Zelensky acumula seguidores no Instagram; por que Putin não tem perfil?
Enquanto Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, conta com mais 15,9 milhões de seguidores no Instagram, Vladimir Putin, presidente da Rússia, nem possui perfil na rede social.
Zelensky, além de estar presente nesta plataforma, ainda conta com 5,3 milhões de seguidores no Twitter. Desde que o líder do executivo ucraniano passou a usar as duas redes sociais para divulgar a situação do país na guerra, tem ganhado milhares de fãs todos os dias.
Mas quais estratégias de comunicação Zelensky tem usado para se manter em ascensão no Instagram? E por que Putin se abstém de marcar presença na rede social de Mark Zuckerberg?
Presença de Zelensky no Instagram
Desde que a guerra começou na madrugada do dia 24 de fevereiro, o presidente ucraniano tem ganhado 213 mil seguidores por dia no Instagram, em média, segundo análise da plataforma de monitoramento Social Blade. Os números não são confirmados pelo Instagram. No quarto dia de confronto, Zelensky tinha por volta de 12,8 milhões de fãs na rede social, e atualmente quase 16 milhões de pessoas o acompanham.
Diariamente, o líder do executivo faz quase dez publicações, onde conta por meio de vídeos e textos como está a situação no país, com quais lideranças ele conversou para aplacar as ações da Rússia, quais atitudes foram tomadas para negociar a paz e ainda escreve incentivos à população para lutar.
"Em sua performance política midiática, Zelensky traz um tom de um cativante e carismático populista, que agora no cenário da guerra, procura criar discursos monumentais e heróis, daqueles que ele arquiteta que vão ficar registrados nos Anais da História. Patriotismo, heroísmo, luta, sacrifício pelo bem e defesa da nação ucraniana e do mundo contra as forças russas de Putin", avalia Wagner Pereira, professor de história, relações internacionais e defesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Mesmo antes do conflito começar, o governante, diferente de Putin, já era uma figura midiática com presença marcante nas redes sociais e meios de comunicação.
"O presidente da Ucrânia, por sua vez, é um outsider da política, um ex-comediante, que foi eleito no contexto mundial de realinhamento e reconfiguração ideológica, quando muitos posicionamentos conservadores e típicos da direita ganharam força popular por meio das redes sociais", diz Juliana Fratini, cientista política e mestre em ciências sociais pela PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Zelensky, que faz parte da nova geração de políticos do século XXI, compreende o poder midiático e sabe instrumentalizar politicamente muito bem as redes sociais. Além disso, de acordo com professor da UFRJ, o líder ucraniano tem usado sua experiência para mostrar que fez a "lição de casa de História" ao demonstrar-se um hábil conhecedor na instrumentalização do passado histórico a seu favor.
Relação de Putin com a internet e as redes sociais
A relação entre Vladimir Putin e as redes sociais e a internet, por sua vez, tem sido conturbada. Em 2018, durante uma viagem à Sibéria, o presidente russo disse que praticamente não usava a internet, por ser "um projeto da CIA", e que não tinha smartphone e nem tinha vontade de usar o Instagram "no final dos seus árduos dias de trabalho".
Em 2021, durante uma visita a uma escola russa, o líder do executivo disse: "No mundo moderno, parece que se pode aprender quase tudo na internet. Mas há um problema relacionado à qualidade dessas informações. Há um monte de lixo que muitas vezes é apresentado como verdade suprema."
Mesmo antes da guerra, as plataformas digitais norte-americanas sempre foram encaradas como problema na Rússia. Por isso, o governo já atuou em diversas ocasiões para controlar a liberdade de expressão on-line da população.
Segundo Fratini, Putin se mantém longe das redes sociais por ser um estrategista "à moda antiga", e não quer depender de qualquer canal para fortalecer a sua imagem pública. Além disso, ele não procura apoio popular a respeito do seu posicionamento político.
"Os canais de comunicação tradicionais russos estão em boa medida alinhados com o Governo, só resta o receio de que as redes se tornem instrumentos de protestos sociais, o que poderia desestabilizar a política adotada", avalia Fratini.
Wagner Pereira concorda que, para Putin, as redes sociais ajudam a fomentar manifestações, por isso ele tem se esforçado para criar novas legislações e punir as plataformas estrangeiras por "discriminação aos meios de comunicação russos", assim como tem censurado e multado empresas como Facebook, Google, Instagram, Twitter e TikTok.
Mas o professor alerta que a aversão de Putin à internet e às mídias não é totalmente verdadeira. "O governo russo tem cada vez mais buscado se apoderar de um controle total sobre os meios de comunicação de massas na Rússia. No final do ano passado, o Vkontakte (VK), uma das maiores redes sociais do mundo, foi adquirido pelo governo, com o objetivo de se tornar uma alternativa russa ao Facebook e de ser um futuro rival, ou até mesmo substituto, do YouTube no país. Atualmente, a Gazprom Media controla toda a televisão na Rússia."
E não só o VK (Vkontakte), acessado diariamente por 47 milhões de pessoas, está sob o domínio do governo. Recentemente o órgão regulador de comunicações, o Roskomnadzor, alertou dez meios de comunicação locais que restringiria o acesso às publicações, caso continuassem sendo espalhadas "informações falsas", dentre elas as referências à operação militar na Ucrânia, como um "ataque, invasão ou declaração de guerra".
Por que Putin não tem rede social?
Na última segunda-feira (14), o Instagram foi bloqueado em solo russo, por causa de uma mudança na política da rede social. Três dias antes dessa movimentação, moradores de 13 países, entre eles, Ucrânia e Rússia, receberam autorização da Meta para publicarem conteúdos que incitassem a violência contra os russos e o presidente do país.
O bloqueio, que afetou 80 milhões de moradores da Rússia que usam o Instagram, não prejudicou Putin, afinal o presidente nunca criou um perfil na rede social. "Apesar de se apresentarem democráticos, os métodos utilizados por Putin são um tanto autoritários. Neste sentido, ele se preserva em não querer aparecer, não tendo que lidar com o contrário de maneira pública, como os presidentes de países democráticos fazem, muito provavelmente pelo receio de que a contestação possa expor seus métodos", diz a mestre em ciências sociais da PUC.
Para Wagner, Putin nunca teve nenhum perfil em redes sociais por querer criar uma aura divina e misteriosa em torno de sua figura e por fazer questão de se misturar com a própria imagem da Rússia. Além disso, segundo o professor, o fato de a autoridade ser um ex-agente da KGB (Serviço Secreto Soviético) faz com que ele queira passar despercebido e misterioso, por isso apaga quaisquer rastros de seus passos e estratégias políticas.
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