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Nelma Kodama: Quem é a doleira famosa pela Lava Jato e presa em Portugal

26.jul.2017 - A ex-doleira Nelma Kodama, presa na Operação Lava Jato, em imagem de setembro de 2014 - Folhapress
26.jul.2017 - A ex-doleira Nelma Kodama, presa na Operação Lava Jato, em imagem de setembro de 2014 Imagem: Folhapress

Do UOL*, em São Paulo

20/04/2022 04h00Atualizada em 20/04/2022 15h09

A doleira Nelma Kodama, 55, foi presa hoje em Portugal suspeita de envolvimento com uma organização criminosa de tráfico internacional de cocaína. Nelma foi a primeira delatora da Operação Lava Jato e foi condenada a 18 anos de prisão em 2014. No entanto, em 2017, ela teve extinguida a pena de 15 anos que faltava ser cumprida graças ao indulto natalino concedido no final do ano pelo ex-presidente Michel Temer (MDB-SP).

A atuação de Nelma como doleira foi exposta em 2006, durante a CPI dos Bingos. Na ocasião, Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu, que era ministro da Casa Civil, estava sendo investigado por suposta negociação ilícita com bicheiros com o intuito de arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais.

De onde ela surgiu?

O nome de Nelma surgiu após ela ser apontada como responsável por operações irregulares em dólares em favorecimento ao PT em 2002, quando Celso Daniel era prefeito da cidade. Ela era dona da agência Havaí Câmbio e Turismo, em Santo André, na Grande São Paulo, e negou qualquer operação irregular ou destinada a políticos.

Em 2013, ela voltou a ser alvo de uma investigação da Polícia Federal iniciada em 2009, que mirava ações ilícitas na Petrobras. Nelma começou a ser monitorada pelos agentes e foi condenada em 2014, na primeira instância, a 18 anos de prisão.

Dinheiro na calcinha?

A detenção ocorreu no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Na ocasião, ela tentava embarcar para Milão, na Itália, com 200 mil euros escondidos na calcinha, segundo os policiais.

No entanto, Nelma negou que o dinheiro estava na calcinha, mas sim no bolso. "Eu acho que [essa história] aconteceu porque havia casos [de homens flagrados] com dinheiro na cueca. E precisavam de ter uma mulher com dinheiro na calcinha", disse Nelma na época.

Confissões e apreensões

Mais tarde, convocada para depor na CPI da Petrobras, em 2015, Nelma admitiu que cometeu crimes no mercado irregular de câmbio relacionados à Operação Lava Jato e afirmou ter se beneficiado da falta de controle das instituições do mercado financeiro.

"Toda essa corrupção, tudo isso que está acontecendo das empreiteiras, da Petrobras, tudo isso tem a participação do Banco Central, das instituições financeiras", acusou.

Nelma ainda teve um Porsche Cayman modelo 2010/2011 avaliado em R$ 200 mil apreendido pela Polícia Federal e leiloado pela Justiça, além dos imóveis no Hotel Villa Lobos, na zona oeste de São Paulo, que tiveram valor inicial total de R$ 5,6 milhões.

Cantando Roberto Carlos

Ela ainda causou polêmica na CPI da Petrobras ao cantar trecho da música "Amada Amante" de Roberto Carlos para explicar a relação amorosa que tinha na época com o doleiro Alberto Youssef, também investigado na Lava Jato.

Alguns deputados passaram a cantar junto com Nelma, o que irritou o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), que a repreendeu. "Nós não estamos num teatro", disse Motta. Nelma pediu desculpas e voltou a responder aos questionamentos dos parlamentares.

Em 2016, Nelma fechou acordo de delação premiada e deixou a prisão no Paraná para cumprir pena com tornozeleira eletrônica. Ela afirmou, em entrevista ao programa "Mariana Godoy Entrevista", que acreditava que o uso da tornozeleira era melhor que a cadeia. Durante a conversa, ela também contou como lidava com o aparelho no dia a dia.

"Eu uso na perna esquerda e coloco um lencinho porque quando eu saio na rua, às vezes eu quero usar um vestido, uma saia, eu não quero espantar as pessoas", revelou. "Às vezes a pessoa, uma amiga que está comigo, pode ser que alguém afronte ela e eu não quero afrontar a pessoa que está ao meu lado. Então, eu uso um lencinho que fica bem bonitinho."

Indulto natalino

Nelma deixou a tornozeleira em 2019. Ela teve a pena extinta, graças ao indulto natalino concedido no final de 2017 pelo ex-presidente Michel Temer (MDB-SP).

A doleira chegou a ser repreendida pelo juiz da Vara de Execuções Penais de Curitiba, Danilo Pereira Júnior, após publicar vídeo em que retira sua tornozeleira eletrônica no Instagram. Ela costumava publicar imagens da tornozeleira na rede social. Em uma delas, Nelma apareceu em um vestido vermelho, na ponta dos pés — ao lado, um sapato Chanel, cena que estampa o livro de memórias.

Os relatos de Nelma foram resgatadas em depoimento ao jornalista Bruno Chiarioni, no livro "A Imperatriz da Lava Jato", publicado no mesmo ano.

Novas acusações

Agora, Nelma é alvo de uma nova ação da Polícia Federal, por possível envolvimento em uma organização de tráfico internacional de drogas. As investigações da Operação Descobrimento começaram em fevereiro de 2021, quando um jato executivo de uma empresa portuguesa de táxi aéreo pousou em Salvador para ser abastecido. Na ocasião, a polícia encontrou cerca de 595 kg de cocaína escondida na fuselagem.

Por meio da apreensão, os agentes identificaram a articulação de uma organização criminosa atuante no Brasil e em Portugal. A polícia também observou que, além dos fornecedores da droga, a organização ainda era composta por mecânicos de aviação e auxiliares, transportadores e doleiros.

No Brasil, a polícia cumpre, ao todo, 43 mandados de busca e apreensão e sete de prisão preventiva. Os estados onde ocorrem a ação são Bahia, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia, Pernambuco.

Já em Portugal, a Polícia Federal está trabalhando em conjunto com agentes portugueses para cumprir três mandados de busca e apreensão, além de dois de prisão preventiva, que incluem o de Nelma Kodama.

Ao UOL, o advogado Adib Abdouni informou que a defesa ainda não irá se manifestar. O espaço segue aberto e será atualizado assim que houver novas informações.

*Com informações da Agência Estado