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Por que o papa Francisco quer ir à Moscou, mas evita visitar Kiev?

O papa Francisco se encontroy com o presidente russo, Vladimir Putin, no Vaticano, em 2015 - 10.jun.2015 - Gregorio Borgia/AFP
O papa Francisco se encontroy com o presidente russo, Vladimir Putin, no Vaticano, em 2015 Imagem: 10.jun.2015 - Gregorio Borgia/AFP

Do UOL, em São Paulo

03/05/2022 11h17Atualizada em 03/05/2022 20h44

O papa Francisco disse nesta terça-feira (3) que quer ir a Moscou conversar com o presidente Vladimir Putin sobre a guerra promovida pela Rússia em território ucraniano, mas descartou uma ida à Ucrânia neste momento. Ele, no entanto, não recebeu uma resposta do governo russo.

Francisco quer "fazer um gesto claro para o mundo inteiro ver" e falar diretamente com Putin para tentar convencê-lo a parar com a "brutalidade", embora esteja "pessimista". Segundo ele, "não há vontade suficiente para a paz", mas "a guerra é terrível e devemos gritar e fazer todos os gestos possíveis para pará-la."

"Não vou agora a Kiev [capital ucraniana]", disse, em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, publicada hoje. "Sinto que não preciso ir. Primeiro tenho que ir a Moscou, primeiro tenho que encontrar Putin. Faço o que posso, se Putin ao menos abrir uma porta."

O governo ucraniano pediu que ele fosse a Kiev, mas o papa enviou um representante.

"Eu disse: 'por favor, parem'. Pedi ao cardeal Parolin [secretário de Estado do Vaticano], depois de vinte dias de guerra, que enviasse a Putin a mensagem de que eu estava disposto a ir a Moscou", contou.

O pedido, por enquanto, foi ignorado. "Claro, era necessário que o líder do Kremlin permitisse algumas janelas", disse o papa. "Continuamos insistindo, mesmo que eu tema que Putin não possa e não queira ter este encontro agora."

Francisco lembrou que, em março, conversou com o patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, por videochamada, e fez críticas à postura do colega. Ele "não pode se transformar no coroinha de Putin", disse.

"Falei com Kirill durante 40 minutos. Os vinte primeiros, com um cartão na mão, ele me leu todas as justificativas para a guerra", lembrou. "Eu escutei e disse a ele: eu não entendo nada disso. Irmão, não somos clérigos de Estado, não podemos usar a linguagem da política, mas a de Jesus. Somos pastores do mesmo povo santo de Deus. Para isso devemos buscar caminhos de paz, para acabar com o fogo de armas".

O papa deixou claro que considera que a Rússia atacou a Ucrânia, desrespeitando um Estado livre. "Na Ucrânia, foram os outros que criaram o conflito", declarou.

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Em março, o papa Francisco conversou, por videochamada, com o Patriarca Kirill, da Igreja Ortodoxa da Rússia
Imagem: 16.mar.2022 - Vatican Media/AFP

Problemas de saúde

O papa Francisco disse ainda, na entrevista, que fará uma infiltração no joelho para combater as fortes dores que vem sentindo nos últimos meses.

"Desculpem-me se não posso me levantar para cumprimentá-los, os médicos me disseram que preciso ficar sentado por causa do joelho", afirmou ao receber os jornalistas do Corriere. "Tenho um ligamento rompido, vou fazer uma intervenção com infiltrações. Estou assim há tempos, não consigo caminhar. Antes os papas andavam com a sede gestatória [trono portátil usado antigamente por pontífices]. É preciso um pouco de dor, de humilhação...", disse.

Em abril, após usar pela primeira vez uma plataforma elevatória para entrar no avião papal, ele deu sinais de que sua saúde não está 100%, o que pode dificulta que ele viaje. Ele sofre de nevralgia ciática, uma afecção que provoca fortes dores nas pernas.

Quando o governo ucraniano pediu que ele visitasse Kiev, ele declarou que sua saúde "anda um pouco caprichosa, mas declarou que a guerra faz seu coração doer ao ponto de às vezes esquecer as dores nos joelhos.

"Algum poderoso, tristemente preso às pretensões anacrônicas de interesses nacionalistas, provoca e fomenta conflitos", disse, em uma alusão inequívoca ao presidente russo Vladimir Putin, embora sem citar qualquer nome.

Ele denunciou ainda as "seduções da autocracia e os novos imperialismos", que provocam o risco de "Guerra Fria ampliada, o que pode sufocar a vida de povos e gerações inteiras".

Nos próximos meses, no entanto, o líder católico deve ter uma agenda cheia de viagens, com visitas programadas para Líbano, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Canadá entre junho e julho. (Com agências internacionais)