Entidades brasileiras enviam carta a Biden repudiando convite a Bolsonaro
Entidades brasileiras enviaram hoje uma carta ao presidente norte-americano, Joe Biden, repudiando o convite do estadunidense ao mandatário Jair Bolsonaro (PL) para uma reunião bilateral em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas. Os homólogos devem se reunir nesta semana.
A carta foi assinada por 71 entidades da sociedade civil, entre elas: APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), ABJD (Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia), Greenpeace Brasil, Instituto Marielle Franco, Instituto Sou da Paz, Instituto Vladimir Herzog, MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), e SOS Mata Atlântica.
Segundo a carta, as entidades temem que Bolsonaro use o encontro para "alegar falsamente que a administração Biden endossa seus ataques à democracia, eleições livres e justas, [ações no] meio ambiente, ciência, direitos humanos básicos e a Floresta Amazônica".
Sr. Biden, o homem que você convidou para um diálogo especial é um anátema de valores críticos que a maioria dos americanos estima. Enquanto você busca o controle de armas com bom senso nos EUA, o Sr. Bolsonaro está introduzindo mais armas na sociedade brasileira e promovendo grupos paramilitares; enquanto suas políticas de pandemia pretendiam abraçar a ciência, Bolsonaro tratou as máscaras e vacinação - especialmente para crianças - com hostilidade. Carta enviada por entidades brasileiras ao presidente dos EUA
O texto também destaca os índices da inflação brasileira, da fome, a violência e o aumento do desmatamento do território nacional, destacando que o presidente estaria "ensaiando um golpe" nas eleições de outubro. Bolsonaro é fã declarado do antecessor de Biden, Donald Trump, derrotado no pleito de 2020 e que alegou, de forma infundada, que houve fraude generalizada na eleição presidencial norte-americana.
"Bolsonaro está atacando nossa Suprema Corte [o STF] e lançando as bases para desacreditar as próximas eleições e matar a democracia na América Latina. Estamos nos preparando para a versão de Bolsonaro se ele perder a reeleição. Entendemos seus objetivos de unir as Américas por meio da Cúpula, especialmente em face da crise na Europa. No entanto, enviamos esta carta para incitá-lo, durante sua reunião, a defender firmemente a democracia, eleições livres e justas, ação climática e a proteção essencial da floresta tropical."
No fim do texto, apontando para a "queda da democracia" em caso de reeleição de Bolsonaro, a carta discorre que os esforços de Biden na Cúpula das Américas ocorrerão "em vão". O documento discorre sobre a condenação da floresta amazônica em caso da reeleição do atual chefe do Executivo brasileiro.
"Qualquer acordo com o Brasil sobre a Amazônia deve envolver a sociedade civil. As conversas só devem se mover avançar quando o Brasil provar seu compromisso com a proteção da floresta, reduzindo as taxas de desmatamento e interrompendo os esforços políticos para enfraquecer as leis ambientais por meio de várias propostas de lei que são apoiadas pelo Sr. Bolsonaro. Esperamos que seus valores e princípios o guiem a fazer as melhores decisões para o futuro da democracia, cooperação, paz, amizade e liberdade em nosso continente", finaliza o texto.
Bolsonaro diz ter 'pé atrás' com eleição nos EUA em 2020
O presidente Jair Bolsonaro disse hoje ter informações que o deixam "com o pé atrás" com a eleição que resultou na vitória do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em 2020.
"Quem diz [sobre fraude nas eleições dos EUA] é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhe na soberania de um outro país. Agora, o Trump estava muito bem e muita coisa chegou para a gente que a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil", afirmou Bolsonaro em entrevista ao SBT News.
Trump contestou os resultados na Justiça norte-americana e teve todos seus pedidos rejeitados pelo Judiciário. Bolsonaro, que disputará a reeleição em outubro, também questiona sem apresentar fundamentos o sistema eletrônico de votação no Brasil.
Na entrevista, Bolsonaro disse que o encontro com Biden, que ocorrerá nesta semana, pode ser um recomeço nas relações entre Brasília e Washington, a depender da dinâmica que o presidente dos EUA adotar no encontro.
Indagado se Biden pode pressioná-lo sobre a questão ambiental, especialmente o desmatamento da Amazônia, Bolsonaro disse não acreditar que isso irá ocorrer.
"Ele não vai, no meu entender, querer impor algo sobre o que eu devo fazer na Amazônia. Acho que ele me conhece, deve ter informações de quem me conhece", afirmou.
*Com Reuters
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