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Por que as mortes de 7 magnatas russos são consideradas muito suspeitas?

Muitos executivos e bilionários de empresas ligadas ao Kremlin morreram ou sofreram tentativa de envenenamento - Thibault Camus/Pool/AFP
Muitos executivos e bilionários de empresas ligadas ao Kremlin morreram ou sofreram tentativa de envenenamento Imagem: Thibault Camus/Pool/AFP

Do UOL, em São Paulo

10/05/2022 12h40

Desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, sete oligarcas russos próximos do presidente Vladimir Putin morreram em circunstâncias suspeitas ou misteriosas: as mortes são atribuídas a suicídios ou acidentes, mas também podem ser assassinatos disfarçados, segundo observadores habituados aos métodos de vingança conhecidos do líder russo.

O caso mais recente envolveu Alexander Subbotin, 43, ex-diretor da LukOil. Todos eram executivos de empresas gigantes ligadas ao governo russo, como a estatal de energia Gazprom.

De acordo com o canal de comunicação Mash, o corpo dele foi encontrado por dois xamãs na casa deles, na cidade russa de Mytishchi, após um ritual de cura que teria utilizado veneno de sapo para curar uma ressaca.

Os dados sobre as mortes dos oligarcas tem sido compilados pela imprensa internacional, que vê semelhanças muito grandes para não levantarem suspeitas.

O fato de essas mortes terem ocorrido no contexto do conflito russo-ucraniano, que levou à multiplicação das sanções econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos contra os oligarcas russos, em particular o congelamento de seus bens, contribui para as suspeitas.

A hipótese de suicídio pode ter relação com o medo da falência, por causa das sanções ocidentais. Mas eventuais assassinatos, motivados por traição ao presidente Putin, não podem ser descartados, de acordo com analistas.

Os bilionários russos são obrigados a reafirmarem ou não a sua lealdade ao governante neste momento.

Apesar de uma eliminação feita pelos serviços de inteligência russos ser mencionada pelos parentes desses oligarcas, existe um medo claro de falar sobre esse assunto. Ninguém quer ser a próxima vítima, caso seja verdade.

O jornal Le Figaro destacou que as investigações policiais não conseguiram estabelecer claramente as circunstâncias das mortes, mas, em todos os casos, há um modus operandi.

Quem são eles?

Alexander Subbotin

Tinha 43 anos e foi diretor da LukOil, companhia petrolífera russa, membro do conselho de administração da Lukoil Trading House LLC e se tornou proprietário de uma companhia de transporte marítimo nas margens do golfo da Finlândia. Ele é irmão de Valery Subbotin, ex-vice-presidente da LukOil.

Sergey Protosenya

Ex-diretor executivo da Novatek, a segunda maior empresa de gás da Rússia, foi encontrado morto em 20 de abril, aos 55 anos, enforcado no jardim de uma mansão em Lloret del Mar, na Espanha, ao lado dos cadáveres esfaqueados de sua esposa Natalya, 53, e da filha Maria, 16 anos. A polícia espanhola investiga a hipótese de um duplo homicídio perpetrado pelo oligarca, seguido de suicídio. Protosenya tinha uma fortuna avaliada em mais de US$ 400 milhões.

Vladislav Avaev

No dia anterior, em 19 de abril, o corpo de Avaev, ex-vice-presidente do banco russo Gazprom e ex-oficial do Kremlin, e os de sua esposa e filha foram descobertos em um apartamento em Moscou com marcas de balas. Como uma arma foi encontrada ao lado do corpo de Vladislav e o apartamento estava trancado por dentro, a polícia prioriza a hipótese de suicídio.

Leonid Schulman

Diretor da Gazprom, de 60 anos, foi encontrado morto no banheiro de sua residência, em São Petersburgo, no final de janeiro. No local, foi encontrada uma carta falando sobre suicídio.

Alexander Tyulyakov

Vice-diretor da Gazprom, de 61 anos, foi encontrado enforcado em um chalé, na região de São Petersburgo. Uma carta de despedida foi encontrada.

Mikhail Watford

Um magnata do petróleo, de 66 anos, foi encontrado enforcado na garagem de sua mansão, no subúrbio de Londres.

Vasily Melnikov

Ex-funcionário da empresa de equipamentos médicos MedStom, ele foi encontrado morto em seu apartamento na cidade de Nizhny Novgorod, ao lado da esposa e dois filhos de 4 e 10 anos. Nenhum vestígio de luta ou de invasão de domicílio foi registrado.

Recentemente, o oligarca e presidente do time de futebol Chelsea, Roman Abramovich, afirmou ter sido envenenado, após apresentar sintomas depois de uma reunião na Ucrânia.

O oligarca russo Roman Abramovich - Andrew Winning/Reuters - Andrew Winning/Reuters
O oligarca russo Roman Abramovich
Imagem: Andrew Winning/Reuters

Histórico de envenenamento

Desde os anos 2000, quando ele assumiu a Presidência da Rússia, Putin é acusado de mandar envenenar opositores, uma prática quer teria sido herdada dos tempos da extinta URSS (União Soviética).

Vale lembrar que ele foi um oficial do serviço secreto soviético da KGB.

Um dos primeiros casos de envenenamento ocorrido sob seu governo ocorreu em setembro de 2004, quando o candidato da oposição à eleição presidencial ucraniana, Viktor Yushchenko, ficou gravemente doente e teve seu rosto desfigurado, mas sobreviveu.

A doença havia sido provocada por dioxina que ele teria ingerido durante uma refeição.

Relembre abaixo outros casos:

Alexei Navalny

29.set.2019 - O líder da oposição russa Alexei Navalny participa de um comício em apoio a prisioneiros políticos na rua Prospekt Sachara em Moscou, Rússia, em 2019 - Sefa Karacan / Agência Anadolu via Getty Images - Sefa Karacan / Agência Anadolu via Getty Images
Líder da oposição russa, Alexei Navalny
Imagem: Sefa Karacan / Agência Anadolu via Getty Images

O principal líder da oposição russa em 2020 foi envenenado e passou por uma longa recuperação. No começo de 2021, depois de meses fora da Rússia, ele voltou para o país pela primeira vez desde seu envenenamento e foi preso. Agora, uma onda de protestos pede sua libertação.

O governo alemão disse que Navalny foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo estivesse por trás do envenenamento. A maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O Kremlin negou as acusações de envolvimento.

Alekdandr Litvinenko

20.nov.2006 - O ex-espião russo Alexander Litvinenko, em hospital, em Londres (Inglaterra). Envenenado com o elemento radioativo polônio 210, o ex-agente da KGB morreu em 23 de novembro de 2006 e ditou uma carta acusando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de ter planejado o seu assassinato.  - AFP - AFP
O ex-espião russo Alexander Litvinenko, em hospital, em Londres (Inglaterra), quando envenenado por elemento radioativo
Imagem: AFP

Espião russo de 1988 a 1998, Litvinenko foi expulso do país ao dar uma entrevista dizendo que teria recebido a ordem de matar um ex-espião acusado de revelar segredos de Estado e sequestrar um empresário. Asilado no Reino Unido desde 2001, tornou-se crítico de Putin e jornalista.

Foi internado com uma doença repentina em 1º de novembro e morreu vítima de um ataque cardíaco 22 dias depois. Segundo a investigação britânica, foi contaminado por polônio-210 que estava no chá que tomou em um encontro com agentes russos. Moscou nega.

Alexander Perepilichny

O empresário deixou Moscou em 2009 para morar na Inglaterra. No ano seguinte, entregou a promotores suíços documentos que incriminavam altas autoridades russas em uma fraude de US$ 220 milhões ao Tesouro por meio de um fundo de investimento. Foi encontrado morto em um parque de Londres, em 2012. No ano passado, foram revelados documentos dos EUA que acusavam a Rússia de tê-lo assassinado.

Sergei e Yulia Skripal

Sergei Skripal na formatura da filha, Yulia, em 2001 - Handout via The New York Times - Handout via The New York Times
Sergei Skripal na formatura da filha, Yulia, em 2001
Imagem: Handout via The New York Times

Serguei foi agente de inteligência russo até 1999 e, após serviu ao serviço secreto britânico nos últimos quatro anos, foi descoberto e condenado a 13 anos de prisão por alta traição. Em 2010, numa troca de espiões com os EUA, passou a morar no Reino Unido. Até que um dia foi encontrado inconsciente ao lado da filha num banco de um centro comercial da cidade inglesa de Salisbury. Eles sobreviveram. O governo britânico disse que eles foram envenenados com o agente químico Novitchok.

Pyotr Verzilov

21.jul.2018 - Pyotr Verzilov é acompanhado pela polícia a uma audiência na Justiça por invadir campo de futebol durante a Copa na Rússia - Vasily Maximov/AFP - Vasily Maximov/AFP
Pyotr Verzilov perdeu a fala, a visão e a capacidade de andar após audiência
Imagem: Vasily Maximov/AFP

Ativista do grupo Pussy Riot, Verzilov invadiu o campo do Estádio Olímpico Lujniki, em Moscou, na final da Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Após uma audiência judicial, subitamente perdeu a fala, a visão e a capacidade de andar. Foi internado em Moscou e, cinco dias depois, transferido para Berlim, onde um médico disse que teria sido envenenado por um agente desconhecido. (Com agências internacionais)