km", destacou Clara.

São mais de sete dias para cruzar. E homens não cruzam"
Clara Martins, advogada

Segundo Clara contou ao UOL, a ideia era levá-los de carro para a fronteira da Hungria. "A gente já está na fronteira com a Hungria e a gente quer cruzar."