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Gasto com 'racismo e sexismo': Liz Truss tem histórico de falas polêmicas

Liz Truss em primeiro discurso após ser eleita nova líder do Partido Conservador, o que faz dela a próxima primeira-ministra do Reino Unido - HANNAH MCKAY/REUTERS
Liz Truss em primeiro discurso após ser eleita nova líder do Partido Conservador, o que faz dela a próxima primeira-ministra do Reino Unido Imagem: HANNAH MCKAY/REUTERS

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL

06/09/2022 13h11

Escolhida para ser a nova primeira-ministra britânica, Liz Truss já deu algumas declarações polêmicas durante a sua trajetória política. Aos 47 anos, a então ministra das Relações Exteriores foi anunciada para suceder Boris Johnson no posto de líder do Partido Conservador e comandar o Reino Unido.

Entre as citações controversas, estão afirmações sobre a produtividade dos britânicos, a importação de queijo e a política econômica do país. Também houve declarações sobre os líderes da França, Emmanuel Macron, e da Escócia, Nicola Sturgeon.

Produtividade dos trabalhadores

Foi divulgado pelo The Guardian em agosto um áudio de Liz Truss quando ela era secretária-chefe do Tesouro, cargo que ocupou até 2019. Na gravação, ela disse que a "mentalidade e atitude" dos trabalhadores britânicos eram parte do motivo de produzirem menos por hora do que seus colegas estrangeiros.

"Essencialmente, é em parte uma mentalidade e atitude, eu acho. Sim, é basicamente a cultura de trabalho. Se você for para a China, é bem diferente, posso garantir?", disse ela, no áudio vazado.

"Há uma questão fundamental da cultura de trabalho britânica. Essencialmente, se quisermos ser um país mais rico e mais próspero, isso precisa mudar. Mas eu não acho que as pessoas estão tão interessadas em mudar isso", continuou.

Ao comentar a diferença de produtividade em Londres em relação a outras regiões do Reino Unido, ela disse: "Se você olhar para a produtividade, é muito, muito diferente em Londres do resto do país".

Ainda segundo o The Guardian, Londres teve o maior nível de produtividade de qualquer região do Reino Unido em 2020, com produção por hora mais de 50% maior do que a média, de acordo com o Office for National Statistics, o Instituto Nacional de Estatísticas Britânico.

O vazamento do áudio de Liz Truss foi antes de um evento de liderança conservadora em Perth, em que ela foi questionada sobre a gravação.

Ao ser indagada por Colin Mackay, editor político do canal STV, se ela ainda apoiava essas observações, Truss disse: "Não sei o que você está citando, [mas] o que precisamos neste país é mais produtividade e nós precisamos de mais crescimento econômico".

"O problema é que não temos investimento de capital suficiente, por isso é importante obter mais investimentos na indústria de uísque e no Mar do Norte", acrescentou.

Imigração irregular

Truss também já deu declarações que apontam um posicionamento mais rígido quando se trata de imigração irregular. Nesse ponto, ela tem uma visão alinhada com o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, também do Partido Conservador, que disputou com ela a sucessão de Boris Johnson.

De acordo com informações da Folha, entre as medidas defendidas por Truss estão a ampliação da política de deportação para outros países e o acréscimo de 20% nas forças que controlam as fronteiras. Ela também demonstrou o desejo de "não se acovardar" em contraposição à Corte Europeia de Direitos Humanos.

"A política de Ruanda é correta. Estou determinada em promover sua implementação completa e também a buscar outros países para parcerias semelhantes", disse.

Antiga escola

Durante a campanha para se tornar premiê, Truss se envolveu em uma polêmica ao reclamar de sua antiga escola, localizada em Leeds, também de acordo com a Folha. Para ela, muitas crianças da instituição estavam desiludidas com a baixa qualidade da educação do local.

Depois de declarações de Truss que sugeriam que a escola era "vermelha", foi revelado que o Partido Conservador foi o responsável por controlar a política educacional de Leeds entre os anos de 1955 e 1997, incluindo os anos em que a nova premiê estudou no local.

"Enquanto fomos ensinados sobre racismo e sexismo, gastamos muito pouco tempo para garantir que todos pudessem ler e escrever", disse ela, em outra referência à escola, em um discurso em 2020, segundo o The Yorkshire Post.

"Em vez de promover políticas que teriam mudado o jogo para os desprivilegiados, como melhores oportunidades de educação e negócios, houve uma preferência por gestos simbólicos", completou.

Importação de queijo

Liz Truss foi ministra de Meio Ambiente entre os anos de 2014 e 2016. De acordo com informações da BBC News, na convenção do Partido Conservador do ano de 2015, Truss foi duramente criticada por um discurso que ela fez sobre a importação do queijo no país.

"Nós importamos dois terços do nosso queijo. Isso é a desgraça", afirmou a então ministra.

Benefício aos mais ricos

Ainda em relação às medidas que pretende adotar na economia, Truss foi questionada sobre o assunto em entrevista ao programa "Sunday with Laura Kuenssberg", da BBC. Na ocasião, Truss viu um gráfico que detalhava o impacto do seu plano de reduzir a carga tributária. Os mais ricos seriam os mais beneficiados, conforme a projeção.

Segundo o The Huffington Post, ela foi questionada se é justo devolver mais dinheiro às pessoas mais ricas e respondeu: "É justo. Prometemos em nosso manifesto que não aumentaremos o seguro nacional".

Truss acrescentou: "As pessoas no topo da distribuição de renda pagam mais impostos, então, inevitavelmente, quando você reduz os impostos, tende a beneficiar as pessoas com maior probabilidade de pagar impostos".

Presidente francês Emmanuel Macron

Mais uma declaração polêmica de Truss foi em relação ao presidente francês, Emmanuel Macron. De acordo com o Publico, Liz Truss foi questionada por uma jornalista em uma sessão do Partido Conservador em Norwich: "Macron, amigo ou inimigo?".

Truss rebateu: "O júri ainda está em deliberações". "Se me tornar primeira-ministra, vou julgá-lo pelos seus atos e não pelas suas palavras", completou.

Horas depois, Macron replicou a declaração de Truss. "O povo britânico, a nação que é o Reino Unido, é uma nação amiga, forte e aliada, quaisquer que sejam os seus dirigentes, e por vezes, apesar dos seus dirigentes ou dos pequenos erros que possam fazer em declarações públicas", afirmou Macron.

"Se não somos capazes, entre franceses e britânicos, de dizer se somos amigos ou inimigos — o termo não é neutro — vamos ter problemas graves", defendeu o presidente francês.

Primeira-ministra da Escócia Nicola Sturgeon

Outra declaração polêmica de Truss foi em relação à primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, que lançou uma campanha pela independência do Reino Unido. "Acho que a melhor coisa a fazer com Nicola Sturgeon é ignorá-la", disse, durante um evento em Exeter, de acordo com a BBC News UK.

"Ela [Nicola] é uma buscadora de atenção, é isso que ela é", afirmou. "O que precisamos fazer é mostrar ao povo da Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales o que estamos entregando para eles e garantir que todas as nossas políticas governamentais sejam aplicadas em todo o Reino Unido", declarou Truss.