Quem é Nancy Pelosi, congressista dos EUA em Taiwan que enfurece China
A autoridade norte-americana que desencadeou a mais recente crise entre os Estados Unidos e a China por sua visita à ilha de Taiwan não é o presidente Joe Biden e sim Nancy Pelosi, considerada uma das mais influentes mulheres na política dos EUA.
Aos 82 anos, Pelosi ocupa pela terceira vez o cargo de presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o que a torna a segunda na linha sucessória da presidência dos EUA.
Com a viagem, ela encerra um período de 25 anos sem visitas de presidentes da Câmara dos Representantes a Taiwan e abre um novo capítulo na já tensa situação da ilha autogovernada considerada pela China como seu território "rebelde".
A "pivô" da nova crise
Apesar de ter tradição política de berço — seu pai, Thomas D'Alessandro Jr, foi prefeito da cidade de Baltimore por 12 anos e congressista por cinco mandatos —, ninguém na família conseguiu tanto destaque na vida pública como a filha mais nova, Nancy.
Após se formar em Ciências Políticas na Trinity College, em Washington D.C, em 1962, ela passou a construir sua carreira no Partido Democrata.
Congressista por São Francisco (Califórnia) há 35 anos, Pelosi está de volta à presidência da Câmara desde 2019, primeiramente liderando a oposição contra o governo do então presidente Donald Trump — que a recolocou no papel de um dos mais famosos desafetos dos republicanos no Congresso.
O sentimento era recíproco: foi Nancy Pelosi quem deu início e aprovou dois processos de impeachment contra Trump — ele seria absolvido pelo Senado — e quem rasgou o discurso do Estado da União feito por ele em 2020, um vídeo que passou a integrar a crônica política americana contemporânea.
Mas Nancy Pelosi já era figura importante da política americana à época devido a sua condução da Câmara em seu primeiro mandato na presidência — a única mulher até então a presidir uma das casas legislativas dos EUA.
Em 2009, ela articulou a aprovação do pacote de estímulos que buscava resgatar os Estados Unidos da recessão de 2008, causada após a queda da bolha imobiliária dos EUA. Pelosi também trabalhou para que o ex-presidente Barack Obama aprovasse um dos programas mais marcantes de seus dois mandatos: o "Affordable Care Act", conhecido como Obamacare, que buscou baratear os planos de saúde para a população.
No governo de Joe Biden, Pelosi é a responsável por articular a aprovação dos planos do democrata na Câmara, especialmente os pacotes de recuperação econômica pós-pandêmicos, como o "Build Back Better". O plano destinou US$ 1,9 trilhões para políticas que aliviassem o impacto da Covid-19 na economia dos EUA.
Em paralelo, Nancy Pelosi também é uma das maiores arrecadadoras para o Partido Democrata nos EUA: uma contabilidade de seu gabinete feita entre 2002 e 2019 demonstrou que ela tinha recebido US$ 815 milhões para o partido e seus congressistas até então.
No campo ideológico, Pelosi alinha-se com políticas consideradas progressistas, como a defesa do aborto — ela definiu como "cruel e escandalosa" a decisão da Suprema Corte em reverter o direito federal ao procedimento — e causas em favor de portadores de HIV — ela é conhecida por apresentar e aprovar leis de acolhimento durante o início da pandemia do vírus nos anos 80.
Ela também foi contra a Guerra do Iraque, iniciada no governo de George W. Bush, e é crítica ao embargo dos EUA nos moldes atuais a Cuba.
Pelosi e a China
Nancy Pelosi também tem um histórico de críticas contra o governo chinês e apoiou os manifestantes pró-democracia em Hong Kong nos anos recentes.
Em 1991, a política esteve na Praça da Paz Celestial, local do massacre de 1989 em Pequim, com um pequeno cartaz que homenageava "aqueles que morreram pela democracia", dizia o texto. O movimento feito com outros dois parlamentares dos EUA durou pouco e foi interrompido pela polícia chinesa.
"Há 28 anos, nós viajamos à Praça da Paz Celestial para honrar a coragem e o sacrifício dos estudantes, trabalhadores e cidadãos que lutaram pela dignidade e direitos humanos que todos os povos merecem", escreveu a congressista em 2019, no aniversário do massacre.
Desde a década de 1990, Pelosi foi contra propostas da China para sediar os Jogos Olímpicos e apoiou o boicote diplomático de Biden aos Jogos de Inverno deste ano.
"Escolha entre autocracia e democracia"
Ao desembarcar, Pelosi publicou no Twitter que a visita "honra o compromisso inabalável dos EUA em apoiar a vibrante democracia de Taiwan", reproduzindo parte de um comunicado oficial emitido pelo seu gabinete.
No comunicado, a democrata nega que a visita contrarie a política adotada atualmente pelos EUA em relação à ilha, evocando o Ato de Relações com Taiwan, decretado pelo Congresso dos EUA em 1979, que orienta as bases das relações diplomáticas entre o país e a ilha.
Nossas discussões com a liderança de Taiwan reafirmam nosso apoio ao nosso parceiro e promovem nossos interesses compartilhados, incluindo o avanço de uma região do Indo-Pacífico livre e aberta
"A solidariedade americana com os 23 milhões de taiwaneses é hoje mais importante do que nunca, pois o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia", finaliza o texto.
Our delegation's visit to Taiwan honors America's unwavering commitment to supporting Taiwan's vibrant Democracy.
-- Nancy Pelosi (@SpeakerPelosi) August 2, 2022
Our discussions with Taiwan leadership reaffirm our support for our partner & promote our shared interests, including advancing a free & open Indo-Pacific region.
*Com informações da Reuters e AFP
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