Topo

Esse conteúdo é antigo

O que se sabe sobre o avião desaparecido na Argentina com três brasileiros

Antônio, Gian e Mario foram registrados em foto dentro de aeroclube - Divulgação
Antônio, Gian e Mario foram registrados em foto dentro de aeroclube Imagem: Divulgação

Henrique Sales Barros

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/04/2022 08h09Atualizada em 08/04/2022 08h09

Buscas estão em andamento para localizar uma aeronave desaparecida desde o fim da tarde desta quarta-feira (6), com três brasileiros a bordo, no sul da região patagônica da Argentina. A procura está sendo feita por terra e pelo mar e enfrentam variações meteorológicas para receber o reforço de aeronaves de resgate.

Os três brasileiros — um empresário, um advogado e um médico — estavam na Argentina por causa de um festival em um aeroclube, ocorrido no último final de semana. Ontem, imagens que seriam as últimas feitas no interior do avião foram divulgadas por um jornal argentino.

Confira o que se sabe até agora sobre o desaparecimento:

Onde ocorreu o desaparecimento?

O monomotor desapareceu dos monitores aéreos na altura de Bahía Bustamante, cidade localizada na costa sul de Chubut, na Patagônia argentina, por volta das 17h (horário de Brasília).

O destino da aeronave monomotor, que partia de El Calafate, em Santa Cruz, no extremo sul da Argentina, era a cidade de Trelew, na costa norte de Chubut.

Quem estava na aeronave?

O UOL apurou que o empresário Antônio Carlos de Castro Ramos, da construtora catarinense ACCR, estava na aeronave, assim como o médico ginecologista Gian Carlo Nercolini e o advogado Mário Pinho.

O monomotor era de propriedade do empresário da ACCR. Na tarde de ontem, a família de Ramos se dirigiu para o sul da Argentina, para acompanhar as buscas de perto.

Em que avião eles estavam?

Advogado Mário Pinho (esq.), empresário Antônio Carlos de Castro Ramos (dir.) e médico Gian Carlo Nercolini (ao fundo) durante voo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Advogado Mário Pinho (esq.), empresário Antônio Carlos de Castro Ramos (dir.) e médico Gian Carlo Nercolini (ao fundo) durante voo
Imagem: Reprodução/Instagram

O monomotor em que os três brasileiros estavam era um Van's Aircraft RV-10, de código PP-ZRT, com espaço para quatro pessoas e fabricado em 2016 pela Flyer Indústria Aeronáutica, especializada em aviões ultraleves.

Nos registros da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a aeronave consta categorizada como "privada experimental", o que a impede de ser utilizada para atividades comerciais ou sobrevoar ambientes densamente povoados. Não constam irregularidades no sistema.

Além do monomotor do empresário, do advogado e do médico, outras duas aeronaves partiram de El Calafate, mas com um destino diferente: Puerto Madryn, ligeiramente mais ao norte de Trelew.

Foram os pilotos das duas aeronaves rumo a Madryn que acionaram as autoridades, após perderem, na altura de Bahía Bustamante, contato visual e comunicacional com o monomotor desaparecido, segundo a agência Télam, ligada ao governo argentino.

Vídeos registraram painel do avião antes do sumiço, diz site

Um vídeo divulgado pelo jornal La Opinión Austral com autoria atribuída ao advogado catarinense Mário Pinho mostra o que seria a cabine da aeronave que desapareceu com os três brasileiros pouco após a sua decolagem e momentos antes de sumir. Nas imagens, é possível ver o painel do avião e a matrícula dele (PP-ZRT).

Por que eles estavam na Argentina?

De acordo com a Defesa Civil de Chubut, os três brasileiros estavam na região para prestigiar o festival Comodoro Vuela (Comodoro Voa, em tradução para o português).

O festival, realizado entre sexta-feira (1) e domingo (3), conta com amantes da aviação civil e desportiva e foi realizado no aeroclube de Comodoro Rivadavia, cidade mais populosa de Chubut.

Como estão as buscas?

A Eana (Empresa Argentina de Navegação Aérea), responsável pelo controle do tráfego aéreo no país, está coordenando os trabalhos, realizado em campo pela Defesa Civil de Chubut, pela polícia marítima local e pela Força Aérea.

As buscas aéreas foram suspensas por volta das 19h de ontem devido às condições meteorológicas "desfavoráveis" na região. Elas devem ser retomadas hoje. As buscas seguiram por mar e por terra.

"A busca está sendo feita com meios terrestres, com motos e caminhonetes que percorrem a costa, mas, infelizmente, a busca aérea está suspensa", disse José Mazzei, chefe da Defesa Civil de Chubut, à Télam.

A Defesa Civil de Chubut trabalhava com a possibilidade de que a aeronave tenha pousado em uma área rural chamada "La Aguada". No local, há duas pistas de pouso de pequeno porte, assim como uma lagoa seca que ofereceria espaço suficiente para que o avião descesse.

Equipes terrestres foram para a região. Até o momento, a aeronave não foi localizada.

E como estava o tempo?

O presidente do aeroclube de El Calafate, Freddy Vergnolle, disse que esteve com os brasileiros do último domingo até a quarta-feira e recomendou que eles não seguissem rumo a Trelew.

"As condições não eram muito boas, havia muita nebulosidade", afirmou ele à Rádio 3, da Argentina.

Vergnolle contou à rádio que "o tempo estava complicado" a partir de Caleta Olivia, no extremo norte de Santa Cruz, até Trelew, e sugeriu que eles aterrissassem antes, em Puerto Deseado, mais ao sul. Os brasileiros, porém, resolveram seguir o plano de voo original.

Que problemas eles podem ter enfrentado?

Vergonolle disse que os brasileiros da aeronave desaparecida chegaram a entrar em contato com uma das que iam para Puerto Madryn para dizer que "estavam carregando muito gelo" — ou seja, as asas da aeronave estavam pesadas.

O presidente do aeroclube de El Calafate disse que ouviu o alerta, pois estava em contato com a aeronave comunicada. "Logo se viu que eles entraram em uma [nuvem com] formação de gelo", afirmou ele.

Segundo ele, aviões como o do empresário "estão preparados" para voar em condições "visuais" — com o céu limpo, sem nebulosidade —, e uma situação em que há acúmulo de gelo nas asas é "complicada", pois pode fazer com que a aeronave não consiga manter estabilidade no ar.

"O gelo começa a pesar nas asas e não existe um sistema para descongelá-lo, fazendo com que rapidamente isso acabe acumulando e adicionando peso [à aeronave]", acrescentou.

Há chances de resgate?

No momento, as autoridades não descartam que a aeronave possa ter conseguido pousar em algum ponto e têm trabalhado nas buscas tanto em terra como no mar — quando as condições meteorológicas assim permitem.

"Por enquanto, não há notícias e nem rastros. Temos total esperança de que o avião tenha conseguido pousar, caso tenha sofrido um mau funcionamento", disse Mazzei à Telam.